O mercado norte-americano é “absolutamente estratégico” para a indústria portuguesa do calçado e a ameaça de agravamento das taxas alfandegárias por parte da Administração Trump é encarada com uma preocupação moderada por parte da Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos. A APICCAPS promete reforçar a aposta naquele que é o sexto mercado de destino das exportações nacionais, assumindo que o objetivo é que, até 2030, possa ascender ao Top-3, atrás de Alemanha e França, e à frente de Países Baixos, Espanha e Reino Unido.“Do ponto de vista do princípio, somos sempre contra qualquer política protecionista. Defendemos o comércio livre, justo e equilibrado”, diz o porta- -voz da associação, sublinhando que, “se as regras foram iguais para todos, no limite, os únicos prejudicados serão os consumidores norte-americanos, que terão de pagar os produtos mais caros”. Paulo Gonçalves falou aos jornalistas na Micam, a feira de calçado em Milão, onde está presente uma delegação de 43 empresas portuguesas, e garante que a indústria está hoje “mais bem preparada” para abordar o mercado, já que conta com empresas “mais modernas, mais ágeis e mais flexíveis, capazes de responder a encomendas de maior dimensão, e com um produto aprimorado, para ir ao encontro do gosto do consumidor americano”.A prova de que a aposta está a ser bem-sucedida, considera, é que as exportações nacionais para os EUA mais do que duplicaram na última década, para cerca de 100 milhões de euros. Em 2024, e a exemplo de quase todos os mercados, também as vendas para os EUA se ressentiram, caindo 4,2%. “Não vamos desistir do mercado, pelo contrário, estamos a reforçar a nossa presença” nos EUA, garante o responsável, assumindo um investimento de promoção na ordem de um milhão de euros ao ano.A Lemon Jelly é uma das marcas nacionais que mais aposta nos EUA, onde está desde 2016. José Pinto, CEO da Procalçado, que detém a marca, diz que o país está no Top-5 das vendas. “Não estamos ainda a sentir o efeito deste novo governo, mas, como também temos ligação com o Canadá, vamos ver agora, nos próximos tempos, o que é que as taxas podem trazer”, assegura. Com 400 trabalhadores e uma faturação global de mais de 30 milhões de euros, a Procalçado fechou o ano a crescer 10% nas exportações, num ano “desafiante”. Nesta edição da feira, a Lemon Jelly está a apresentar a “primeira carteira 100% circular do mundo”. A Nyssa Bag é resultado da colaboração entre a Lemon Jelly e a Balena (empresa de materiais israelita), sendo fabricada em BioCir®Flex, “um termoplástico de origem biológica, totalmente compostável e reciclável”.Com ou sem agravamento de taxas, Pedro Abrantes, CEO de AsPortuguesas, assegura que a aposta nos EUA é para manter. Até porque, em conjunto com o Canadá, é o principal mercado da marca de calçado que une a Corticeira Amorim e a Kyaia, valendo 30% das suas vendas. “Teremos de arranjar soluções. É um mercado importante, não vamos dar agora passos atrás”, frisa.Portugal está representado na Micam com 43 expositores, e a abertura da feira ficou marcada por uma homenagem da APICCAPS a Paulo Martins, seu vice-presidente e CEO da Celita, empresa de Felgueiras dona da marca Ambitious, que faleceu subitamente esta semana. Terça-feira arranca a Lineapelle, o certame de curtumes e componentes para calçado, onde estarão mais 32 empresas portuguesas. Em MilãoA jornalista viajou a convite da APICCAPS.Calçado ainda aguarda pagamentos de 2023 mas já tem plano de promoção de 2025 aprovado