Famílias estão a comprar mais, mas há 28% com dificuldade em chegar ao fim do mês
A estabilização da inflação traz otimismo aos portugueses e a prová-lo está o arranque de 2025 no setor dos bens de grande consumo. As famílias estão a comprar mais, em quase todas as categorias, com exceção dos artigos de moda, que perdem 11,2% face ao primeiro trimestre de 2024, e dos produtos de limpeza caseira que estão 2,5% abaixo. O consumo no lar sobe 2,5% e fora de casa 4,8%. Mesmo assim, e apesar de serem menos do que em 2024, ainda há 28% das famílias que assumem terem dificuldade em chegar ao fim do mês. O ano passado eram mais de um terço dos inquiridos.
Os dados são do Painel de Lares da Kantar, relativos ao primeiro trimestre do ano, e analisados em conjunto com a Centromarca - a Associação Portuguesa de Empresas de Produtos de Marca, que conta com 60 associados responsáveis por mais de mil marcas e 28 mil empregos - e mostram, antes de mais, que os portugueses passaram a ir menos vezes às compras (com uma diminuição igual ou superior a 2,5%), mas trazem mais artigos em cada ida e gastam mais, naturalmente.
O volume das cestas, medido em quilogramas, e o gasto em cada compra cresceram acima dos 2,5% face ao período homólogo. Pedro Pimentel, diretor-geral da associação, lembra, precisamente, que um dos sinais de crise, e que esteve patente, nos últimos dois anos, com o disparar da inflação, é que, com menos dinheiro no bolso, o consumidor tende a ir ao supermercado mais vezes, trazendo o estritamente necessário.
O gasto médio por cada ida às compras ronda os 22 euros e 47,2% desse valor é referente a produtos de marca própria ou marca da distribuição.
Para a Kantar e para a Centromarca, apesar de haver alguma recuperação do poder de compra, decorrentes do abrandamento da inflação, mas também por ganhos salariais e questões fiscais, como a redução do IRS, há estratégias das famílias que vieram para ficar, como esta questão da escolha de produtos das marcas próprias dos retalhistas.
Pedro Pimentel mostra-se confiante no desenvolvimento do negócio, destacando que o início positivo de 2025 é “um sinal encorajador” para todo o setor, mas deixa recado à grande distribuição. “Para que este dinamismo se consolide, é fundamental que retalhistas e fabricantes trabalhem em sintonia, valorizando a oferta diferenciada e a inovação que as marcas de fabricantes trazem, para que possam responder a um consumidor que procura ativamente qualidade e novas propostas.”
Não admira, só nos últimos três anos, as marcas de fabricantes viram a sua quota total de mercado cair dos 59,2% para os atuais 51,9%. São quase oito pontos percentuais num mercado que vale quase 20 mil milhões de euros ao ano. Ou seja, os fabricantes perderam, grosso modo, desde o primeiro trimestre de 2022 e o atual, mais de dois mil milhões de euros.
Parte desta perda tem também a ver com a entrada de novos players, como a Mercadona ou o Aldi, que se vieram juntar ao Lidl, naquilo que o setor designa por formatos de sortido curto. Ou seja, retalhistas onde praticamente só encontramos as suas próprias marcas. Mas o estudo da Kantar mostra, também, que não há grande fidelização dos consumidores portugueses a este ou aquele retalhista. Na verdade, 84,2% das famílias compram tanto nestes supermercados de sortido curto, como nos retalhistas mais tradicionais, consoante o que lhes agrada mais num formato e no outro. E 48,7% dos inquiridos - com especial destaque para os mais jovens - dizem-se dispostos a ir mais longe para fazerem as suas compras num supermercado que lhes agrade.
Inquérito da Kantar mostra que os consumidores portugueses estão “cada vez mais dinâmicos e proativos”. Quase metade dos inquiridos (48,7%) estão dispostos a deslocar-se a lojas mais distantes para obter produtos que valorizam.
“Esta é uma evolução natural e saudável do mercado retalhista, onde diferentes formatos encontram o seu espaço e se complementam”, refere Marta Santos, diretora da Kantar, sublinhando que, com esta dinâmica, tanto ganham os operadores como os consumidores.
O estudo da Kantar é baseado nas respostas de um painel de 4000 lares de Portugal continental e foram obtidas em mais de 1000 pontos de sondagem.