Dos ‘drones’ ao calçado, os polímeros ajudam a criar materiais mais sustentáveis
Nascido em Guimarães, o PIEP - Polo de Inovação em Engenharia e Polímeros está apostado em ganhar dimensão internacional. É verdade que o centro português de tecnologia e inovação tem trabalhado, desde a primeira hora, com grandes projetos internacionais, seja com a Embraer ou com a Agência Espacial Europeia, entre muitos outros, mas, nos últimos anos, o centro tem vindo a participar em feiras internacionais para se dar a conhecer e, simultaneamente, mostrar aquilo de que a indústria portuguesa é capaz.
Foi o caso da Plastics & Rubber, feira do setor, que decorreu em Barcelona, e onde o PIEP apresentou algumas das inovações em que participou, como, por exemplo, um depósito para armazenamento de hidrogénio, desenvolvido em parceria com a Tekever, a empresa portuguesa especializada em drones. Algo que foi desenvolvido com a integração de fibra de carbono na sua estrutura, “promovendo leveza e resistência para aplicações energéticas avançadas”.
E há já um projeto inter-regional, com a Galiza, envolvendo a Universidade do Minho e a Petrotec, empresa de Guimarães que fabrica bombas de combustível - o PIEP está já a trabalhar no desenvolvimento de reservatórios para hidrogénio para a indústria automóvel. O desafio, reconhece Pedro Mimoso, diretor de Desenvolvimento do Negócio do PIEP, é substituir o metal destas estruturas por plástico, assegurando a sua leveza, mas também a sua resistência e impermeabilidade.
Só no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), o PIEP está envolvido em 30 projetos, correspondentes a um investimento global de aproximadamente 14 milhões de euros. É o caso da agenda mobilizadora da aeronáutica, o Fly.pt, em que participam também a Tekever, o Instituto Politécnico de Leiria, a Universidade de Évora, ou o ISQ e o CEiiA, entre vários outros parceiros, e que pretende combinar o transporte rodoviário com o aéreo, criando um veículo que anda na estrada, mas que também pode ser teletransportador.
“Há uma grande dinâmica internacional neste momento, e já existem até protótipos de uma pilha de combustível, que pode ser elétrica ou a hidrogénio, para abastecer drones, com 4, 6 ou 8 geradores, e que transportam pessoas, como um helicóptero, de um topo de um edifício para o outro”, explica Pedro Mimoso.
É o princípio do táxi aéreo e que se poderá vir a revelar “muito interessante” para cidades como São Paulo, onde o uso de helicópteros, particularmente para empresas de uma certa dimensão, é já uma realidade.
Tudo o que o PIEP faz tem hoje, naturalmente, uma grande componente de compromisso com a sustentabilidade, seja ao nível do desenvolvimento de biomateriais, seja na criação de estruturas mais leves, com a consequente poupança de matérias-primas. É o caso do projeto e-blast, desenvolvido em parceria com a Aloft, fabricante de solas para calçado, que aproveitou uma tecnologias inicialmente desenvolvida no setor automóvel, com a injeção simultânea de azoto e plástico na criação dos moldes, permitindo baixar em cerca de 10% o peso do componente. Devidamente adaptada para o calçado, esta tecnologia permite “retirar 90% do peso das solas, de alta performance, com grandes vantagens ao nível da sustentabilidade, porque viabiliza o uso de plásticos recicláveis”, afiança Mimoso.
Um projeto que atraiu a atenção da Grandene, o gigante brasileiro mais conhecido pela marca de calçado Melissa, que conta com dez fábricas de calçado e que emprega mais de 12 mil pessoas só numa delas.
Pedro Mimoso não avança com grandes pormenores sobre o projeto com a Grandene, garantindo apenas que a cooperação “está a decorrer”. Mais do que poupar nas matérias-primas, o objetivo, garante, é facilitar a reciclabilidade do calçado, já que, com esta tecnologia, “é possível utilizar outros materiais, como o TPU ou o PVC, que têm densidades similares ao EVA, mas que podem ser reincorporados no processo de fabrico”.
Já na área dos materiais com funcionalidade específicas, o PIEP expôs o que parecia ser um simples fio, de plástico, mas que conduz a eletricidade. Um projeto desenvolvido com a Agência Espacial Europeia, e que levou ao “desenvolvimento de um filamento de um polímero de elevado desempenho, carregado com nanotubos de carbono e grafeno, para permitir a condutividade energética”, explica Renato Reis, coordenador da área de Extrusão, Composição e Materiais Avançados do centro. E que gerou grande atenção por parte dos visitantes da feira. Uma tecnologia com “muitas vantagens” e variadíssimos usos possíveis. “São materiais que também servem para fazer de escudo eletromagnético, e por isso podem ser usados em baterias, em sistemas de defesa, ou no setor automóvel”, acrescenta Pedro Mimoso.
Na feira estavam, ainda, além da Associação Portuguesa da Indústria de Plásticos, a APIP, algumas empresas do setor. É o caso da Palbase, da Marinha Grande, especializada na produção de máquinas para reciclagem, não só de plástico, mas também de cortiça, têxteis, madeira ou cartão. E Gustavo Fernandes, responsável comercial e de assistência técnica da empresa, estava satisfeito com os contactos estabelecidos com potenciais clientes espanhóis e brasileiros.
Também a RNM, de Vila Nova de Famalicão, que produz, transporta e distribui produtos químicos para a indústria dos plásticos, estava em Barcelona em busca de reforçar a sua presença em Espanha, onde conta com várias das 15 empresas que compõem o grupo e que asseguram uma faturação anual de 300 milhões de euros.
Destaque ainda para a AGI, grupo centenário de Vila Nova de Gaia, que opera no segmento das matérias-primas em plástico e nos equipamentos para a indústria dos plásticos. Com 70 colaboradores e uma faturação de 70 milhões de euros, a AGI atua no negócio dos polímeros, mas também na impressão 3D e nos materiais de construção. A venda de 50% do capital da AGI à espanhola Guztec Polymers deu-lhe uma dimensão ibérica e, mais tarde, acesso à expansão desta empresa familiar para Itália e Turquia. A Guztec foi, em 2020, comprada pelos suíços da Hromatka, grupo com 46 centros logísticos por toda a Europa e uma faturação anual de 930 milhões de euros.
*A jornalista viajou a convite do PIEP