BCE corta taxas de juro mas recusa cenário de nova recessão

BCE corta taxas de juro mas recusa cenário de nova recessão

Dificuldades cada vez maiores em muitas economias, como Alemanha e França, aceleram descida. Taxa principal cai para 3,25%, terceiro corte deste ano.
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A taxa de juro principal do Banco Central Europeu (BCE) vai descer mais 0,25 pontos percentuais, para 3,25% (taxa de depósito), naquele que é já o terceiro corte este ano, anunciou a instituição sediada em Frankfurt, esta quinta-feira.

Na conferência de imprensa, que decorreu em Ljubljana, Eslovénia, que se seguiu à reunião de política monetária e taxas de juro, a presidente do BCE, Christine Lagarde, deixou vários avisos, disse que há um risco maior de a inflação, afinal, depois de subir nos próximos meses, poder inverter a tendência e até aterrar abaixo dos 2%, o que também arrisca violar a regra programática do BCE (manter a inflação nos 2% no médio prazo).

A pressão em baixa sobre os preços acontece por via da anemia económica que está a alastrar na Europa e de um ambiente de quase recessão em países como a Alemanha (outra vez).

No evento com jornalistas, Lagarde foi questionada sobre isso mesmo, sobre o renovado risco de recessão na Alemanha, e se tal não significa um perigo para a Zona Euro como um todo. A resposta foi: "De acordo com as informações que temos neste momento, não vemos uma recessão na Zona Euro".

Seja como for, mesmo sem recessão, a economia europeia, a Zona Euro como um todo, está a ter muita dificuldade em sair da estagnação, que já dura há mais de dois anos, desde o início de 2022.

Hoje, as três maiores economias -- Alemanha, França e Itália - continuam a andar mal. Alemanha pode estar à beira de uma recessão técnica, uma ameaça latente nos últimos dois anos. França está a preparar um Orçamento do Estado fortemente restritivo, prevendo-se cortes a fundo na despesa pública e um grande aumento de impostos, por exemplo.

"A decisão de reduzir a taxa de juro aplicável à facilidade permanente de depósito – a taxa através da qual o Conselho do BCE define a orientação da política monetária – baseia‑se na avaliação atualizada das perspetivas de inflação, da dinâmica da inflação subjacente e da força da transmissão da política monetária", diz o banco central presidido por Lagarde.

A informação mais recente sobre a inflação "indica que o processo desinflacionista está bem encaminhado", sendo que até houve "recentes surpresas em baixa dos indicadores da atividade económica", que contribuem para arrefecer o ritmo dos preços. "Por seu lado, as condições de financiamento permanecem restritivas."

No entanto, o supervisor avisa que o ritmo da descida de taxas de juro que se perfila não deve ser mais rápido (pelo menos do que muitos desejam, sobretudo os mais endividados) porque a inflação ainda vai voltar a subir. Um dos 'culpados', diz o BCE, são os salários, que estão a subir demasiado.

Seja como for, o crescimento da economia europeia está fraquíssimo, estagnado, mesmo. Há uns meses, esperava-se que o BCE descesse taxas de juro mais devagar e, eventualmente, só no final deste ano.

No entanto, nos últimos tempos os indicadores económicos (atividade e confiança) da Zona Euro têm dado bastantes sinais negativos e pior até do que se esperava.

As dificuldades em muitas economias, em especial a gigante Alemanha, terão assim acelerado este roteiro de descidas de taxas que, esta quinta-feira, diminuíram em 0,25 pontos percentuais (p.p.) como forma de tentar reanimar a economia europeia e retirá-la da estagnação onde já se encontra há anos.

Assim, como referido, banco central do euro decidiu reduzir as três taxas de juro diretoras em 25 pontos base (0,25 p.p.).

A taxa da facilidade permanente de depósito baixa para 3,25%, a taxa das operações principais de refinanciamento desce para 3,4% e a taxa da facilidade permanente de cedência de liquidez alivia para 3,65%, "com efeitos a partir de 23 de outubro de 2024".

Salários estão a subir demasiado, acusa o BCE

No entanto, o BCE avisa que "a inflação deverá subir nos próximos meses, descendo depois para o objetivo no decurso do próximo ano".

O problema, refere, é que "a inflação interna mantém‑se alta, porque os salários ainda estão a aumentar a um ritmo elevado".

Só em setembro último é que a inflação (medida em termos homólogos, face a igual mês do ano anterior) desceu finalmente para menos de 2%, que é o objetivo programático do BCE.

Desde julho de 2021 que o ritmo de preços da Zona Euro esteve sempre acima de 2%, tendo disparado com o início da guerra da Rússia contra a Ucrânia, no início de 2022.

Em outubro desse ano, a inflação europeia chegaria a níveis nunca vistos na História da moeda única, atingindo 10,6%.

Por isso, Lagarde reitera hoje que o BCE "está determinado a assegurar o retorno atempado da inflação ao seu objetivo de médio prazo de 2%" e que, para tal, "manterá as taxas de juro diretoras suficientemente restritivas enquanto for necessário".

Resta saber se a economia resiste. Caso não aguente e os preços vierem por aí abaixo, o BCE vai ter mesmo de aliviar muito mais as restrições que impôs via custo do crédito ao longo dos últimos dois anos.

(atualizado 16h20)

Salários estão a subir demasiado, acusa o BCE

No entanto, o BCE avisa que "a inflação deverá subir nos próximos meses, descendo depois para o objetivo no decurso do próximo ano".

O problema, refere, é que "a inflação interna mantém‑se alta, porque os salários ainda estão a aumentar a um ritmo elevado".

Só em setembro último é que a inflação (medida em termos homólogos, face a igual mês do ano anterior) desceu finalmente para menos de 2%, que é o objetivo programático do BCE.

Desde julho de 2021 que o ritmo de preços da Zona Euro esteve sempre acima de 2%, tendo disparado com o início da guerra da Rússia contra a Ucrânia, no início de 2022.

Em outubro desse ano, a inflação europeia chegaria a níveis nunca vistos na História da moeda única, atingindo 10,6%.

Por isso, BCE reitera hoje que "está determinado a assegurar o retorno atempado da inflação ao seu objetivo de médio prazo de 2%" e que, para tal, "manterá as taxas de juro diretoras suficientemente restritivas enquanto for necessário".

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