Filipe Almeida: “Portugal Inovação Social apoiou 700 projetos numa década”
Celebra-se esta segunda-feira uma década de inovação social, apoiada por fundos públicos através da Portugal Inovação Social, uma estrutura de missão, criada em 2014, que funciona na Presidência do Conselho de Ministros. Para o seu presidente, Filipe Almeida, o balanço é festivo: “Em dez anos, a agência aprovou 698 projetos de 481 organizações, de perfil muito diversificado entre empresas, fundações, IPSS e 106 municípios”, revelou Filipe Almeida em entrevista ao DN/Dinheiro Vivo.
Responsável pela coordenação e aprovação dos projetos cofinanciados por fundos comunitários, a Portugal Inovação Social já canalizou um total de 101 milhões de euros no âmbito do programa Portugal 2020, a que acresceram 51 milhões de investimento social, disse Filipe Almeida. O modelo português foi pioneiro a nível global, sendo a primeira agência de políticas públicas de inovação social financiada pelo Fundo Social Europeu. Para o programa que vai vigorar na próxima década, o PT2030, “o orçamento vai manter-se em torno dos 100 milhões de euros para os cinco programas regionais, que agora são geridos pelas regiões”, adiantou o responsável. O financiamento passa a contemplar também o investimento em incubadoras de projetos de inovação, tendência que se firmou no período mais recente com mais de três dezenas de incubadoras apoiadas.
“Decidiu-se alargar o financiamento também a incubadores para ter um efeito multiplicador no território”, explicou Filipe Almeida.
Segundo aquele gestor, “o interesse das empresas por esta área está a crescer e há um novo olhar sobre o que é e pode ser a responsabilidade social corporativa, agora falta transferir conhecimento e estratégia”. Mas o dado mais surpreendente é o envolvimento de mais de uma centena de municípios em projetos de inovação social. “É uma revolução ao nível do governo local, os municípios têm a firme intenção de testar soluções inovadoras, o que é importante porque podem inspirar políticas públicas”. Tornaram-se “parceiros virtuosos da inovação social”.
Uma prova desse interesse crescente é o número de candidaturas aos avisos que têm sido lançados ao longo desta década: foram 1166 os projetos candidatos aos fundos disponíveis, o que representa uma média superior a uma centena por ano, disse o ex-professor de Economia da Universidade de Coimbra, doutorado em Administração.
Em causa estão projetos tão diversos e inspiradores como um código para ajudar daltónicos a perceber as cores, um método inovador que ensina o alfabeto braile em língua estrangeira, soluções inovadoras para o ensino da língua a migrantes, a melhoria das condições de vida de pessoas com deficiência ou novos métodos pedagógicos que melhoram resultados escolares, só para citar alguns exemplos.
Uma ação preventiva
Mas o que distingue afinal a inovação social? “É uma inovação focada no impacto social”, precisa Filipe Almeida. Por outro lado, “é um ecossistema que resulta de um conjunto de experiências e iniciativas transversais a vários setores, mas que visam beneficiar a comunidade, ter um impacto social positivo”. “Pode ser para melhorar a situação de pessoas em situação mais vulnerável ou combater desigualdades para que todos possam aproveitar e atingir o seu potencial”, observa.
Filipe Almeida gosta de dizer que “a inovação social tem sobretudo um caráter preventivo”. Tanto “pode ajudar a resolver o problema de quem tem fome, no imediato, como visa dar ferramentas para que não seja preciso passar fome. Em suma, trata-se de arranjar soluções na raiz dos problemas”.
Quando falamos de inovação é difícil traçar um perfil-tipo das entidades que a promovem. “Isso é coisa que não existe, a abrangência é muito transversal, desde cooperativas, fundações, universidades, empresas ou IPSS”. Mas cerca de 90% dos projetos são do setor social, o que não quer dizer necessariamente IPSS, porque o setor social também inclui universidades e empresas, salienta o homem que percorre o país de norte a sul para conhecer muitos dos projetos que aprova.
“Como disseminar as boas soluções encontradas e fazer os projetos ganharem escala é o desafio que se coloca agora”, pois, como lembra o presidente da Portugal Inovação Social, “ainda não temos mecanismos eficazes de políticas públicas”, havendo apenas uma dezena de exemplos. Nesse sentido vê a ricem criada Rede de Capital Social como “uma proposta que pode ajudar a dar direção e estratégia à filantropia”. Porque é necessária uma abordagem de cocriação e envolver os destinatários nas soluções para que a inovação floresça.
A Portugal Inovação Social foi um marco para alavancar a criatividade nesta área. “No momento em que se negociava o PT2020, o então ministro Adjunto e do Desenvolvimento Regional, Miguel Poiares Maduro, propôs a integração desta área no FSE, o que nunca tinha sido testado na UE.” Até então, as iniciativas eram dispersas. Há 15 anos, o BPI foi dos primeiros a ter um prémio de inovação social, seguiram-se o LIDL, Fidelidade, Cooperativa António Sérgio e outros, lembra. Em 2009 surgiu a escola de empreendedorismo social - IES, Social Business School, que formou quadros importantes para o desenvolvimento da inovação em Portugal.
“O que a experiência nos revela é que a inovação social tem uma capacidade transformadora do país político e do país social”. É também essa alquimia que anima o homem que estudou Ética e Comportamento a continuar apaixonado pela inovação. “Move-me a capacidade de fazer a transformação positiva na vida das pessoas concretas. Às vezes podemos minorar o sofrimento dos outros com criatividade e estratégia”.