"Olá, como estão de reservas? Estou em Coimbra e este mês é o pior desde que comecei a trabalhar, há cinco anos. Parece que a minha casa desapareceu do mapa apesar de ser um super host [anfitrião com bom desempenho]”. A pergunta é feita pelo dono de um alojamento local (AL) num grupo privado do Facebook de proprietários deste negócio. As respostas à publicação, datada de 11 de janeiro, sucedem em catadupa e num tom pouco animador.“É o primeiro ano em que tenho o apartamento a 0% [de ocupação]. É um T1 na rua Duque de Palmela, em Lisboa, e com boas avaliações. Nunca aconteceu, o apartamento está no mercado desde 2017”, desabafa um membro. “Lisboa, Bairro Alto. Sete anos e com ocupação a rasar os 100%, com preços na média ou pouco acima. Este mês tem sido o pior de sempre, de longe. Uma tendência que se começou a verificar desde a última semana de novembro. Há noites em que o Bairro Alto está completamente vazio”, acrescenta outro. “Lisboa, Alfama. 0% de ocupação”, aponta mais um proprietário. Os relatos são comuns a várias geografias: Lisboa, Cascais, Porto, Algarve. “Fraquíssimo”, alinham em uníssono. As queixas estendem-se na linha temporal. Um segundo post, de 19 de fevereiro, reitera a questão à comunidade de gestores desta tipologia de alojamento turístico. “Péssimo, muito poucas reservas”, “já no ano passado não foi bom, mas este ano está ainda pior”, “terrível”, “muito mau”, “pior do que em 2024”, “no Algarve tenho uma reserva por mês até junho”, são algumas das respostas dos empresários que se multiplicam no grupo da rede social. A procura turística no país arrefeceu durante o inverno, castigando, ainda mais, os meses tradicionais de época baixa, garantem os gestores. O quadro é corroborado ao DN pela GuestReady, empresa que gere mais de 1400 propriedades de AL no país. “Não sentia nada assim há muito tempo. A última vez que me lembro de uma época tão baixa foi em 2017”, afiança o diretor-geral da empresa em Portugal, Rui Silva. A perda do poder de compra dos principais mercados europeus recuou, constata, e “foi preciso reagir, como em todos os setores”, nomeadamente através da redução dos preços. “Os hotéis foram muito agressivos em termos de pricing. Quando no Porto existem hotéis de cinco estrelas a cobrar 65 ou 70 euros por noite, com pequeno-almoço incluído, o AL vai sofrer, obviamente. E foi isto que se notou a partir de novembro”, explica Rui Silva. O responsável da GuestReady destaca ainda a quebra do mercado espanhol nas reservas, um dos principais para o turismo nacional. “As pessoas, na Europa em geral, estão a ficar com menos dinheiro. Os espanhóis são muito importantes para o nosso turismo e têm menos poder de compra”, justifica. À equação da redução dos preços juntam-se ainda a inflação e o aumento dos custos que subiram “entre 15% a 20%”. “Há, inevitavelmente, menos dinheiro a ser gerado face ao mesmo período de 2024”, acrescenta. Olhando para o mapa nacional, Rui Silva aponta o Funchal como o destino que melhor tem fintado a sazonalidade. “Lisboa e Porto têm sentido o impacto da época baixa e têm sofrido em comparação com o ano passado”, indica. O balão de oxigénio poderá começar a encher a partir de março, que arranca com o fim de semana prolongado de Carnaval. Apesar de ainda não ter dados efetivos sobre as reservas deste período, há já a perspetiva de que o cenário “começa a melhorar” no próximo mês. Já sobre a Páscoa que é, por norma, a primeira grande prova de fogo do ano para o setor do alojamento, e que permite tirar o pulso àquele que será o desempenho turístico dos restantes meses, os dados são ainda extemporâneos. “A procura ainda está muito baixa. Temos, para já, cerca de 20% de ocupação. Ainda é bastante cedo e como é um período diferente, em que as tarifas são mais caras, é normal que também que as reservas sejam efetuadas mais tarde”, relata. Não obstante o refrear do apetite dos turistas entre o final de 2024 e o início de 2025, o gestor está otimista quando olha para a frente e diz-se confiante num resultado do acumulado deste ano em linha com 2024, embora admita que é necessária alguma “cautela”. “Olhamos de forma positiva para 2025, mas, obviamente, não esperamos continuar a registar os mesmos crescimentos no turismo até aqui, na ordem dos 15%. Acredito que exista uma melhoria mais para o final do ano com o abrandamento das taxas de juro na economia. Estamos otimistas, mas, para já, são só perspetivas”, remata. .ALEP pede “calma e paciência”.Para Associação do Alojamento Local em Portugal (ALEP),o atual contexto não representa um motivo de alarme para o setor. “O inverno é sempre uma época baixa não só nos centros urbanos, mas especialmente nas zonas de veraneio. É normal que por estes meses a procura esteja mais lenta em termos de reservas. É preciso ter calma e paciência”, pede o presidente da ALEP. Eduardo Miranda explica que as contas devem ser feitas “de março para a frente” considerando as épocas de Páscoa e verão que são as que impactam, efetivamente, nos resultados anuais do setor. Sobre os preços, admite que estão a acontecer “ajustes” e garante que “não há margem para baixar muito os preços que já são reduzidos nesta altura do ano”. “É imperativo não se criar um ambiente de pessimismo ou de problema exagerado porque isso acaba por afetar a perceção geral. As pessoas começam, antecipadamente, a diminuir preços e cometem erros em cima de erros. É preciso alguma tranquilidade e cuidado”, aconselha. O representante do setor do alojamento de curta duração no país diz compreender que os proprietários optem pela redução de tarifas “porque têm contas para pagar”, mas desdramatiza os resultados mais tímidos dos primeiros meses do ano. Embora esteja ciente de que o ritmo de crescimento da atividade turística este ano não se irá manter, está confiante de que o balanço final fique ao nível de 2024. Recorde-se que no ano passado foram atingidos números recorde no turismo em Portugal, com receitas históricas de 27,7 mil milhões de euros (+8,8% que no ano anterior), confirmou, na semana passada, o Banco de Portugal. O país recebeu 36,1 milhões de hóspedes (+5,2%) que foram responsáveis por 80,3 milhões de dormidas (+4%), refere o Instituto Nacional de estatística (INE). Já os proveitos totais do alojamento turístico - que somam ao alojamento outros gastos inerentes à estada dos turistas como restauração, lavandaria entre vários outros serviços - cresceram 11%, para 6,7 mil milhões de euros. .ALEP congratula-se com revogação da contribuição extraordinária sobre Alojamento Local