Christine Lagarde, presidente do BCE, deve anunciar hoje o início do ciclo de descidas de juros.
Christine Lagarde, presidente do BCE, deve anunciar hoje o início do ciclo de descidas de juros.Kirill Kudryavtsev / AFP

BCE começa a cortar taxas de juro e só deve parar no final de 2025

Nova taxa principal para a instituição sediada em Frankfurt passa a ser a taxa de depósito, hoje em 4%. Economistas antecipam que possa cair para quase metade até final do ano que vem.
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As taxas de juro da Zona Euro devem iniciar, esta quinta-feira, um ciclo de descidas que, segundo dizem vários analistas, deve durar ano e meio, até que a nova taxa principal e de referência do Banco Central Europeu (BCE), a chamada taxa de juro de depósito (taxa depo), baixe do atual máximo histórico de 4% para 2,25% ou 2,5% no final de 2025.

Hoje, o consenso dos observadores do mercado aponta, com alta probabilidade, para um primeiro corte de 0,25 pontos percentuais nestas duas taxas e na terceira que o BCE dispõe (a taxa de cedência marginal de liquidez). A taxa depo, a nova referência dos mercados - que a veem como sendo a taxa mais determinante do BCE e a que melhor corresponde ao custo de financiamento suportado pelos bancos quando no seu dia a dia depositam o seu ainda avultado excesso de liquidez e de reservas -, ficará, assim, em 3,75%. É uma boa remuneração, e ainda próxima da taxa mais alta de sempre (4%).

A presidente do BCE, Christine Lagarde, que nunca desceu taxas de juro desde que foi apontada para este cargo em novembro de 2019, coloca assim um ponto final ao ciclo de subida de juros mais rápido e violento da história do BCE (desde 1998). Este aperto monetário durou quase dois anos, em resposta a um surto inflacionista provocado pelas guerras e pelas várias fraturas no comércio e nas relações entre países do mundo.

Antes destes dois anos de freio sobre a inflação, e cujas consequências nefastas estão à vista nas várias economias (Zona Euro estagnada, tendo países como a gigante Alemanha caído já em recessão), a Zona Euro experimentou dez anos de taxas de juro zero ou mesmo negativas. Primeiro, em 2012, foi para travar de uma vez por todas a crise e o risco de implosão da Zona Euro.

Paralelamente, a anterior taxa de juro principal (a mais conhecida taxa de refinanciamento, também apelidada de taxa refi, usada nas cedências de crédito regulares semanais do BCE aos bancos comerciais do euro), hoje perto de máximos de sempre (4,5%), também vai acompanhar a descida da taxa principal (depo) e, garantiu já o BCE, em setembro vai cair ainda mais rápido, pois Frankfurt decidiu que a diferença entre a taxa refi e a depo terá de ser reduzida da atual margem de 0,5 pontos percentuais para 0,15. Ou seja, em setembro, mesmo que o BCE não mexa na sua nova taxa principal (depo), a taxa refi vai cair na mesma 0,35 pontos percentuais, decidiu Frankfurt em março deste ano.

Sven Jari Stehn e Alexandre Stott, economistas do banco de investimento Goldman Sachs, acreditam que o BCE vai começar hoje a enveredar por “um caminho de cortes trimestrais [de 0,25 pontos percentuais cada] até chegar a uma taxa depo terminal de 2,25% no quarto trimestre de 2025”.

Estes defendem ainda que o BCE deve rever hoje o crescimento da Zona Euro em alta ligeira (previa uma subida do PIB de 0,6% em março, agora em junho, deve subir para 0,7% em 2024), mas o mesmo acontecerá com o indicador principal para os banqueiros centrais, a inflação. No exercício de março, o BCE projetou uma subida de preços  de 2,3% em 2024; agora, deve ser 2,4%. No ano que vem, a pressão sobre os preços também deve ser revista em alta ligeira. Em vez de se chegar ao ponto ótimo (2%, a estimativa de março), a inflação de 2025 deverá rondar 2,1%.

Como referido, em março o BCE decidiu ajustar o seu novo quadro operacional, anunciando que a taxa de depósito é a que melhor reflete o custo efetivo do financiamento ao setor bancário. Assim é, de forma mais evidente, desde meados de setembro de 2022, quando a taxa depo abandonou o território negativo e o ponto zero, passando a positiva. 

Charles Seville e Brian Coulton, os economistas da Fitch que seguem o BCE, recordam que este “irá introduzir um novo quadro operacional para a política monetária em setembro de 2024, tornando a taxa de depósito (sobre as reservas bancárias) a principal taxa de política monetária”.

O custo cobrado aos bancos pelos depósitos das reservas em excesso no seu negócio diário “tornou-se a taxa de política de facto durante o período de expansão quantitativa (QE), quando o BCE introduziu o seu quadro de reservas amplas”, dizem os peritos. Assim, “prevemos que esta taxa diretora (atualmente nos 4%) se situe em 3,25% no final de 2024 e em 2,5% no final de 2025”.

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