Ano quente e falta de forragens fazem cair a produção de leite
A Federação Nacional das Cooperativas de Produtores de Leite (Fenelac) antevê que o preço do leite ao consumidor possa continuar a subir em 2025, fruto do agravamento dos custos de produção. Já a CAP lamenta que o consumidor pague mais, sem que haja compensação ao produtor. “O problema do leite é um bocadinho como o petróleo. Os produtores estão a reagir ao contrário do que deviam. O preço desce e eles tentam fornecer mais para compensar a descida. Se fizessem como a OPEP, baixavam a produção e o preço voltava a subir”, defende Luís Mira, que aponta o ano quente e a falta de forragens de qualidade como justificação para uma menor produção de leite em Portugal.
“As vacas produzem bem quando a temperatura é baixa. Num ano de temperaturas superiores à média, isso acaba por se refletir numa diminuição da produção. E se há menos produção, o preço aumenta”, refere o secretário-geral da CAP. Que aponta ainda a doença da língua azul - que ainda não afetou o setor leiteiro português, mas já atingiu países do centro da Europa - para ajudar a justificar a diminuição da produção e o aumento do preço. O problema, diz, é que não é acompanhado de igual crescimento para os produtores.
Em declarações à agência Lusa, o presidente da Fenelac falou no aumento dos custos de produção, designadamente os associados à energia, gasóleo e eletricidade, assumindo que o elo mais fraco da cadeia é o produtor, o primeiro a sentir esse impacto. Alertou, ainda, que se o negócio não tiver sustentabilidade económica, o abandono da atividade vai aumentar. O DN tentou ouvir Idalino Leão, mas sem sucesso.
Luís Mira, secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), lembra que Idalino Leão é também administrador do grupo Lactogal. “Eu fico sempre um bocadinho baralhado quando ouço esses comentários por parte do principal comprador de leite a nível nacional. Ele tem a possibilidade de pagar o leite mais caro [ao produtor]”, defende.
De acordo com os dados do Observatório de Preços do Agroalimentar, o preço do litro de leite UHT meio-gordo que era de 82 cêntimos há um ano, está agora nos 86 cêntimos. O preço ao produtor mantém-se nos 47 cêntimos por litro.
Já os dados mais recentes do Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral, mostram que a média da UE, em setembro (últimos dados disponíveis), era de 0,494 euros por kg de leite cru de vaca, que compara com os 0,436 euros pagos em Portugal, menos 5,8% do que em setembro de 2023.
Em contrapartida, o preço da manteiga à saída da fábrica aumentou 63% face ao período homólogo e estava nos 7,76 euros por kg. “Mais uma justificação para que o preço ao produtor tivesse de subir mais, porque a manteiga é totalmente retirada do leite”, frisa Luís Mira.
O presidente da Fenelac referiu-se, ainda, à distribuição dizendo que não gostaria que esta fosse “tentada a ceder a alguma oferta de leite mais barato” vinda do exterior. Confrontado com estas declarações, o secretário-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) lembra que há um "esforço crescente" dos retalhistas para “privilegiar a produção nacional, não só pela qualidade e porque vai ao encontro dos gostos do consumidor”, mas também por "questões de sustentabilidade, assegurando menores custos logísticos e de transporte e, consequentemente, menor pegada carbónica".
Quanto aos preços, Gonçalo Lobo Xavier assegura que a associação "não se mete, nem pode meter" nas políticas comerciais dos seus associados, mas que, tradicionalmente, é por esta altura que as empresas recebem as novas tabelas de preços dos seus fornecedores para o ano seguinte e que a única informação que tem, para já, "é que a tendência tem sido de aumento, na medida em que os custos dos fatores e produção têm aumentado, segundo nos dizem os nossos fornecedores".
A APED lembra que o retalho alimentar é "um negócio de volume e não e margens", funcionando com margens médias "de 2 a 3%", mas, atendendo a que o leite é um "bem de primeira necessidade", "as margens que os retalhistas dele retiram é quase insignificante", frisa. E, por isso, Lobo Xavier considera que "é prematuro dizer que vá haver um aumento significativo do leite, mas que tal dependerá sempre das tabelas que os fornecedores apresentarem".