Economia a crescer 2% e novo fôlego na Europa e nos EUA gera otimismo
O desafio era perspetivar o futuro da economia portuguesa e a resposta veio em tom otimista pela voz do ministro da tutela. “A economia portuguesa tem argumentos para manter a atividade em 2025 e cumprir o seu crescimento na ordem dos 2%, alicerçado na execução do PRR, na atividade industrial e de serviços, agarrando o emprego, mantendo consumo e atraindo investimento externo para cavalgar 2026 se o cenário for positivo, como é possível. Não estou a dizer que é previsível, mas é possível”, disse Pedro Reis.
Para justificar o seu otimismo, o ministro da Economia apoiou-se no abrandamento da inflação, no esperado novo ímpeto europeu baseado nas opções estratégicas do relatório Draghi, mas também nos sinais de confiança que chegam dos agentes económicos nos Estados Unidos. “Há a perceção de que pode haver um espaço para redução de impostos e alguma intensidade no investimento. E isso é bom para o mundo”, afiançou.
O governante assinalou ainda o fecho do acordo entre a UE e os quatro países fundadores do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai). “É importante para a Europa e para Portugal, que pode ser um dos grandes beneficiários deste acordo, nomeadamente a indústria e o setor agrícola português”, sublinhou.
Já do lado dos desafios, Pedro Reis foi categórico ao eleger o conflito armado na Ucrânia como sendo “a grande nuvem que paira sobre a economia”. “Enquanto não for claro para as empresas e investidores o que se vai ali passar é difícil abrir a visibilidade sobre a economia”. O ministro disse acreditar que 2025 será “um ano de transição” e está confiante de que, apesar dos desafios, há margem para o crescimento económico. “Não advogo os otimismos, mas recuso os pessimismos. Num cenário de abrandamento dos conflitos e de sinais de crescimento na economia americana, há um espaço económico de reconstrução e de investimento”, reiterou, frisando que “Portugal é visto como um porto de abrigo seguro para o investimento” e isso constitui um grande capital neste momento.
Crescimento medíocre há 20 anos
Mais inconformado, António Mendonça, bastonário da Ordem dos Economistas, defendeu políticas disruptivas, que conduzam o país a um crescimento mais ambicioso. “Precisamos de nos libertar das velhas ideias e concentrarmo-nos no que é possível fazer de novo”, tendo em conta que “temos um problema estrutural ao nível do investimento e que estamos com um crescimento medíocre há mais 20 anos”, disse. O ex-ministro saudou a estratégia do Relatório Draghi, por finalmente apontar uma visão, mas sublinhou que “temos de ter a nossa própria visão estratégica”, ainda que deva encaixar no que os nossos parceiros também estão a fazer. Mas, avisa, “o país deve acabar com a “diluição do pensamento estratégico, que está repartido por estruturas de missão, gabinetes de estudo, departamentos” e invista numa “estrutura central”, mais poderosa, que consiga definir as grandes orientações. E uma delas é a reindustrialização para poder competir com a China, na linha do que está a acontecer na UE, porque não se devem pôr os ovos todos no mesmo cesto. “O turismo vale 30% da economia portuguesa”, mas “é um risco pensar que podemos continuar a fazer mais do mesmo”, alertou.
Sobre as perspetivas para o mercado de capitais, a CEO da Euronext Lisbon, Isabel Ucha, considerou que o “Portugal tem condições muito interessantes para atrair capital intangível e investimento em centros de serviços de elevado valor acrescentado”, mas peca por “uma grande falta de literacia financeira”. Esse défice faz com que a maioria das poupanças esteja colocada em depósitos bancários e haja pouco capital disponível para investir em inovação. A responsável defendeu maior investimento em aplicações financeiras de maior risco a longo prazo.
Já o economista Pedro Pita Barros considerou que Portugal continua com grandes dificuldades em “colocar a produtividade no centro da nossa atenção” e, no longo prazo, “a produtividade é o que realmente conta para melhorar os níveis de vida”, explicou.