Catalunha quer voltar a liderar o PIB espanhol depois do 'procés'
A Catalunha está apostada em virar a página depois do furacão político, social e económico que a varreu, após o referendo à independência, e recomeçar a atrair empresas e investimento. Pelo menos é nisso em que acredita o presidente de la Generalitat, Salvador Illa, apoiado e confortado pelas últimas sondagens. Estas indicam que os catalães a favor da independência caíram de 48% ou 50%, no auge do processo independentista, para um patamar entre 36% a 38%. Ainda são expressivos, mas com menos de um ano de mandato, o socialista Salvador Illa parece ter um nível de aceitação, não de indicação de voto, da ordem dos 60%, a que não será alheia a posição que tem tomado em defesa de uma intervenção pública para enfrentar a crise da habitação. Com base na nova lei de habitação, de 2023, Barcelona optou pelo fim do Airbnb, decidindo que a partir de 2028 não vai renovar licenças nem emitir novas. “O Estado tem de intervir com medidas excecionais para situações excecionais”, referiu. Também foram fixados limites ao aumento de rendas, embora seja necessário melhorar a sua fiscalização.
Talvez embalado por aquelas avaliações políticas, o chefe do governo da Catalunha manifestou-se, esta semana num encontro com imprensa estrangeira, apostado em recuperar o terreno perdido em termos económicos quando a vaga de instabilidade atirou mais de três mil empresas para fora da região. Em dezembro de 2017 o impacto que o ‘procés’ causou terá sido da ordem dos 11,5 mil milhões de euros, o equivalente a 5,4% da economia catalã e 1% da espanhola.
O Governo quer trabalhar para voltar a recuperar a posição dianteira como região espanhola com maior PIB, que perdeu para Madrid, assumiu o socialista. Em 2015, a Catalunha detinha 18,9% do PIB espanhol, mas em 2019 foi ultrapassada por Madrid como principal economia regional, que agora tem 19%, um pouco acima do seu antigo rival. Ainda assim, o PIB cresceu 3,3% em 2024.
Gradualmente, algumas grandes empresas estão a começar a voltar à região. Um dos melhores exemplos é o Banco Sabadell e também a Fundació La Caixa, mas uma grande parte das maiores continuam a manter as suas sedes fora, como é caso do CaixaBank, detido por aquela fundação. Nas que regressam há um ensejo de alguma discrição, dizem fontes próximas do Governo.
Para melhorar o capital de atratividade da região, Salvador Illa quer apostar em projetos estratégicos, como a ampliação do aeroporto de Barcelona _ que tal como em Portugal está envolta em acaloradas discussões por causa de um lago artificial_, pois é a região mundial que mais turistas atrai e tem no turismo a sua principal fonte de receita. Outra aposta é em energia renovável, nomeadamente off-shore. E atração de investimento estrangeiro, como o chinês, desde que não seja em setores vulneráveis como portos, comunicações ou energia. Uma outra porta que se abre é a atração de talento, nomeadamente dos Estados Unidos, para o incremento da investigação e tecnologia, sendo que Barcelona tem, por exemplo, um centro de supercomputação de referência na Europa, o Barcelona Super Computer Center, e vai inaugurar um centro de investigação em imunologia até ao início de 2026, o Caixa Research Institute.