Mário Centeno, governador do Banco de Portugal.
Mário Centeno, governador do Banco de Portugal.Leonardo Negrão / Global Imagens

Centeno avisa que folga financeira deve preparar futuro e não ser já consumida

Segundo o governador do Banco de Portugal, é certo que de futuro haverá uma crise, seja ela quando for, pelo que o país "não pode perder a oportunidade de, num período de crescimento económico, continuar a preparar-se para futuro".
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O governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, disse esta sexta-feira que a folga financeira de Portugal deve ser preservada para acautelar uma futura crise e não consumida no imediato.

Segundo Centeno, é certo que de futuro haverá uma crise, seja ela quando for, pelo que o país "não pode perder a oportunidade de, num período de crescimento económico, continuar a preparar-se para futuro".

"A margem financeira que existe deve ser colocada ao serviço do futuro e não consumida no presente", afirmou na apresentação do Boletim Económico de março, em Lisboa.

Centeno recordou também que em breve haverá uma nova fase do Pacto de Estabilidade e Crescimento e que aí "o caminho que existe é muito estreito" no que se refere à despesa pública e que é "extremamente importante" o país não correr riscos de voltar aos tempos em que estava sob procedimento por défice excessivo.

"Se não acautelarmos a margem financeira que nos permita gerir as próximas crises, o país corre os mesmíssimos riscos do passado", afirmou.

Questionado sobre se teme que o novo Governo (Luís Montenegro foi indigitado primeiro-ministro) ponha em risco a situação orçamental equilibrada, Mário Centeno disse que não se referia a situações concretas, frisando a necessidade de equilibrar despesa e receita públicas.

"As minhas palavras não se dirigem a nenhuma situação concreta. Tem que ver com dinâmicas das contas públicas que têm consequências na despesa e receita e não devemos dissociar o lado da receita do lado da despesa", afirmou. Assim, defendeu, qualquer redução de impostos ou aumento da despesa devem ser compensados.

O governador deu mesmo exemplos. Segundo Centeno, estão latentes cortes no ISP - Imposto sobre Produtos Petrolíferos de 440 milhões de euros, pelo que "se estes cortes forem revistos aumenta-se a margem adicional em 440 milhões de euros" enquanto que com a manutenção daquela "medida discricionária não há criação de margem adicional do lado da despesa".

Falou ainda da redução do IRS (imposto sobre o rendimento), feita no Orçamento do Estado de 2024 e que estimou que terá efeito de 500 milhões de euros em 2025, afirmando que essa medida "obriga, no âmbito da regra, a despesa a ser cortada em 500 milhões de euros".

De momento, disse, há apenas três países na zona euro com saldos orçamentais positivos e um deles é Portugal (os outros são Chipre e Irlanda) e o país "não deveria perder esse estatuto".

Na apresentação do Boletim Económico, Centeno também destacou a diminuição do endividamento das famílias e empresas, considerando que essa melhoria também ajuda a acautelar incertezas futuras.

O Banco de Portugal divulgou hoje o Boletim Económico de março, revendo em alta a previsão de crescimento da economia portuguesa para 2% este ano, face ao que esperava em dezembro, acima do inscrito no OE2024 e do esperado pelo primeiro-ministro indigitado, Luís Montenegro.

Está ainda mais otimista sobre o ritmo de descida de inflação, prevendo que a taxa caia para 2,4% este ano, apesar de efeitos temporários sobre os preços dos alimentos e energia, foi hoje divulgado.

Governador defende que bancos devem usar lucros para criar 'almofadas' para o futuro

Mário Centeno disse que é o momento de os bancos usarem os lucros para criarem 'almofadas' financeiras que permitam precaver períodos menos positivos no futuro.

Centeno sublinhou que a banca teve no ano passado "resultados que fogem um pouco ao que foi o passado recente da banca" e foi o ano de 2023 que permitiu reequilibrar anos passados de prejuízos.

Agora, defendeu, a banca deve usar essa margem para prevenir o futuro que não se prevê tão rentável.

"É momento de criar almofadas ou margens para se preparar para o ciclo que vem a seguir, que não é de repetição destes resultados", disse.

Centeno afirmou ainda que, como governador do Banco de Portugal, fica "muitíssimo mais preocupado quando a banca tem resultados negativos do que quando tem resultados positivos" pois significa que as empresas estão mais sólidas.

A banca está a apresentar lucros históricos referentes a 2023. As contas dos bancos portugueses têm mesmo surpreendido agências de 'rating'.

Os cinco maiores bancos que operam em Portugal registaram lucros agregados de 4.444 milhões de euros em 2023, mais 72,5% face a 2022, beneficiados pelo aumento das taxas de juro.

A Caixa Geral de Depósitos (CGD, banco público) foi o que conseguiu os maiores lucros, com 1.291 milhões de euros. O Santander Totta teve lucros de 1.030 milhões de euros, o BCP 856 milhões de euros, o Novo Banco 743,1 milhões de euros e o BPI 524 milhões de euros.

Não antecipa posição sobre corte de juros por ter de analisar vários fatores

O governador do Banco de Portugal disse que a inflação está a descer de forma sustentada e a convergir para 2%, mas não quis antecipar o próximo corte de juros do BCE por ser necessário analisar vários indicadores.

"A inflação está a descer de forma sustentada e a convergir para 2%", afirmou Mário Centeno.

Contudo, disse que não antecipa quando será o próximo corte de taxas de juro diretoras nem o que defenderá na reunião do Conselho de governadores do Banco Central Europeu (BCE) de 11 de abril.

"Não vou antecipar qualquer decisão nem mesmo a minha posição", afirmou.

Centeno disse que para isso precisa de informação adicional, caso da inflação de março, mas também sobre a evolução dos salários pois "o abrandamento dos salários da área do euro é essencial para que toda a perspetiva económica se possa materializar".

Os salários do quarto trimestre de 2023 cresceram muito abaixo do que tinham crescido nos trimestres anteriores.

"Numa economia [da zona euro] que não cresce e continua a criar emprego alguma coisa tem de ajustar, afirmou, acrescentando que não é sustentável a economia não crescer e crescer em empregos e salários.

"Temos de analisar salários quando nos reunirmos no início de abril para podermos tomar decisões", vincou.

O consenso dos analistas é de que o BCE deverá fazer o próximo corte das taxas de juro em junho.

O Banco de Portugal divulgou hoje o Boletim Económico de março, revendo em alta a previsão de crescimento da economia portuguesa para 2% este ano, face ao que esperava em dezembro, acima do inscrito no OE2024 e do esperado pelo primeiro-ministro indigitado, Luís Montenegro.

Está ainda mais otimista sobre o ritmo de descida de inflação, prevendo que a taxa caia para 2,4% este ano, apesar de efeitos temporários sobre os preços dos alimentos e energia.

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