O governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, disse esta sexta-feira que a folga financeira de Portugal deve ser preservada para acautelar uma futura crise e não consumida no imediato..Segundo Centeno, é certo que de futuro haverá uma crise, seja ela quando for, pelo que o país "não pode perder a oportunidade de, num período de crescimento económico, continuar a preparar-se para futuro".."A margem financeira que existe deve ser colocada ao serviço do futuro e não consumida no presente", afirmou na apresentação do Boletim Económico de março, em Lisboa..Centeno recordou também que em breve haverá uma nova fase do Pacto de Estabilidade e Crescimento e que aí "o caminho que existe é muito estreito" no que se refere à despesa pública e que é "extremamente importante" o país não correr riscos de voltar aos tempos em que estava sob procedimento por défice excessivo.."Se não acautelarmos a margem financeira que nos permita gerir as próximas crises, o país corre os mesmíssimos riscos do passado", afirmou..Questionado sobre se teme que o novo Governo (Luís Montenegro foi indigitado primeiro-ministro) ponha em risco a situação orçamental equilibrada, Mário Centeno disse que não se referia a situações concretas, frisando a necessidade de equilibrar despesa e receita públicas.."As minhas palavras não se dirigem a nenhuma situação concreta. Tem que ver com dinâmicas das contas públicas que têm consequências na despesa e receita e não devemos dissociar o lado da receita do lado da despesa", afirmou. Assim, defendeu, qualquer redução de impostos ou aumento da despesa devem ser compensados..O governador deu mesmo exemplos. Segundo Centeno, estão latentes cortes no ISP - Imposto sobre Produtos Petrolíferos de 440 milhões de euros, pelo que "se estes cortes forem revistos aumenta-se a margem adicional em 440 milhões de euros" enquanto que com a manutenção daquela "medida discricionária não há criação de margem adicional do lado da despesa"..Falou ainda da redução do IRS (imposto sobre o rendimento), feita no Orçamento do Estado de 2024 e que estimou que terá efeito de 500 milhões de euros em 2025, afirmando que essa medida "obriga, no âmbito da regra, a despesa a ser cortada em 500 milhões de euros"..De momento, disse, há apenas três países na zona euro com saldos orçamentais positivos e um deles é Portugal (os outros são Chipre e Irlanda) e o país "não deveria perder esse estatuto"..Na apresentação do Boletim Económico, Centeno também destacou a diminuição do endividamento das famílias e empresas, considerando que essa melhoria também ajuda a acautelar incertezas futuras..O Banco de Portugal divulgou hoje o Boletim Económico de março, revendo em alta a previsão de crescimento da economia portuguesa para 2% este ano, face ao que esperava em dezembro, acima do inscrito no OE2024 e do esperado pelo primeiro-ministro indigitado, Luís Montenegro..Está ainda mais otimista sobre o ritmo de descida de inflação, prevendo que a taxa caia para 2,4% este ano, apesar de efeitos temporários sobre os preços dos alimentos e energia, foi hoje divulgado..Governador defende que bancos devem usar lucros para criar 'almofadas' para o futuro.Mário Centeno disse que é o momento de os bancos usarem os lucros para criarem 'almofadas' financeiras que permitam precaver períodos menos positivos no futuro..Centeno sublinhou que a banca teve no ano passado "resultados que fogem um pouco ao que foi o passado recente da banca" e foi o ano de 2023 que permitiu reequilibrar anos passados de prejuízos..Agora, defendeu, a banca deve usar essa margem para prevenir o futuro que não se prevê tão rentável.."É momento de criar almofadas ou margens para se preparar para o ciclo que vem a seguir, que não é de repetição destes resultados", disse..Centeno afirmou ainda que, como governador do Banco de Portugal, fica "muitíssimo mais preocupado quando a banca tem resultados negativos do que quando tem resultados positivos" pois significa que as empresas estão mais sólidas..A banca está a apresentar lucros históricos referentes a 2023. As contas dos bancos portugueses têm mesmo surpreendido agências de 'rating'..Os cinco maiores bancos que operam em Portugal registaram lucros agregados de 4.444 milhões de euros em 2023, mais 72,5% face a 2022, beneficiados pelo aumento das taxas de juro..A Caixa Geral de Depósitos (CGD, banco público) foi o que conseguiu os maiores lucros, com 1.291 milhões de euros. O Santander Totta teve lucros de 1.030 milhões de euros, o BCP 856 milhões de euros, o Novo Banco 743,1 milhões de euros e o BPI 524 milhões de euros..Não antecipa posição sobre corte de juros por ter de analisar vários fatores.O governador do Banco de Portugal disse que a inflação está a descer de forma sustentada e a convergir para 2%, mas não quis antecipar o próximo corte de juros do BCE por ser necessário analisar vários indicadores.."A inflação está a descer de forma sustentada e a convergir para 2%", afirmou Mário Centeno..Contudo, disse que não antecipa quando será o próximo corte de taxas de juro diretoras nem o que defenderá na reunião do Conselho de governadores do Banco Central Europeu (BCE) de 11 de abril.."Não vou antecipar qualquer decisão nem mesmo a minha posição", afirmou..Centeno disse que para isso precisa de informação adicional, caso da inflação de março, mas também sobre a evolução dos salários pois "o abrandamento dos salários da área do euro é essencial para que toda a perspetiva económica se possa materializar"..Os salários do quarto trimestre de 2023 cresceram muito abaixo do que tinham crescido nos trimestres anteriores.."Numa economia [da zona euro] que não cresce e continua a criar emprego alguma coisa tem de ajustar, afirmou, acrescentando que não é sustentável a economia não crescer e crescer em empregos e salários.."Temos de analisar salários quando nos reunirmos no início de abril para podermos tomar decisões", vincou..O consenso dos analistas é de que o BCE deverá fazer o próximo corte das taxas de juro em junho..O Banco de Portugal divulgou hoje o Boletim Económico de março, revendo em alta a previsão de crescimento da economia portuguesa para 2% este ano, face ao que esperava em dezembro, acima do inscrito no OE2024 e do esperado pelo primeiro-ministro indigitado, Luís Montenegro..Está ainda mais otimista sobre o ritmo de descida de inflação, prevendo que a taxa caia para 2,4% este ano, apesar de efeitos temporários sobre os preços dos alimentos e energia.