Vinho: uma alternativa à Bolsa

Quer ter uma taxa de retorno de 10% a 12% ao ano e com um risco mínimo? A OENO explica o que tem de fazer. Damos uma pista: envolve o néctar dos deuses e uma empresa que pretende cativar 5 milhões de euros de investimento este ano. Em Portugal.
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A grande vantagem de investir em vinho (em detrimento de investir em ações, por exemplo) é que, se acontecer alguma coisa à empresa, temos sempre o vinho para beber. Foi desta forma irónica que Cláudio Martins apresentou ao DN o OENO Group, um grupo que compra e vende fine wines e tem garantido retornos superiores a materiais valiosos como o ouro. O que o transforma "no melhor investimento de sempre". Criada em 2017, a OENO já é apresentada, explica Cláudio Martins, como a melhor empresa de investimentos em vinhos (raros) da Europa.

Como tudo funciona? Uma empresa como a OENO tem no seu portefólio milhões de euros em vinhos, "que também pertencem aos seus investidores". Para tal, a empresa vai procurar vinhos raros, produções limitadas, vinhos reconhecidos, com boas críticas, vinhos de futuro (que acreditam que têm potencial e que são comprados com antecedência, ainda numa fase de estágio)... há todo um conjunto de critérios (específicos) que os vinhos têm de cumprir para constarem do portefólio. Quanto a valores, há vinhos a entrar no portefólio da OENE e que têm como preço base 50 euros. Pelo menos numa fase inicial. Porque, com o tempo, valorizam e "vão para preços que nunca mais acabam". Um exemplo? Recentemente, uma garrafa de vinho de Bordéus foi vendida por quase 200 mil euros. O equivalente à aquisição de uma habitação nalguns pontos do país. As garrafas são depois acondicionadas nas instalações (protegidas) da OENO (em alternativa, o investidor pode alugar outro espaço, tem é de estar preparado para acondicionar vinhos) e só saem de lá ou quando surge uma proposta de aquisição e o investidor aceita vender ou quando decide... bem, beber a dita garrafa. Sendo que a proposta de aquisição tanto pode vir de solicitações de outros investidores que estão à procura de determinado vinho ou de algum restaurante. Sim, porque a OENO também vende para restaurantes.

E qualquer um pode ser investidor? Claro, tendo a noção de que 10 mil euros de base é um bom início. Significa isto que não pode optar por um investimento menor? Não. Como refere Cláudio Martins, a questão de se investir apenas cinco mil euros, por exemplo, é que depois não se consegue obter tanto retorno. É uma questão de decisão. O investidor até pode investir 10 mil euros e decidir que só quer apostar em vinhos de elevado valor, o que significa que irá comprar menos garrafas do que se optar por investir em vinhos de futuro, onde o valor tende a ser mais baixo. O conceito é semelhante à bolsa, mas o nível de risco é menor. O gestor de conta atribuído ao investidor faz um plano de investimento face ao objetivo estabelecido, estando incluído no preço o acondicionamento dos vinhos, assim como um seguro para os mesmos.

Há dois tipos de investidores. Há quem invista para beber - e que atualmente representa cerca de 30% dos investidores -, os outros 70% investem como se de uma bolsa se tratasse - para rentabilizar. Para isso há que perceber que a OENE não só trata da aquisição dos vinhos (com especial enfoque nos considerados de futuro) mas também faz a comercialização dos mesmos. O que significa que, à medida que as garrafas vão sendo vendidas, o seu preço aumenta, porque se tornam mais limitadas.

O namoro teve início há algum tempo e agora, finalmente, acertaram o passo. Cláudio Martins é, oficialmente, embaixador da OENO para Portugal e Brasil, tendo dois objetivos: por um lado, dar a conhecer os vinhos portugueses (e conseguir que alguns deles entrem no catálogo da OENO) e angariar investidores - sabendo que, provavelmente, o maior número virá do mercado brasileiro (apesar de tudo, já há cerca de 20 clientes nacionais).

Neste momento, Portugal é praticamente desconhecido do portefólio da OENO. Algo que Cláudio quer alterar. É certo que, como qualquer outro negócio, Cláudio quer angariar clientes em ambos os mercados. No entanto, afirma que o objetivo maior é introduzir alguns vinhos portugueses nalguns portefólios de certos clientes. "Vai ser uma luta", reconhece, embora acrescente que não acredita que será uma luta muito longa. Aliás, já foram identificados alguns vinhos que Cláudio acredita que têm potencial para entrar em portefólios. Para já, numa primeira fase, o trabalho passa por "encontrar algumas relíquias portuguesas e contar uma boa história".

Contar a história da família, falar sobre a sua qualidade e raridade... uma forma de dar a conhecer Portugal e os vinhos portugueses e de convencer os investidores a apostarem dinheiro nos vinhos nacionais. Há muitos bons vinhos (e produtores) em Portugal. Mas há um problema que ainda não foi resolvido. "Têm de ser reconhecidos lá fora", alerta Cláudio, que acrescenta que, ao conseguir inserir vinhos portugueses no portefólio da OENO, vai fazer com que o mercado externo olhe para Portugal com outros olhos que não apenas de ser um país que "faz bons vinhos e muito baratos".

O objetivo é terminar 2021 com cinco milhões de investimento, sendo que desde 1 de fevereiro, data em que a parceria foi lançada, já realizaram 10% desse valor. Já no Brasil pretende-se triplicar este valor, mas Cláudio tem noção de que, para o conseguir, tem de estar presente no mercado. E isso só quando as restrições relativas à pandemia assim o permitirem.

Ao contrário do que se poderia pensar, a pandemia foi boa para o negócio da OENO. Por um lado, aumentou, e muito, o número de clientes (diga-se investidores). Além disso, como refere Cláudio Martins, janeiro e fevereiro deste ano têm melhores valores do que em 2020. Isto porque o investidor - sendo que há quem invista um milhão, dois milhões de euros - atualmente prefere diversificar o seu leque de opções e não investir apenas num tipo de ativo. Por outro lado, o confinamento esvaziou as "adegas" pessoais e obrigou a uma reposição do stock. Isto levou a uma transferência de um consumo (de vinhos caros) que antes se fazia nos restaurantes para ser feito na própria habitação. "E, em casa, consome-se ainda mais, e a um preço mais apetecível", refere Cláudio Martins. Resulta? "Em vez de levarem uma ou duas garrafas para casa, compram uma caixa de 12."

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