Miguel Albuquerque, presidente do governo regional da Madeira, e José Manuel Bolieiro, presidente do governo regional dos Açores.
Miguel Albuquerque, presidente do governo regional da Madeira, e José Manuel Bolieiro, presidente do governo regional dos Açores.D.R.

Açores e Madeira atingem equilíbrio orçamental em 2023. Crescimento económico das ilhas superior ao do país

Conselho de Finanças Públicas indica que as contas dos Açores beneficiaram do fim das injeções de capital na SATA. A Madeira diminuiu encargos futuros com parceriais público-privadas.
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A economia das regiões autónomas dos Açores e da Madeira "regressou em 2023 a uma situação de equilíbrio orçamental em contabilidade nacional, pese embora uma posição diferenciada em cada região autónoma", informa esta quarta-feira o Conselho de Finanças Públicas.

De acordo com o relatório do CFP, o saldo orçamental de 0,0% do conjunto das duas regiões autónomas representa "uma melhoria face ao défice de 0,2% reportado em 2022". O equilíbrio orçamental foi "alavancado por um crescimento económico das duas regiões autónomas superior ao do conjunto do país".

Na ótica de Masstricht, a que interessa a Bruxelas para avaliação das contas, a dívida pública regional "decresceu de 3,3% do PIB em 2022 para 3,1% do PIB em 2023, com o contributo de ambas as regiões".

"As responsabilidades contingentes das Regiões Autónomas expressas em rácio do PIB mantiveram uma trajetória descendente, para 1,2% do PIB em 2023, em linha com a evolução evidenciada pelo conjunto das AP [administrações públicas]", lê-se.

Fim das injeções na SATA ajudam contas dos Açores

No caso das contas dos Açores, o CFP realça uma "melhoria do défice" em contas nacionais, de 8,3% em 2022 para 2,5% em 2023 face ao PIB da região [PIBR]. Para o decréscimo do défice regional "muito contribuiu a não repetição do apoio financeiro do governo regional dos Açores à SATA Air Açores, S.A. sob a forma de injeções de capital e concessão de garantias, bem como da extinção das medidas de combate à crise pandémica".

"Ainda assim, o défice orçamental da RAA [Região Autónoma dos Açores] situava-se acima do verificado no ano pré-pandemia (1,7% do PIBR)", ou seja em 2019. E o rácio da dívida, na ótica de Maastricht, "quebrou pela primeira vez a trajetória ascendente que se mantinha há década e meia, reduzindo-se em 3,5 p.p. [pontos percentuais] para 59,6% do PIBR".

A "melhoria foi motivada pela conjuntura económica", aponta o organismo liderado por Nazaré Costa Cabral.

As responsabilidades contingentes dos Açores diminuíram em 218 milhões de euros face a 2022, para 2 221 milhões de euros, o que representa 41,3% do PIB regional, "devido sobretudo ao decréscimo de responsabilidades assumidas perante entidades públicas fora do perímetro orçamental, muito em particular com empresas do grupo SATA, em processo de reestruturação".

No entanto, o peso dos passivos contingentes - alerta o CFP - no PIB da região "manteve-se elevado, com maior expressão das responsabilidades inerentes ao setor empresarial regional, permanecendo um risco descendente significativo sobre as finanças públicas da região".

Madeira acima do equilíbrio

Relativamente à Madeira, o CFP refere que a região "regressou em 2023 a uma posição acima do equilíbrio, com um excedente orçamental de 0,4% do PIBR".

"Para esta evolução contribuiu tanto o efeito dinâmico favorável, reflexo do crescimento económico, como o excedente primário (1,7% do PIBR)", lê-se.

E o rácio da dívida, na ótica Maastricht, situou-se em 71,6% do PIBR, menos 8,7 pontos percentuais do que o apurado em 2022.

As responsabilidades contingentes da Madeira "mantiveram a tendência decrescente dos últimos anos, ascendendo no final de 2023 a 873 milhões de euros no final de 2023 (12,5% do PIBR), em resultado da diminuição das responsabilidades com garantias prestadas a entidades do setor empresarial regional, decorrente da assunção de dívida destas entidades pela região".

"No mesmo sentido, contribuiu também o menor valor atual dos encargos futuros com PPP", conclui o CFP.

CFP pede normas específicas que "operacionalizem" papel da entidade na avaliação das regras orçamentais

A entidade liderada por Nazaré Costa Cabral refere, ainda, que está em curso o estudo da revisão da Lei de Finanças das Regiões Autónomas e , nesse sentido, salienta que “a aprovação em abril do ano passado do novo quadro de reforma da governação económica europeia implicará alterações à Lei de Enquadramento Orçamental”.

Por isso, defende, “as regras da LFRA devem assentar em indicadores conhecidos, ser coerentes com as regras aplicáveis ao todo nacional e exequíveis no contexto de partida em que cada região autónoma se posiciona no quadro da sua situação orçamental e financeira”.

"O CFP preconiza ainda que a avaliação do cumprimento das regras seja efetuada também de forma ex ante [prévia] durante a programação dos planos orçamentais para ir ao encontro dos objetivos pretendidos. É também importante assegurar normas específicas que operacionalizem o papel do CFP enquanto entidade competente na avaliação do cumprimento das regras de disciplina orçamental previstas", lê-se.

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