Mariana Morgado Pedroso é surfista nos tempos livres, mãe de duas crianças, arquiteta de formação e empresária a tempo inteiro. Integrou projetos de reabilitação como o do Palácio Nacional de Queluz, mas nunca se sentiu particularmente impelida pela arquitetura de “nome”. Depois de alguns anos a trabalhar em ateiliês de renome, nacionais, e com uma filha de dois anos, Mariana achou que era hora de abrir o seu próprio projeto, “por uma necessidade pessoal de crescimento”, conta ao Diário de Notícias . Mas também achou que, em Portugal, tudo era demasiado pequenino para o que gostaria de fazer. Foi então que conheceu o Arquitecht your Home, um projeto que nasceu no Reino Unido e que providencia um “serviço 360º” aos clientes. Mas, mais importante do que isso, permite que o cliente adquira apenas partes dos serviços de um arquiteto, não ficando a este vinculado até ao final do projeto. “Se a pessoa quiser só uma consultoria inicial, fazemos. Se quiser uma casa de banho, fazemos. Se quiser uma casa inteira, fazemos. Mas podemos só fazer o desenho e mais nada. Ou então, fazer só a consultoria. Ou fazer tudo, até ao design de interiores”, explica a empresária no seu escritório de Paço de Arcos, onde reina, acima de tudo, o silêncio. “No fundo, vendemos arquitetura em pequenos passos”, explica com um sorriso.“O menu para o público em geral permite que a pessoa contrate um arquiteto só para fazer uma consultoria em sua casa. Paga um preço fixo e depois recebe uns desenhos; o arquiteto vai à casa, analisa os problemas que lá existem, sugere os passos seguintes e acompanha aquilo passo-a-passo. eEa pessoa vai consultando o seu orçamento, o seu timing, vai vai usando o arquiteto tanto quanto precisar”, explica.Isto porque a Architect your Home não é um ateliê, mas sim uma espécie de hub que junta os melhores profissionais numa rede que é utilizada consoante o projeto. “Ser uma marca, e não uma arquiteta que usa o seu nome, permite-me chegar ao grande público”, precisamente porque tem aqui uma questão de preço onde pode mexer. Algo que sempre lhe fez sentido, democratizar o serviço e fazer com que os portugueses recorressem mais aos arquitetos, algo que evoluiu nos últimos anos, mas que Mariana sente que ainda é um entrave. Sobretudo pelo fator preço.Em 2012, decidiu abandonar o ateliê de arquitetura em que trabalhava para se lançar em nome próprio. Portugal atravessa va o pico da crise financeira que, em 2008, varreu o mundo ocidental, e Mariana recorreu ao mecanismo disponibilizado pelo IEFP de pagamento antecipado das prestações de desemprego epara financiar o seu projeto. Tinha alguma experiência, cerca de 50 mil euros no bolso e vontade de fazer melhor e diferente na área da arquitetura. Conheceu a Architect your Home, voou até Londres e convenceu a empresa britânica de que Portugal era o país para estar. E de que ela era a pessoa certa para o fazer. Na altura tinha como sócia uma pessoa que tratava da parte do marketing “ e a primeira obra que fizemos foi uma casa-de-banho. De uma senhora que era advogada. E, curiosamente, nunca mais parámos!”, recorda.De arquiteta a dona da empresaA empresa, em Portugal, passaria depois apenas para o nome de Mariana e, dez anos depois daquela primeira reunião com a Architect your Home, em Londres - um encontro que, curiosamente, conta, aconteceu à mesa, muito mais ao jeito latino do que o inglês - Mariana Morais Pedroso comprou a casa-mãe - “mas não foi uma OPA hostil, foi tudo muito civilizado”, ri - com a ajuda de um sócio-investidor inglês. Estávamos em 2023. “Foi muito orgânico. Achei que estava na altura”. A Architect your Home foi, também, diversificando os seus serviços para garantir que podia sobreviver às várias vagas de investimento e dificuldades que foram pontuando os últimos anos da economia nacional e europeia. Para além de uma parceria com a Sotheby's - para quem Mariana chegou a trabalhar e com quem ficou com boa relação - dá também apoio a investidores, sobretudo estrangeiros; faz os tais projetos de consultoria e depois garante toda a arquitetura, de A a Z - que é como quem diz, desde o projeto até, efetivamente, a toda a decoração do espaço assim que está terminado.Isto significa, em traços gerais, que pode fazer também a consultoria para o investimento, contrata os engenheiros, os topógrafos, os medidos, os paisagistas e, no final, a decoração de interiores. “E faço o acompanhamento todo no fim quando já está tudo pronto”, conta ao DN.