"Quando cheguei, tinha um carro velho que não fechava. Andei dois anos com ele assim e nunca aconteceu nada. Posso deixar tudo em todo o lado e estar à vontade”. A segurança é o primeiro argumento que Joana aponta quando questionada sobre as principais vantagens de viver no Dubai. A portuguesa, de 25 anos, estudou numa das melhores escolas de hotelaria da Europa, a Les Roches, na Suíça, e o primeiro encontro com a cidade dos Emirados Árabes Unidos (EAU) aconteceu por intermédio de um estágio curricular. Foi um amor de verão breve mas suficiente para, no desprendimento dos seus 20 anos, fazer as malas e mudar-se para o outro lado do mundo. Passaram cinco anos, recorda, sentada de costas para o mar no Tagomago, um restaurante de comida espanhola que integra o grupo de restauração para o qual trabalha..O também beach club, localizado na Palm Jumeirah, a icónica ilha do Dubai em forma de palmeira, emprega mais três portugueses. “O ritmo de trabalho é acelerado mas o ordenado é pago sem impostos”, comenta a lisboeta, num tom de remate que sustenta a sua escolha pela cidade situada na costa do Golfo Pérsico..Neste que é um dos setes emirados árabes, a língua portuguesa vai ganhando sonoridade entre as mais de 200 nacionalidades que partilham este solo do Médio Oriente. Os dados disponibilizados pelas autoridades nacionais do país e partilhados pela embaixada de Portugal nos EAU dão conta de mais de cinco mil portugueses a viver no emirado. É certo que os números são ainda um grão de areia perto da população que ultrapassa os três milhões de habitantes, mas a comunidade lusa vai ganhando músculo principalmente nas atividades ligadas ao turismo..É num dos 11 restaurantes do hotel de luxo recém-inaugurado, o One & Only One Za’abeel, que David, de 29 anos, assume o papel de anfitrião..Atrás do balcão, é em inglês que explica as infinitas possibilidades de cocktails disponíveis na carta mas tornando protagonista o tom caloroso intrínseco da boa hospitalidade portuguesa, facilmente reconhecível em qualquer canto do mundo. A vida na restauração começou ainda em Portugal num restaurante de José Avillez, experiência que serviu de ligação ao espaço que o chef assina no segundo maior emirado dos EAU e que se configurou no mote para mudar de país. Neste que é o primeiro resort vertical do Dubai, a elasticidade de conceitos extravasa a imaginação, posicionando-se no lado oposto a qualquer paralelismo. Em época alta, ou seja, a partir de outubro, o preço por noite começa nos 750 euros..Existe um mundo dentro das duas imponentes torres de 68 e 58 andares, comida estrelada de vários idiomas, da Europa à Ásia, uma praça de restauração eclética e uma piscina infinita que serve de camarim exclusivo à vista da cidade e que se assume como um santuário para os hóspedes ou visitantes acérrimos de fotografia e redes sociais..Há um sofá elevador capaz de percorrer pisos e um sem número de acessos e corredores labirínticos que nos ligam rapidamente a distintos cenários e que Mariana já calcorreia com uma familiaridade admirável. A portuguesa, que integra a equipa de comunicação e marketing da unidade, que pertence à cadeia internacional One & Only Resorts, explica o desafio de criar novos conceitos numa cidade que é mãe do inexpectável e onde parece não ser possível inventar mais nada. Atualmente, está a desenvolver a campanha de promoção do hotel, que será gravada no topo do edifício de 300 metros. Olhando para a linha onde finda a torre, a respiração escasseia. “A parte boa de trabalhar aqui é essa: se há uma ideia, faz-se. Não interessa que pareça impossível”, conta. Bem vindos ao Dubai..Turismo: o petróleo do séc. XXI.As finas poeiras que açambarcam o ar, imprimindo um filtro no céu que nunca chega a ser de um azul lídimo, rememoram a génese do emirado. A soberba, a tecnologia e o vanguardismo dos edifícios e estradas bebem inspiração ocidental, contrastando com o fulvo da areia que se levanta do deserto. O Dubai é tudo aquilo que os seus visitantes quiserem que ele seja, mas sempre num degrau acima do arrojo..Fazer turismo no Dubai não é para todos os bolsos: as viagens, os museus, as atrações, e o custo de vida no geral, estão apenas ao alcance de carteiras robustecidas. O dinheiro é uma via-verde para experienciar a proposta de férias que o emirado tem para oferecer..