Metropolitano de Lisboa é uma das empresas que mais dinheiro vai buscar ao PRR. Foto: D.R.
Metropolitano de Lisboa é uma das empresas que mais dinheiro vai buscar ao PRR. Foto: D.R.

Doze fundos de investimento absorveram mais 500 milhões de euros em apoios do PRR

Sendo verdade que "mais de metade dos fundos aprovados destinam-se às administrações públicas", um novo estudo do Banco de Portugal revela que "os pagamentos avançam mais rapidamente no setor privado". Setor financeiro e segurador conseguiu obter mais de 13% das verbas aprovadas no PRR.
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O setor financeiro e segurador está a conseguir afirmar-se como um dos grandes beneficiários do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), captando já cerca de 13% dos fundos aprovados neste pacote para todo o setor privado da economia portuguesa, mostra um estudo do Banco de Portugal (BdP), ontem divulgado (quinta-feira, 3).

Dentro deste grupo existem 12 fundos de investimento e de capital de risco (ver listagem no final) que já conseguiram captar, até meados de setembro, mais de 500 milhões de euros em apoios do PRR, segundo cálculos do DN com base em dados fornecidos pelo banco central.

Até agora, com os referidos 13% do total do pacote PRR em verbas aprovadas, o setor financeiro aparece como o terceiro maior recipiente de verbas deste plano, que no global e até 2026 prevê que foi desenhado para modernizar e dar mais força ao tecido empresarial e ao setor público na sequência da destruição económica provocada pela pandemia covid-19, sobretudo nos anos 2020 e 2021.

O maior beneficiário, com 32% do total de verbas aprovadas até agora, é a indústria transformadora. O segundo maior é o conjunto formado pelas consultoras e entidades científicas e técnicas, com 24% do total de montantes aprovados até agora, indica o Banco governado por Mário Centeno.

É natural que o setor financeiro apareça neste lugar cimeiro do ranking uma vez que é suposto, em muitos casos, que tais fundos vertam as verbas que conseguiram no PRR em projetos e investimentos vários.

Seja como for, a maioria das verbas do PRR está a ser apropriada pelo próprio setor público.

"Dos valores aprovados para beneficiários diretos e finais, verifica-se que 62% pertencem às administrações públicas (AP), 5% a empresas públicas fora do perímetro das AP e 33% a entidades do setor privado, empresas ou particulares", diz o BdP.

Segundo o estudo, "em termos de fundos recebidos, Portugal já recebeu as quatro primeiras tranches, totalizando 7 mil milhões de euros, o que corresponde a 38% da dotação prevista". O BdP avisa que este valor representa um atraso relevante na execução, estando o país bastante abaixo da média europeia.

"É nas AP que se encontram as entidades com as maiores dotações aprovadas: Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (756 milhões de euros), Metropolitano de Lisboa (748 milhões de euros), Infraestruturas de Portugal (512 milhões de euros), Metro do Porto (418 milhões de euros) e Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (301 milhões de euros)", refere o trabalho preparado por duas econonistas do banco central.

Acrescentam ainda que "no caso das empresas públicas fora do perímetro das AP, os valores aprovados mais elevados correspondem ao Banco Português do Fomento (268 milhões de euros), às Águas do Algarve (169 milhões de euros) e à Empresa de Eletricidade da Madeira (97 milhões de euros)".

No caso do setor privado, o Banco de Portugal sinaliza que há um certo mérito e racional económico na atribuição de verbas, na medida em que os fundos aprovados "foram canalizados para empresas mais antigas, mais produtivas e com maior intensidade exportadora".

Sendo verdade que "mais de metade dos fundos aprovados destinam-se às administrações públicas", o estudo aponta que "os pagamentos avançam mais rapidamente no setor privado".

O quinto mais lento da Zona euro em objetivos cumpridos

No entanto, em termos gerais, o andamento do PRR está muito atrasado quando se compara com o universo da Zona Euro.

Segundo o estudo pré-publicado e que integrará o novo boletim económico a divulgar na semana que vem, além de continuar a ser um dos planos mais vagarosos da Zona Euro, existe um risco evidente de vir a piorar na execução.

Segundo o BdP, "à medida que os pedidos de tranches avançam, o número de metas é mais expressivo, especialmente a partir da nona tranche, tornando o cumprimento mais exigente".

Atualmente, à luz da informação oficial disponibilizada pelo governo e outras entidades até 24 de setembro último, Portugal é o quinto país mais lento da Zona Euro no cumprimento dos marcos (objetivos qualitativos, como seja celebração de acordos, aprovação de legislação, etc.) e metas (objetivos quantitativos, como valores investidos, número de equipamentos construídos, etc.), tendo apenas cumprido 23% do que é exigido pela Comissão Europeia, indica o novo estudo.

A média da Zona Euro é claramente superior: cerca de 28% dos marcos e metas foram cumpridos. Este valor é sustentado pelas taxas de execução muito elevadas de França (73%), Luxemburgo (43%), Malta (39%), Irlanda (38%) ou Itália (37%), ilustra o BdP.

Outro indicador de atraso na execução é o ritmo de recebimento de verbas. "Portugal já recebeu as quatro primeiras tranches, totalizando 7 mil milhões de euros, o que corresponde a 38% da dotação prevista", estando bastante abaixo da taxa média europeia de 48%. Uma vez mais França e Itália lideram na rapidez de acesso aos fundos do PRR, com 77% e 65%, respetivamente.

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