“E ser uma marca permite-me fazer marketing, redes sociais, e chegar ao grande público”, acrescenta, garantindo que sempre foi esse o seu principal objetivo.“Num ano e meio tinha chegado ao break-even” da operação e, a partir daí, continuou a crescer, sustentada e paulatinamente. Hoje fatura cerca de 9 milhões de euros, e já conta no seu portefólio com mais de 700 projetos realizados. E uma rede de 12 ateliês que não quer que “cresça para além dos 15”.Pertencer à Architect Your Home, é possível somente por convite. Mariana é absolutamente criteriosa na escola dos ateliês que junta à empresa, porque têm de ter “um conjunto de valores” relevantes. A começar pelo mais complexo quando o meio é a arquitetura: não podem querer ter o seu nome nos projetos. Todos eles são assinados pela Architect Your Home. “Ao contrário das outras pessoas, eu nunca gostei muito da coisa do nome. Aliás, quando comecei a olhar para a Architect your Home isso foi uma das coisas que me aliciou. Eu não ia criar o Ateliê da Mariana, não fazia sentido nenhum”, diz entre sorrisos. “Não é essa coisa do ego que me move e às vezes até acho que o nome do arquiteto limita um bocadinho”. Da Architect your Home, os ateliês recebem uma espécie de serviço de agenciamento. A marca garante o backoffice, ou seja, tudo o que é o trabalho administrativo: serviços financeiros, de contabilidade...E, todos os anos, Mariana e a sua rede de ateliês se reúnem num evento chamado “Lessons Learned” (ou lições aprendidas, em português). “Eles vêm cá, e fazemos sempre todos os anos um evento que é, no fundo, um momento para partilhar o que é correu bem e mal. E como nós, aqui na sede, temos uma visão muito global de todos osprojetos, conseguimos muito facilmente indicar quem conseguiu resolver bem determinado problema, e pedir que partilhe. Usamos casos de estudo para perceber o que acontece ou pode acontecer com Câmaras Municipais, com empreiteiros...”. No fundo, tentam aprender com os erros para garantir que os próximos projetos são ainda mais eficientes e com menos solavancos pelo caminho.“Quem pertence a esta rede tem acesso no fundo a um grupo de pessoas que partilham os seus conhecimentos, partilham os seus contactos, que se ajudam entre si, e portanto, há uma interligação muito grande”. Além disso, salienta, permite-lhes uma flexibilidade muito grande mesmo em termos de dimensão de projetos a levar a cabo. “Sempre que temos projetos grandes, também crescemos de uma forma muito rápida. É muito elástico. Aqui nós temos 10 pessoas a trabalhar, mas se houver um projeto que exige 20, 30, nós conseguimos ter as pessoas”, explica. Da mesma forma que, se o projeto for mais pequeno, podem responder apenas com a tal dezena de profissionais que têm dentro da sede.Olho além-fronteirasDepois de ter adquirido a casa-mãe, Mariana manteve um escritório em Londres, apesar de ter passado a sede para Portugal. Por lá, as coisas continuam a correr bem, mas são menos desafiantes, porque o mercado imobiliário britânico obedece a tantas regras de construção que não há muito espaço para a criatividade - ainda que possa haver melhores orçamentos de quando em vez. E com a atividade sustentada tanto em Portugal como no Reino Unido, está na hora de olhar para fora de portas, mais uma vez. Primeiro, os países mais próximos, como Espanha, França ou Itália, onde já tem colocado um pé para testar as águas, e se prepara para se aventurar ainda sem prazo definido, mas com trabalho de campo a ser feito. Até porque, apesar de otimista para o ano que ainda agora começou, Mariana admite que o atual contexto económico está demasiado volátil para poder fazer grandes planos e correr demasiados riscos.