Câmara de Lisboa avança com suspensão de novos registos de alojamento local por seis meses

Câmara de Lisboa avança com suspensão de novos registos de alojamento local por seis meses

Havia duas propostas em cima da mesa na reunião pública de câmara de quarta-feira - uma do PS outra da coligação encabeçada por Carlos Moedas, que lidera a autarquia sem maioria. Foi aprovada a proposta dos socialistas e descartada a proposta social-democrata. Discussão segue para a Assembleia Municipal.
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A Câmara Municipal de Lisboa (CML) vai avançar com a "suspensão imediata" de novas licenças para alojamento local (AL) na capital, após aprovar na reunião pública da câmara de quarta-feira uma proposta dos vereadores do PS.

Com a entrada em vigor do Decreto-Lei n.º 76/202, que altera o regime jurídico da exploração dos estabelecimentos de AL, poderá ser levantada a suspensão da emissão de novas licenças que vigora em 20 das 24 freguesias do concelho de Lisboa (no centro histórico continuará a vigorar a suspensão). Para anular o levantamento da suspensão que ainda existe, o PS avançou com uma proposta de alteração às regras do município para o AL, incluindo a suspensão “imediata” de novas licenças na capital e a "criação de uma zona de contenção absoluta única na cidade” quando o número de AL face ao número de habitações permanentes atinge um rácio igual ou superior a 5%. A coligação Novos Tempos (PSD, CDS-PP, PPM, MPT e Aliança), encabeçada por Carlos Moedas, que lidera a autarquia sem maioria absoluta, propôs também, em moldes idênticos, a suspensão de novas licenças “em todo o concelho”, a partir de sexta-feira e até à entrada em vigor da alteração ao regulamento municipal para o AL.

Acabou por ser aprovada, na tarde de quarta-feira, a proposta do PS, que propunha a "suspensão imediata", com os eleitos municipais a descartar a proposta da equipa de Carlos Moeda, que era assinada por Joana Almeida (coligação Novos Tempos), vereadora com o pelouro do urbanismo. Aquela proposta que sugeria a "suspensão total" de novos registos "em todo o concelho", mas os eleitos dos partidos de esquerda presentes no executivo da câmara consideraram que o documento surgia de forma oportunista e que não oferecia “segurança jurídica”. 

Numa primeira volta, a proposta do PS acolheu o apoio de todos os vereadores da oposição (PS, PCP, BE, Livre e Cidadãos Por Lisboa), tendo sido viabilizada por unanimidade pelo executivo camarário numa segunda ronda de votações.

A proposta dos socialistas será submetida à Assembleia Municipal de Lisboa para ser deliberada.

O que diz a proposta aprovada?

A proposta que será submetida à Assembleia Municipal prevê a suspensão de novas licenças no concelho de Lisboa por um prazo de seis meses, a partir desta sexta-feira, "sem prejuízo da sua renovação por igual período, até à entrada em vigor da alteração ao regulamento municipal do alojamento local, sem prejuízo das zonas de contenção em vigor”.

Argumentando que a cidade de Lisboa tem atualmente um rácio de 7,5% de AL face ao número de casas de habitação permanente existentes, a proposta sugere que a suspensão deve ser aplicada nas freguesias onde o rácio de AL face ao número de casas para habitação permanente seja “igual ou superior a 2,5%” ou quando, na globalidade do município, o rácio observado seja “igual ou superior a 5%”.

O atual regulamento do AL em Lisboa prevê zonas de contenção absoluta quando o rácio é “igual ou superior a 20%” e áreas de contenção relativa quando há um rácio “igual ou superior a 10% e inferior a 20%”. Ora, o PS propõe rever em baixa os rácios, alterando-os , respetivamente, para 5% e 2,5%.

A proposta de alteração do regulamento municipal para o AL também prevê a criação de “uma zona de contenção absoluta única na cidade” quando se atinge um rácio igual ou superior a 5%, pretendendo ainda que sejam proibidos usos complementares, nomeadamente restauração e bebidas, nas frações habitacionais afetas ao alojamento local.

A 25 de outubro, refira-se,  foi aprovada a Carta Municipal de Habitação de Lisboa que define um rácio máximo de 5% de AL.

As reações dos partidos

"É impossivel que no estado atual haja novas licenças", afirmou a vereadora do PS (sem pelouro) Inês Drummond, na reunião de câmara, citada pela agência Lusa. A vereadora apontou o dedo à liderança de Carlos Moedas, por apresentar uma proposta "a reboque da do PS", mas manifestou disponibilidade para consensualizar os dois documentos numa proposta única. Indicando que a proposta assinada pela vereadora Joana Almeida tinha “alguns problemas jurídicos”, Inês Drummond ainda destacou que “é a primeira vez” que a liderança do executivo vota a favor de uma medida para limitar o alojamento local.

Carlos Moedas, por sua vez, aquando da apresentação da proposta social-democrata na reunião de câmara, defendeu que o seu documento era "mais simples", porque pretendia a “suspensão total, zero novos registos de estabelecimento de alojamento local em toda a cidade”. E mesmo que as duas partilhassem o objetivo, para Moedas não fazia "muito sentido consensualizar as duas”.

Do PCP, João Ferreira concordou que as recentes alterações legislativas representam “um problema sério”, o que exige uma intervenção da câmara, referindo que se deve “ter um regulamento o mais depressa possível”. Para o vereador eleito pela CDU (coligação entre PCP e 'Os Verdes'), a proposta da equipa de Moedas havia dúvidas quanto à “segurança jurídica” da iniciativa da liderança de Carlos Moedas, inclusive a entrada em vigor na sexta-feira quando ainda não foi votada pela assembleia municipal.

O vereador dos Cidadãos Por Lisboa (eleitos pela coligação PS/Livre) Rui Franco registou “satisfação pela unanimidade nesta matéria” e perguntou sobre a discussão do tema daqui a seis meses num quadro de eleições autárquicas.

Já Beatriz Gomes Dias, eleita pelo BE, defendeu a redução do AL para 5% na cidade e acusou Carlos Moedas de “lançar confusão para o debate” com a sua proposta. Em resposta, Carlos Moedas considerou a acusação do BE “sem qualquer fundamento”, acusando o partido de “fomentar o ódio”.

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