É viciado no trabalho ou não pode viver sem o sucesso?

Publicado a
Atualizado a

Já pensou que se calhar não é viciado em trabalho mas sim na

sensação de sucesso que lhe dá estar sempre a trabalhar? Pois é,

trabalhar muito está longe de ser igual a trabalhar bem e se há

coisa que nunca acaba é o trabalho. O desafio agora é conseguir

desligar de vez em quando. Desligue-se, pela sua saúde, pela saúde

da sua família e pela saúde da sua empresa.

Pense no seguinte: Trabalha demasiadas horas. Transporta

dispositivos sem fio para todo o lado. Está ao telefone no jogo de

futebol dos miúdos. Trabalha frequentemente nas férias.

Isto descreve a sua vida? Se é como as centenas de alunos de

formação para executivos que ensino todos os anos na Harvard

Business School, você fala sobre as horas que trabalha, os locais a

partir dos quais trabalha (até em férias), as horas a que trabalha

(mesmo quando deveria estar a passar tempo com a família e amigos),

do facto de os seus dispositivos sem fios nunca estarem fora do

alcance, e diz sem qualquer hesitação que está sempre "ligado".

E, provavelmente, afirma ser um viciado.

Mas é viciado em quê? No seus dispositivos sem fios? No

trabalho? Estes são os suspeitos mais comuns, mas eu defendo que

muitos - se não a maioria - de nós somos viciados no sucesso.

Somos "successaholics", e não "workaholics". Estamos

obcecados com o trabalho devido à satisfação que obtemos com a

glória da concretização, e não por causa de alguma satisfação

profunda em trabalhar demasiadas horas, como um fim em si. E o que

isto significa é que é a definição do sucesso, e não algum

problema enraizado de personalidade, que está na origem do porquê

de estarmos sempre ligados. Se isto for verdade, então desligar

exige mudar o que valorizamos uns nos outros, e não mudar-nos a nós

próprios.

Tad, um participante num dos meus estudos recentes, é um ótimo

exemplo de quão fácil é confundir um "successaholic" com um

"workaholic". Tad é consultor no Boston Consulting Group. Quando

lhe propus a ideia de se desligar por períodos distintos de tempo - com o apoio total do seu chefe - Tad explicou-me: "Vai ser

muito difícil pôr de lado... mesmo nos fins-de-semana, não consigo

pôr de lado... estou sempre a pensar em trabalho." Tad estava

habituado a levar o seu Blackberry para todo o lado e quer fosse

durante as reuniões de trabalho, o casamento do seu melhor amigo ou

momentos tranquilos com a sua filha de nove meses, continuava a vê-lo

para evitar ser surpreendido com uma chamada do tipo "oh meu Deus, Tad, isto está a arder".

Mas Tad fazia parte de uma equipa com a qual eu estava a realizar

uma experiência. Esta consistia em que cada membro da equipa

"desligasse" uma noite por semana. A partir das 18h, dessa noite,

não podiam fazer nada relacionado com o trabalho - nem sequer ver

os seus dispositivos sem fios. Tinham que se desligar completamente

do trabalho. A noite de folga de cada pessoa era definida com tempo

suficiente de antecedência e não podia ser alterada, mesmo que de

repente houvesse algo para entregar a clientes no dia seguinte. E

todas as semanas a equipa reunia-se para discutir o seu progresso,

exigindo-se a cada membro da equipa que partilhasse se não tinha

trabalhado nessa noite, e se tivesse trabalhado, a razão. De

repente, estar sempre "ligado" já não era a medalha de honra

que costumava ser. Mais, os membros da equipa eram aplaudidos em

público por arranjarem tempo livre - mesmo na noite antes de uma

entrega importante - e eram criticados por não descansarem nessas

noites.

Tad, como muitos outros, resistiu a este plano no início. Encarou

isto como um situação que provocava mais stress e não o contrário.

Como ele próprio disse, interferia com a sua capacidade de se manter

sempre a par do que se estava a passar.

Contudo, várias semanas após o início da experiência, Tad

contou com alegria: "Foi o primeiro sábado em três anos que

não vi o meu Blackberry!" E, passado pouco tempo, isso

aconteceu outras vezes. Desligar-se do trabalho tinha em tempos sido

quase inconcebível e indesejável, mas como resultado de ser

"forçado" a trabalhar com os seus colegas de equipa para o

fazer e torna-lo possível para todos, Tad aprendeu que desligar-se

não só era exequível como lhe permitia ser mais produtivo e

sentir-se mais realizado. Ele ficou tão entusiasmado com os

benefícios para si, e os seus colegas, que se tornou um dos maiores

defensores de gerir equipas que trabalhavam em conjunto para se

"desligarem" durante períodos de tempo distintos e previsíveis

todas as semanas.

Ver o Tad, e tantos outros como ele, ensinou-me que as pessoas que

parecem felizes com a semana de trabalho interminável, na realidade

estão felizes com um trabalho bem feito. E, logo que a definição

de sucesso muda, o mesmo acontece com o seu comportamento. Tad, que

estava convencido que era workaholic descobriu que não só conseguia

"desligar-se", como apreciava a oportunidade de o fazer. Nota: Se

Tad fosse um workaholic como acreditava ser, mudar o que os outros

esperavam dele teria tido pouco efeito na sua experiência de "se

desligar".

E você? É viciado no trabalho? Ou sentir-se-á na realidade

valorizado por fazer um bom trabalho? O que aconteceria se as pessoas

começassem a levar a mal sempre que ficasse a trabalhar até tarde,

enviasse e-mails depois de uma determinada hora ou lhes ligasse nas

férias? A sua primeira reação seria provavelmente de ansiedade, e

não alegria. Mas pense melhor sobre o que aconteceria. Consegue

imaginar como passaria o tempo livre? E se além de se esperar que

você desligue, a sua equipa lhe proporcionasse a rede de apoio para

tornar isso possível?

O meu conselho: tente trabalhar com a sua equipa para que isto

aconteça - apoiem-se mutuamente a desligar do trabalho e poderá

ficar surpreendido com o resultado, ou seja, com o quanto irá

gostar.

Leslie A. Perlow é professora de liderança da Harvard Business School e autora de Sleeping With Your Smartphone

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt