Exportações de calçado deverão ter caído 6,5% em 2024 para 1.702 milhões de euros
Os números finais do comércio internacional só serão divulgados a 10 de fevereiro, mas, com base nos dados preliminares já disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estatística, a associação portuguesa do calçado, a APICCAPS, estima que as exportações do setor em 2024 terão crescido 3,3% em volume e caído 6,5% em valor. No total, terão sido exportados 67 milhões de pares no valor de 1.702 milhões de euros. Serão 119 milhões de euros a menos do que em 2023.
“É o reflexo da dinâmica do mercado. O ano que terminou foi muito difícil no plano externo. Por um lado, é notório um abrandamento dos principais mercados internacionais, nomeadamente Alemanha e França, que afetou os principais protagonistas do setor, e as nossas empresas. Depois, começa a ser percetível a estratégia do setor de diversificar a oferta de produtos, ainda que muitas vezes recorrendo à subcontratação no exterior, a exemplo do que já fazem os nossos principais concorrentes internacionais”, afirma, citado em comunicado, o presidente da APICCAPS, Luís Onofre.
Assim, as exportações de calçado em couro, segmento em que Portugal sempre deu 'cartas', recuaram 7% para 39 milhões pares, enquanto que as exportações de calçado em outros materiais (impermeável, plástico ou têxtil) aumentaram 22,6% para 28 milhões da pares. A questão é que os sapatos em couro são substancialmente mais caros que os de outros materiais, levando a que, apesar do crescimento a dois dígitos destes, não consigam cobrir as perdas no segmento mais premium. O calçado de couro assegurou 1.414 milhões de euros, os outros materiais ficaram-se pelos 288 milhões.
Alemanha é o principal mercado de destino
“Ainda que acreditemos que o calçado em couro seja a melhor solução do mercado, porque é um produto natural, tecnicamente mais robusto e consideravelmente mais sustentável, na medida em que apresenta um período de vida mais longo, temos feito um esforço considerável para investir numa nova geração de produtos, nomeadamente no âmbito do projeto Bioshoes4all e esse é um caminho que deveremos aprofundar”, acrescenta Luís Onofre. Tendo por objetivo principal promover a transição da indústria do calçado para a bioeconomia sustentável e circular, o Bioshoes4all é uma das agendas mobilizadoras no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência que envolve 70 parceiros e um investimento de 70 milhões de euros.
Em termos de destinos, a Europa continua a ser o “mercado natural” para o calçado português. Para a Alemanha foram 14 milhões de pares, no valor de 383 milhões de euros, para França 15 milhões de pares no valor de 348 milhões de euros e para os Países Baixos cinco milhões de pares, no valor de 195 milhões de euros. O Reino Unido, refere ainda a APICCAPS, “continua a ser um mercado de excelência” para o calçado português, com três milhões de pares, no valor de 113 milhões de euros. Já para os EUA, mercado onde as vendas de calçado made in Portugal cresceram 25% nos últimos três anos, foram dois milhões de pares, no valor de 94 milhões de euros.
Extraordinários foram os números dos artigos de pele que deverão ter fechado o ano com novo máximo histórico. Estima a APICCAPS que o setor exportado bens no valor de 351 milhões de euros, um aumento de 8,5% face ao ano anterior. Cerca de metade deste valor corresponde a 'malas e bolsas', segmento que cresceu 10,6% para 175 milhões de euros.
Perspetivas moderadas para 2025
Quanto a 2025, a APICCAPS estima que o consumo mundial do calçado deverá crescer 8,4%, mas de forma desigual. A expectativa é que o consumo cresça significativamente na Oceânia (+25%), em África (+13,3%), na Ásia (+9,2%) e na América do Norte (+8,3%). A Europa, o mercado de referência para o calçado português, deverá estagnar, com um evolução estimada de 0,5%.
Luís Onofre antecipa um ano “muito exigente, na medida em que as principais economias mundiais continuam a dar sinais de forte estagnação.” e fala em “muitos sinais de incerteza”. E, por isso, defende, “temos de continuar o esforço de procurar novos mercados, pois só com uma atitude proativa no desenvolvimento de novos produtos e conquista de novos clientes poderemos atenuar um momento conjuntural particularmente complexo”.