Centeno diz que o País até está a conseguir reter e aumentar talento e diplomados

Centeno diz que o País até está a conseguir reter e aumentar talento e diplomados

Governador do Banco de Portugal contraria a ideia de que o país está a ser drenado dos seus mais qualificados. Segundo Centeno, Portugal até estará, em média, a aumentar contingente de diplomados em 20 mil pessoas por ano, em termos líquidos.
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Muitos empresários e gestores em Portugal têm-se queixado repetidas vezes, sobretudo em anos mais recentes, que têm "dificuldade crescente em contratar" e "em encontrar talentos" porque o País não oferece condições que permitam reter ou aumentar em número o contingente de pessoas mais qualificadas. Para o governador do Banco de Portugal (BdP) não é nada assim e os números desmentem tal ideia.

Ontem, terça-feira, na conferência anual do banco central, Mário Centeno declarou que "o país vive focado numa realidade que é descrita com números enganadores" e que, entre outros aspectos, "Portugal tem conseguido ser recetor líquido de diplomados".

Na abertura da 12ª Conferência do Banco de Portugal, que foi centrada no tema "Educação e Qualificações em Portugal", o governador chamou ao aumento das qualificações ao longo das últimas décadas, a começar pelo avanço escolar dos mais jovens, uma "revolução silenciosa".

"Os avanços registados na escolaridade em Portugal ao longo das últimas décadas constituem uma conquista notável para o desenvolvimento económico e social do país. Tenho designado este processo como a revolução silenciosa", começou por afirmar Centeno.

"No ano em que festejamos os cinquenta anos do 25 de abril, ela mesma uma revolução silenciosa - com cravos -, devemos celebrar que os mesmos que a fizeram sejam os atores populares desta outra transformação. E os números são mesmo revolucionários, lentos na sua revelação e, por isso, às vezes pouco notados – silenciosos".

Uma das ideias feitas que Centeno tentou rebater ou contrariar é a de que Portugal -- chagado ao ponto da História em que tem a geração jovem mais bem qualificada de sempre -- está a perder essas pessoas em que tanto investiu, está a ser drenado e a ficar sem gente talentosa.

Centeno discorda. Diz que a realidade está ser ofuscada por "números enganadores". Nem a emigração é assim tão grande como se diz, nem o país é assim tão fraco a atrair talento de fora.

"Nos últimos oito anos, a população ativa com formação superior aumentou em média 70 mil indivíduos por ano. Das universidades portuguesas, públicas e privadas, saem por ano pouco mais de 50 mil portugueses", revelou o governador, que durante muito tempo, antes de ingressar na política ativa, foi professor de economia na área do Trabalho.

Ou seja, de acordo com estes números citados pelo banqueiro central, Portugal está a conseguir aumentar a sua população mais qualificada em cerca de 20 mil indivíduos, em média, por ano e em termos líquidos.

Para o responsável, Portugal "tem conseguido ser receptor líquido de diplomados", sendo que "os dados do Eurostat mostram que a percentagem de jovens portugueses que emigram é inferior - menos de metade - à de países como Alemanha, Dinamarca ou Países Baixos".

Esta perspetiva mais positiva e animadora sobre a capacidade de o País reter talento colide frontalmente com sucessivas declarações de altos responsáveis empresariais, que dizem o contrário.

Por exemplo, segundo o Jornal de Negócios, Paulo Macedo, o presidente executivo da Caixa Geral de Depósitos, um grande empregador (tem mais de seis mil trabalhadores), disse numa conferência relativamente recente, em Coimbra, que "neste momento em Portugal temos falta de mão de obra especializada e não especializada".

E foi mais longe. "Vemos cada vez mais os jovens a querer saber sobre as novas formas de trabalhar, se há trabalho híbrido". Nos eventos e feiras de emprego da CGD, explicou Paulo Macedo, "recebemos umas centenas de estudantes" e uma das questões mais levantada pelos próprios "era qual é o propósito da empresa e a sua maneira de trabalhar".

Seja como for muitos empresários queixam-se de falta de profissionais na área da engenharia e das tecnologias da informação, área onde a procura (por parte das empresas) é cada vez maior.

Mas áreas existem em que pode estar a acontecer uma drenagem de quadros qualificados É o caso da Saúde, com sinais de debandada dos seus profissionais mais qualificados.

Por exemplo, segundo a Ordem dos Enfermeiros, "mais de 1600 Enfermeiros saíram de Portugal em 2023". A Ordem diz que recebeu, durante o ano passado, "1689 pedidos de declaração para efeitos de emigração, o que constitui, em proporção, cerca de 60% dos 2916 enfermeiros inscritos este ano".

"A fuga de enfermeiros para o estrangeiro continua" e "a Suíça continua a ser o país que mais enfermeiros portugueses recebe", diz a mesma entidade.

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