Alemanha, Espanha e França são os principais mercados externos da metalurgia nacional. LEONEL DE CASTRO/GLOBAL IMAGENS
Alemanha, Espanha e França são os principais mercados externos da metalurgia nacional. LEONEL DE CASTRO/GLOBAL IMAGENS

Exportações do setor do metal batem recorde e chegam aos 24 mil milhões de euros

Apesar de o ritmo de crescimento ter abrandado, as empresas de metalurgia e metalomecânica reforçam em 2023 a posição de campeãs das exportações nacionais. Calçado e têxteis fecharam o ano em terreno negativo.
Publicado a
Atualizado a

Com 2301 milhões de euros vendidos ao exterior, o mês de novembro entrou diretamente para o quarto lugar no top 10 dos melhores meses de sempre das exportações da indústria metalúrgica e metalomecânica. No acumulado dos 11 meses, o Metal Portugal está a crescer 4,9% e chegou aos 22.394 milhões de euros, o que permite já antecipar que o setor vai fechar 2023 a bater o recorde do ano anterior e a atingir a fasquia dos 24 mil milhões de euros.

“São dados muito positivos. Apesar de novembro ter sido o quarto mês consecutivo com uma redução homóloga, estamos a falar de um valor absoluto muito alto, o quarto melhor de sempre, e uma variação quase residual de menos 1,75%. São números muito bons e confirma-se o que antecipávamos já no início do ano, que chegaremos aos 24 mil milhões de euros e que 2023 será o melhor ano de sempre”, afirmou, em declarações ao DN/Dinheiro Vivo, o vice-presidente da AIMMAP, a associação do setor.

Rafael Campos Pereira diz, no entanto, que o Metal Portugal “não embandeira em arco”, porque as questões que têm gerado preocupação se mantêm, com a Alemanha, Espanha e França, os três maiores mercados para a fileira, a manterem-se “mais ou menos instáveis”. A que se soma a indefinição política nacional, que “agrava as apreensões” do setor. Do próximo governo, a AIMMAP espera que mexa nos impostos, reduzindo o IRS, “para retermos mais trabalhadores”, e “repensando o IRC”, de modo que “haja mais empresas a pagar mais impostos” em Portugal. 

Uma medida que este responsável, que é também vice-presidente da CIP, acredita que tornaria a maioria das empresas “mais competitiva” e que “evitaria que muitas delas, designadamente as multinacionais, pratiquem preços de transferência, o que vai seguramente gerar uma dinâmica maior e contribuir para o aumento dos salários”.

Menos positivos são os dados das indústrias da moda, que estão ainda a sofrer os impactos da pandemia e da crise inflacionista que se seguiu. É o caso da fileira têxtil e do vestuário, que regista, no acumulado do ano, uma quebra de 5%, para 5396 milhões de euros, comparativamente ao período homólogo, muito influenciado ainda pelos primeiros meses do ano. Na verdade, o mês de novembro trouxe “indícios de recuperação” na fileira, com o setor a registar apenas uma quebra homóloga de 1%, um valor que não ilustra a recuperação das exportações no vestuário, que cresceu já 2%, e nos têxteis-lar, com um acréscimo de 11%. Já as matérias têxteis caíram 11% face a novembro de 2022.

O setor espera fechar 2023 com uma quebra de 5% face aos 6122 milhões exportados em 2022, ano em que registou um crescimento homólogo de 13,1%. “Este ano não chegaremos aos seis mil milhões, mas há que ter em conta que as importações da Europa caíram 12% e as exportações portuguesas para a Europa caíram só 5%, o que significa que estamos a ganhar quota, mas é um mercado que está a encolher”, frisa o presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP).

Mário Jorge Machado relata “algumas perspetivas de melhoria”, à medida que níveis excessivos de stocks criados pelos clientes durante a pandemia tendem a normalizar. O problema, admite, é que as vendas “não estão a crescer ao ritmo que seria desejável”. Este responsável esteve na semana passada na Heimtextil, em Frankfurt, a primeira grande feira desta área em 2024, e fala num sentimento geral de expectativa. No entanto, lembra que a instabilidade a nível internacional, agravada com os recentes ataques a navios comerciais no mar Vermelho, tem efeitos negativos na economia e nos negócios.

Sobre as notícias recentes que dão conta de um aumento dos despedimentos e das situações de lay-off em Portugal, a ATP garante não ter dados sobre as empresas do setor, que terão, eventualmente, recorrido a medidas como esta. No entanto, o responsável admite que as dificuldades são “transversais a todas as indústrias” e que, perante a “diminuição das grandes encomendas, as empresas têm que se ajustar”. O problema, vinca, é que a legislação em Portugal é “ muito rígida” e “dificulta este ajustamento”. “Os sistemas rígidos são inimigos do crescimento económico”, argumenta. Do próximo governo pede “boas leis, que permitam que a economia seja flexível para haver crescimento”.

Também as exportações da indústria do calçado estão em queda. No acumulado dos 11 meses, o setor vendeu ao exterior 62 milhões de pares, no valor de 1727 milhões de euros, uma quebra de 11,7% em quantidade e de 7,5% em valor, e que corresponde, grosso modo, à quebra prevista para o total do ano. 2022 foi o melhor ano de sempre do setor, que cresceu 10,5% em quantidade e 20,2% em valor e passou, pela primeira vez, a barreira dos dois mil milhões de euros vendidos ao exterior.

A performance este ano está aquém do desejado, mas em linha com as dificuldades na economia mundial. “Os cinco principais produtores mundiais estão com quebras significativas. No primeiro semestre, o Brasil ainda estava a crescer, agora, com os dados de novembro, as quebras são muito expressivas e transversais. E, olhando para as importações, vemos que a Europa tem, até outubro, uma quebra de 11% e que os Estados Unidos, mercado onde estávamos a crescer, tem uma quebra de 30%. Estamos a falar de um ano que foi muito difícil para todos os players do calçado”, explica o diretor de comunicação da associação do setor, a APICCAPS.

O calendário de feiras internacionais já arrancou e as notícias parecem boas. “Aquilo que vamos ouvindo é que há um regresso em força dos compradores asiáticos e dos norte-americanos, e isso pode fazer muita diferença, pois são dois mercados chave no negócio global”, diz Paulo Gonçalves, que acrescenta: “Temos a expectativa de que 2024 seja substancialmente melhor, graças aos indicadores que mostram que França e Alemanha terão melhores desempenhos económicos, mas temos consciência de que os primeiros meses do ano serão muito exigentes.” Dito de outra forma, a fileira do calçado não espera ainda que 2024 seja “um ano incrível”, mas assume a expectativa de que “possa ser já um ano de crescimento internacional”. 

ilidia.pinto@dinheirovivo.pt

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt