O enólogo, Luís Silva (à esq), e o presidente da Adega de Palmela, Ângelo Machado
Rita Chantre / Global Imagens

Adega de Palmela quer duplicar exportações até 2030

Com 200 associados e uma área de vinha de mil hectares, a cooperativa fechou 2024 com 7,3 milhões de euros de vendas. A perda dos mercados do leste, como a Rússia, obrigam à procura de alternativas.
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A adega de Palmela, estrutura cooperativa que comemora, em setembro, 70 anos de existência, quer duplicar a sua faturação nos mercados externos até 2030. As exportações valem, atualmente, 14% das vendas, tendo duplicado nos últimos cinco anos. E nos próximos cinco, a ambição é chegar aos 30 a 35% da faturação. Substituir os mercados do leste europeu, que constituíam o principal destino externo dos vinhos da adega, é o desafio em marcha.

Com cerca de 200 associados e mil hectares de vinha plantada, a adega de Palmela fechou 2024 com vendas de 7,3 milhões de euros, num ano que o presidente da cooperativa classifica de “muito estranho e muito difícil”. Ângelo Machado explica: “O excesso de vinho, em especial de tinto, tornou todo o ano de 2024 muito difícil em termos de gestão de valor e de produto. As expectativas para 2025 são um bocadinho mais animadoras, apesar da conjuntura internacional também não ajudar muito”, numa referência à guerra na Ucrânia, mas também à mudança de hábitos, que tem levado os consumidores a preferirem crescentemente os vinhos brancos e rosados, em detrimento dos tintos, quando a produção da adega é, tradicionalmente, de tintos.

A solução tem passado, refere por seu turno Luís Silva, gerente e enólogo da adega, por aproveitar os fundos disponíveis para a reestruturação de vinhas, ao abrigo do Vitis, por forma a ajudar os associados a terem um “encepamento mais enquadrado naquilo que é a procura dos consumidores”. Em média, a adega de Palmela recebe nove milhões de quilos de uva, que geram cerca de sete a oito milhões de litros de vinho. Destes, 70% são tintos e essa transformação é que tem de ser operada. Mas leva tempo.

Com as vendas ao exterior a valerem mais de 10%, como já foi referido, o Brasil, França e China são os três maiores mercados da adega. Os vinhos que habitualmente destinava aos mercados do leste, em especial a Rússia, Bielorússia e Ucrânia, estão a ser encaminhados para o mercado interno, mas com efeitos ao nível do preço. E se é verdade que os dados do INE mostram que as exportações de vinhos portugueses para a Rússia quase triplicaram, em 2024, não é menos certo que se trata, maioritariamente, de vinhos brancos e, em especial, de Vinhos Verdes. Números que surpreendem Ângelo Machado, que aponta a guerra tarifária que a Rússia está a fazer aos vinhos importados.

“A Rússia está a impor impostos de dois euros por litro aos vinhos importados, quando o consumidor russo procura vinhos que não sejam muito caros. Isso significa que um vinho que saia cá por um euro, fica logo por três euros ao entrar, ainda sem qualquer margem”, frisa. Já Luís Silva lembra, ainda, os constrangimentos em termos de trocas financeiras. “É um mercado complicado. Como é que se dá crédito a empresas de um país que está em guerra?”, questiona.

Em termos de estratégia, o enólogo afirma que o objetivo da adega tem sido o de valorizar as uvas aos produtores, mesmo num mercado cada vez mais difícil. “É um desafio tremendo, sermos competitivos no mercado nacional e internacional e ter um valor interessante [para as uvas], para que os nossos associados continuem a produzir com a qualidade que desejamos”, admite.

Luís Silva fala em concorrência desleal por parte de vinhos que entram em Portugal a partir da União Europeia, nomeadamente de Espanha, ao que classifica de “preços inexplicáveis e impossíveis de praticar em Portugal”. Para este responsável, o reforço da fiscalização é essencial, para garantir que “o consumidor não compra gato por lebre”.

Sobre a vontade de crescer além-fronteiras, Luís Silva reconhece que o mundo é grande, “mas está a ficar muito pequeno com estas guerras e questões conjunturais”. De qualquer forma, a adega de Palmela continua o seu trabalho em busca de alternativas, designadamente procurando cimentar a sua posição no Brasil, um mercado que tem estado em expansão, e procurando abordar outros países, como Angola, que “não é um mercado fácil, mas que dá grande preferências aos produtos portugueses”. Uma abordagem mais próxima aos mercados chinês e britânico são outras das potencialidades a desenvolver.

Por outro lado, e em termos nacionais, a aposta no enoturismo, uma área em que a adega começou a investir há três anos, começa a dar frutos. O centro de visitas funciona todo o ano, para provas de vinhos e degustação de produtos regionais, mas também recebe eventos particulares. Em 2024, recebeu cerca de seis mil visitantes, um número “muito positivo atendendo a que se trata de aposta muito recente”, destaca Luís Silva.

Quanto ao aniversário, que se celebra a 27 de setembro, em plena vindima, a adega de Palmela está a preparar um evento antecipado para 24 de maio, abrindo as suas portas à população da região e a todos os que quiserem visitar a cooperativa. Além disso, está em preparação o lançamento de três novas referências de vinho: um Moscatel Roxo, uma inovação na gama de produtos da adega, uma Aguardente Vínica XO e um Grande Reserva comemorativo dos 70 anos. Susana Madeiras, diretora Comercial da cooperativa, diz que haverá uma série de eventos durante a tarde do dia 24 de maio, com workshops, provas comentadas e até o concerto de uma orquestra para assinalar um dia que se pretende especial.

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