É certo que o petróleo foi, nos anos 60, a engrenagem que transformou o deserto árido da pequena aldeia piscatória numa das maiores metrópoles mundiais. Do nada, fez-se tudo e os alicerces financeiros e económicos estruturaram, até aos dias de hoje, aquele que é o ADN do emirado..Atualmente, o turismo é uma das principais atividades geradoras de riqueza e é de portas abertas ao mundo que o Dubai se apresenta, atraindo, a cada ano, mais visitantes de fora - em 2023 recebeu um recorde de 17 milhões de turistas estrangeiros e ocupou a terceira posição no ranking do Euromonitor International , referente às “10 cidades mais visitadas do mundo”..O Dubai está constantemente em desenvolvimento e a passo acelerado. Erguem-se imponentes infraestruturas num estalar de dedos. Criar é o verbo casa neste emirado que se orgulha de acumular recordes no Guinness - o maior arranha-céus, Burj Khalifa -, a maior marina artificial - Dubai Marina -, a maior moldura - Dubai Frame -, ou o hotel com mais estrelas do mundo - Burj Al Arab -, são apenas alguns exemplos. Este espírito empreendedor é apresentado sem rodeios como uma imagem de marca e o exemplo vem de cima. Em várias lojas, espaços e museus da cidade há prateleiras ornamentadas com as obras do xeique Mohammed bin Rashid Al Maktoum, vice-presidente, primeiro-ministro e governante de Dubai. Assumindo quase que uma postura de CEO e coach, os livros abordam temáticas como os negócios, os desafios, a excelência e a felicidade. A organização e a segurança dão estrutura ao costume nevrálgico da cidade que, apesar do decoro árabe, é generosa em audácia..O que não existe, cria-se.A agitação das águas do mar percebe-se pelo cantar pujante do rebentar das ondas. No céu, uma aurora boreal completa o espetáculo da natureza convidando à contemplação e ao silêncio. A poucos passos ouvem-se pássaros e mergulha-se na floresta profunda, entre árvores, arvoredos e um sem número de espécies de flores e plantas. Aqui dentro faz frio, a água não é mais do que chão e a mescla de cores celestes um presente da imaginação oferecido pela tecnologia. Estamos no Art Museum onde tudo o que escasseia no meio do deserto é aqui oferecido através de uma encenação de vídeo mapping..No Dubai, o que não existe lá fora, debaixo do tórrido calor que desafia o corpo, é criado dentro de portas sob o conforto do ar condicionado. Não há entraves no emirado quando o capítulo é criar. Na extensa panóplia de museus, parques temáticos e atrações existe oferta para todos os gostos, públicos e segmentos..É possível ir ao espaço, no Museu do Futuro, ou meditar num oásis de paz que contrasta com o quotidiano citadino de luxo pintado de carros de alta cilindrada. A eventual exiguidade de encantos intrínsecos de berço são transmutados em oportunidades para ir mais além. As praias modestas, não sendo paradisíacas ou um dos argumentos principais que justifiquem a viagem como se um destino de sol e mar se tratasse, são virtuosamente aproveitadas através dos inúmeros beach clubs que oferecem um ambiente ímpar com todas as comodidades complementando, na perfeição, a oferta que este hub cosmopolita tem para oferecer. Dar uma oportunidade ao Dubai enquanto destino de férias é sair fora da caixa e ir além do expectável. No emirado vive-se à letra o conceito de “boa vida”, com tudo o que cabe lá dentro: restauração de assinatura uma hotelaria sobranceira e comércio de luxo. Havendo uma boa carteira, o substantivo “limite” não é mais do que uma palavra no dicionário..Como ir.A Emirates é a única companhia aérea com ligação direta entre Lisboa e o Dubai. Com dois voos diários, as tarifas de ida