O mercado de trabalho português está a dar sinais de fragilidade. O emprego continua a crescer (aumentou 1,3%, mas agora em claro abrandamento), o número de desempregados subiu quase 3% no último trimestre do ano passado, elevando a taxa de desemprego para 6,7% da população ativa, naquela que foi a maior subida dos últimos dois anos, revelou o Instituto Nacional de Estatística (INE), esta quarta-feira, nas estatísticas do emprego relativas ao quarto trimestre.Mas é nos detalhes que aparecem sinais mais preocupantes. De acordo com um levantamento feito pelo DN junto da base de dados do INE, a criação de empregos por conta de outrem a tempo completo está praticamente estagnada (aumento homólogo de 0,2%).As formas contratuais mais precárias voltaram a ganhar força na reta final do ano, comparando com o final de 2023: o emprego a tempo parcial ("part time") voltou a subir (1%), abrangendo agora mais de 295 mil trabalhadores; o número de contratos de prestação de serviços (vulgo recibos verdes) aumentou mais de 4%, havendo agora 139 mil pessoas com este tipo de vínculo. Este é o valor mais elevado de recibos verdes dos últimos seis anos (desde final de 2018), mostram as séries longas do INE.A compensar este alastramento da precariedade estiveram os contratos a termo (a prazo), cujo número caiu quase 9% entre final de 2023 e final de 2024, abrangendo agora 552 mil pessoas.O desemprego, que durante os últimos anos esteve relativamente contido e baixo em termos históricos, deu um salto na reta final do ano (subiu em volume e em peso) e, aparentemente, são os mais jovens e os licenciados que mais sentem as dificuldades e a degradação do mercado de trabalhoSegundo cálculos do DN, o desemprego de pessoas com ensino superior (todas as idades consideradas) aumentou quase 9% num ano, para um total de quase 98 mil diplomados sem trabalho, o pior registo desde o trimestre mais mortífero da pandemia (primeiros três meses de 2021). Metade destes licenciados são jovens com idades até aos 34 anos, cerca de 50 mil.Mas pior: de acordo com os dados do INE, o número de jovens sem trabalho na faixa dos 25 a 34 anos disparou mais de 24%, o pior avanço também desde aquele primeiro trimestre fatídico de 2021. Neste grupo de jovens mais qualificados contam-se cerca de 30 mil indivíduos, indica o instituto.Desemprego na Grande Lisboa está piorAinda na taxa de desemprego, a média nacional no quarto trimestre esconde realidades bastante diferentes. O maior agravamento entre o verão e o outono aconteceu na região da Grande Lisboa, onde o peso do desemprego agravou-se de 5,6% no terceiro trimestre para 7,4% no quarto. A região Norte registou uma subida de sete décimas, para 6,9%. Na região Centro, o aumento foi muito ligeiro, de apenas uma décima, fixando a respetiva taxa de desemprego nos 5,8%. No Algarve, a incidência do desemprego também aumentou na reta final do ano, de cerca de 4,5% para 5,6%, indica o INE.Desemprego de longa duração agrava-seOutro fenómeno que durante vários anos aliviou (entre 2014 e 2022, com exceção para o primeiro ano da pandemia, 2020) foi o do desemprego de longa duração.No entanto, o INE mostra que este fenómeno (pessoas que querem e procuram ativamente trabalho, mas não encontram uma saída há um ano ou mais) parece estar a regressar."No 4.º trimestre de 2024, 37,5% da população desempregada encontrava-se nesta condição há 12 e mais meses (desemprego de longa duração)", valor que é inferior em 0,5 pontos percentuais (p.p.) face ao trimestre precedente, mas "superior em 1,8 p.p. ao trimestre homólogo".Estão nesta situação - desempregadas há 12 meses ou mais - 138,1 mil pessoas em Portugal. A maioria (71 mil casos) são mulheres.Entre os mais jovens, o problema também se está a agravar: há um ano havia 14 mil jovens (menos de 25 anos) desempregados há mais 12 meses; no quarto trimestre, este grupo aumentou para mais de 17 mil indivíduos.O INE indica ainda que o desemprego de muito longa duração (pessoas desempregadas há mais de dois anos) também está a subir de forma muito expressiva. Eram 77 mil no último trimestre de 2023, mas este contingente cresceu 8%, havendo agora 83 mil pessoas nesta situação.Tecnologias da informação em alta, saúde privada em baixaA expansão do emprego continua, mas de forma mais lenta. Este tem sido o indicador que tem batido sucessivos máximos e recordes históricos em Portugal, sendo apontado como um dos grandes alicerce do bom comportamento da economia portuguesa (sobretudo comparando com muitos dos seus pares europeus) e da saúde das contas públicas, pois reverte-se numa maior coleta de impostos e de contribuições sociais.Em termos gerais, a economia logrou criar mais 65 mil empregos no ano que terminou no quarto trimestre (dá o referido aumento homólogo de 1,3%), mas o dinamismo varia muito consoante a atividade económica.O maior contributo para o emprego vem das "atividades de informação e comunicação), com 22 mil empregos criados, do comércio (mais 16 mil) e do setor da "educação" privada, com mais 15 mil empregos.Em rota descendente aparecem as atividades de saúde (privadas) e de apoio social, onde foram suprimidos 14 mil postos de trabalho. A indústria transformadora acompanhou com menos sete mil empregos.