Vários grupos políticos de esquerda e de cidadãos idosos e reformados reuniram-se em protesto em frente à sede do governo argentino, na Plaza de Mayo, na capital Buenos Aires, contra a política de austeridade do atual Presidente Javier Milei, de extrema-direita..A ocasião foi aproveitada para recordar os protestos de dezembro de 2001, que acabaram com o governo Fernando de la Rúa (1999-2001)..Sob o slogan "abaixo o plano motosserra de Milei, dos governadores e do Fundo Monetário Internacional (FMI)", os manifestantes reuniram-se na simbólica praça da capital argentina, revelando que também terão sido ameaçados pelas autoridades, disseram que foram alvo de tentativas de "amedrontamento" por parte da Polícia Federal..O deputado Juan Carlos Giordano, da Frente de Esquerda Unidade, disse à agência noticiosa EFE que "a Argentina vai continuar com fome, pobreza e em submissão se continuar a pagar uma divida externa completamente usurária e fraudulenta sob os ditames do FMI"..Em alternativa, a esquerda propõe "não pagar" e "continuar a lutar" por um governo da classe trabalhadora e por uma Argentina socialista", acrescentou..Desde que chegou ao poder, o governo de Milei tem vindo a aplicar um programa de grande austeridade, desenhado e inspirado pelo FMI, com o objetivo de desvalorizar internamente a economia, cortando salários e pensões (como aconteceu em Portugal, nos anos da troika, de 2010 a 2015), de modo a cortar o défice público (que equivalia a 6% do PIB - Produto Interno Bruto no final de 2023) e a chegar a uma situação de equilíbrio orçamental. .De janeiro a novembro deste ano, o governo de Milei cortou a despesa com pensões em quase 30%, aplicou um corte de quase 20% nos apoios sociais, reduziu em 30% a despesa com obras públicas e em 10% as transferências do Estado central para as províncias argentinas..O orçamento geral dedicado serviços públicos foi reduzido em 15%, os salários da função pública levaram um corte de 11% e as transferências para as universidades foram reduzidas em 3%..Com esta receita de choque económico, a grande economia sul-americana entrou em recessão, estando o PIB a ceder quase 3% (valor apurado até outubro)..A forte contração registada no consumo das famílias e no investimento fez cair um pouco a inflação, mas não o suficiente: em novembro, os preços estavam a subir uns impressionantes 166%, em termos anuais..O Presidente da República e chefe do governo, Javier Milei, que se diz "anarco-capitalista", tem, na verdade, sido um fiel seguidor do Fundo Monetário Internacional (FMI) e das suas tradicionais receitas de austeridade máxima, aplicando cortes a fundo em salários, pensões e apoios sociais, isto num país em que quase 50% da população é muito pobre. O FMI é um grande credor da Argentina há décadas..O economista que também se diz "libertário" ganhou a eleições presidenciais argentinas há mais de um ano, em novembro de 2023, com uma maioria de 56%..Quando chegou ao poder, Milei herdou uma herança económica pesada do anterior governo peronista: uma inflação na ordem dos 211% em 2023 (que hoje está muito mais baixa, mas continua a ser hiperinflação e muito longe de estar controlada), uma recessão económica de 1,6% (que hoje é ainda pior e mais severa) e uma taxa de pobreza de 45%, que hoje está ainda mais elevada, reflexo das políticas de austeridade extrema.."Estamos a passar penúrias indescritíveis", disse uma reformada presente na manifestação à agência EFE.