e volta, em julho, começam nos mil euros em classe económica. Nesta altura, considerada época baixa no Dubai, devido às elevadas temperaturas, é possível obter preços mais baratos. A viagem dura cerca de oito horas..O que visitar.A oferta de atrações e museus é vasta. Há paragens obrigatórias como o Burj Khalifa, o edifício mais alto do mundo, que oferece uma vista privilegiada do Dubai, permitindo percecionar a escala e dimensão da cidade. Os preços começam nos 45 euros por pessoa para subir ao piso 124 da torre de 828 metros. Saindo do roteiro citadino, é imperativa uma visita ao deserto onde é possível jantar, assistir a espetáculos e desfrutar da companhia de camelos. A experiência de luxo no Sonara Camp começa nos 175 euros por pessoa, nos meses de menor procura. O Museu do Futuro, a icónica infraestrutura futurística que se assume como uma das principais atrações, é outro do ex-libris. O bilhete custa 40 euros e dá acesso a toda a exposição que se espraia pelos sete pisos. Na mesma faixa de preços está o Art Museum, onde a natureza é protagonista. O Dubai Mall, o maior centro comercial do mundo, é outro dos pontos de paragem. O espaço, que ocupa uma área equivalente a 200 campos de futebol, oferece mais de 1200 lojas e é conhecido pela diversidade de marcas de luxo. Do lado de fora do Dubai Mall, está o The Dubai Fountain onde acontece diariamente, a céu aberto - e gratuitamente - um espetáculo de fontes de água, luzes e música..Onde comer.A qualidade da restauração e do serviço no Dubai é, indubitavelmente, um dos pontos eleva a experiência no emirado. Todos os sabores do mundo cabem dentro desta cidade onde não escasseiam restaurantes de renome. O peruano Coya Dubai é um dos exemplos de como é possível oferecer genuidade numa cozinha importada do outro lado do globo, exemplo transversal ao TagoMago, um beach club onde a paella espanhola é rainha de frente para o mar. Para uma experiência de fine dining, o Qabu, do chef Paco Morales, que soma três estrelas Michelin, eleva a fasquia com sabores ancestrais. Já o The Guild é a recomendação perfeita para a gastronomia europeia e francesa, num requintando ambiente versátil para almoços e jantares. Para uma experiência íntima com a gastronomia local, o Arabian Tea House é escolha irrepreensível. .Onde dormir.A hotelaria do emirado é merecedora de elogios. A oferta é vastíssima e não faltam opções para todos os gostos. Um três ou quatro estrelas no Dubai é facilmente comparável a um cinco estrelas em Portugal. O NH Collection Dubai The Palm ilustra perfeitamente este argumento com uma oferta acima da média a um preço acessível para o país: até agosto as tarifas rondam os 120 euros por noite num quarto duplo. A partir de outubro os preços duplicam..Para as famílias.O Dubai quer posicionar-se, cada vez mais, como um destino familiar. E são inúmeras as possibilidades para uma férias com crianças. Desde logo, a variedade de parques temáticos disponíveis permitem encher a agenda com atividades para todos os membros da família. Com o calor a apertar, as propostas dentro de água são obrigatórias. O Legoland Water Park (a partir de 83 euros por adulto) é um dos maiores centros de diversão para miúdos. Além do vasto parque aquático, com toda a variedade de escorregas, há atividades, exposições e diversões nesta pequena cidade dedicada ao famoso brinquedo. Ainda no capítulo aquático, vale a pena visitar o Aquaventure, outro espaço onde é possível ir a banhos, e combinar a visita com ao aquário The Lost Chambers, para observar as várias espécies marinhas. O bilhete combinado custa 93 euros. Por fim, o Real Madrid World (74 euros) é o mais recente parque temático do emirado dedicado ao clube de futebol espanhol. Aqui, os visitantes são ainda brindados com a possibilidade de tirar fotografias com figuras de cera dos vários jogadores icónicos da história do clube, incluindo Cristiano Ronaldo..*A jornalista viajou a convite do Turismo do Dubai. rute.simao@dinheirovivo.pt