O Banco Central Europeu procedeu ontem a um novo corte nas suas taxas diretoras, depois de ter inaugurado o ciclo de descidas em junho último. As duas mexidas combinadas resultaram numa diminuição em 0,5 pontos percentuais. O mercado já descontou esse efeito e a evolução mais recente das taxas Euribor - que servem de indexante à maioria dos créditos à habitação em Portugal - revela isso mesmo, já com impacto nas prestações da casa que as famílias pagam aos bancos..Para quem tenha um empréstimo à habitação de 100 mil euros a 30 anos, com a Euribor a seis meses e spread de 1%, a poupança mensal a partir de setembro, tendo em conta a média da Euribor em agosto, será de 28,55 euros mensais (ou seja, 342 euros/ano) revelam as simulações realizadas pela DECO para o DN. A prestação mensal desce de 530,79 para 502, 24 euros. Nos créditos com Euribor a 12 meses, com o mesmo prazo e spread, a poupança pode chegar aos 651 euros por ano em cada 100 mil euros de empréstimo..Ao DN, Natália Nunes, coordenadora do Gabinete de Proteção Financeira da associação DECO, lembra que a poupança será sentida apenas quando o contrato for revisto, dependendo de o empréstimo ter sido contratado com base na Euribor a três, seis ou 12 meses. “Não tem impacto imediato nas prestações das famílias”, sublinha..Embora em linha descendente, as taxas de juro subjacentes ao crédito à habitação continuam longe dos mínimos de dezembro de 2021. O mesmo empréstimo de 100 mil euros pagava, em janeiro de 2022, 297,22 euros de prestação, tendo em conta a média da Euribor a seis meses no mês anterior (dezembro de 2021), que estava em valor negativo (-0,545%)..“Há alguma tendência para a diminuição das taxas, mas ainda estão na ordem dos 3%. Ainda falta algum caminho. As subidas foram galopantes, mas as descidas não o estão a ser”, observa Natália Nunes..Se a Euribor chegar aos 2%, a taxa considerada “natural”, os cálculos da DECO indicam que a prestação do exemplo atrás, dos 100 mil euros de empréstimo, desce para 421,60 euros, o que se traduz numa poupança de 80,64 euros em relação à prestação paga neste mês de setembro..E quando se espera que as taxas de juro do crédito à habitação normalizem? “Em princípio só em 2025, não sabemos ainda o que é que vai acontecer. Há alguns fatores que têm que ser tidos em conta, que podem influenciar o processo de decisão do BCE e que podem levar a que esta descida seja ainda mais lenta do que está a ser. Não podemos esquecer que continuamos com conflitos na Europa e temos algumas economias a dar sinais de estagnação. Tudo isso acaba por ter impacto na política do BCE e influenciar as taxas Euribor”..A presidente do BCE reiterou ontem que as próximas decisões quanto às taxas de juro “basear-se-ão na avaliação das perspetivas de inflação, à luz dos dados económicos e financeiros que forem sendo disponibilizados, da dinâmica da inflação subjacente e da robustez da transmissão da política monetária. O Conselho do BCE não se compromete previamente com uma trajetória de taxas específica”. O mercado, no entanto, acredita que até ao final do ano as Euribor continuem a cair para níveis inferiores a 3%. A taxa a 12 meses baixou ontem para 2,929%, a Euribor a seis meses também caiu, para 3,265%, enquanto que a taxa a três meses subiu para 3,481%. O que conta para efeitos de cálculo dos juros na habitação, no entanto, é a média mensal no mês anterior ao contrato de crédito. Com C.A.R.