Vera Eiró: "A saúde, tal como a água, é algo que, vezes demais, damos como adquirido"

Vera Eiró é presidente do conselho de administração da ERSAR.
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Como antevê o retrato da saúde em Portugal no próximo ano?
Ter saúde é o nosso maior ativo. Perante a pandemia que vivemos nos últimos dois anos, todos passámos a ter essa noção mais clara. Em 2022, espero que o Estado português, as entidades europeias e mundiais e os profissionais que promovem a saúde pública continuem a desempenhar a sua missão essencial para proteger a vida de todos os cidadãos. A saúde, tal como a água, é algo que, vezes demais, damos como adquirido. Mas há um sistema (quase invisível) que cuida, trata, dá garantias e, como tal, deve ser valorizado pela comunidade e pelas políticas públicas.

Qual seria para si/que característica teria o governo ideal para o país?
O governo ideal é o que serve os cidadãos da República, garantindo o equilíbrio institucional consagrado na nossa Constituição.

De que forma poderá Portugal voltar a colocar a economia na rota de crescimento?
Terá de haver melhorias significativas na gestão, produtividade, captação e retenção de talento, assim como na aposta na inovação, valorização dos recursos naturais (como os recursos hídricos, por exemplo) e na proteção do ambiente.

Regulação: um travão ao crescimento ou uma oportunidade?
A regulação é imprescindível para o crescimento. É uma ferramenta do Estado que garante aos cidadãos a qualidade de serviços públicos essenciais e promove a livre concorrência, com consciência social, sem esquecer a sustentabilidade económica e financeira das entidades que, no caso da água e dos resíduos, gerem, tratam e distribuem bens essenciais na vida dos cidadãos. No caso da ERSAR, a oportunidade que tem enquanto entidade reguladora autónoma e independente é esta missão extraordinária de servir os consumidores de hoje e de amanhã - de serviços públicos essenciais de água e resíduos urbanos.

Os recursos hídricos são uma preocupação para o planeta. Que medida
deveria ser tomada em 2022 para acautelar a sua boa gestão?

Em 2022 e, aliás, em todos os anos, é essencial usarmos e gerirmos a água de forma consciente e mais regrada. Se cada um de nós valorizar mais a água tratada nas nossas torneiras como um bem essencial e escasso, decerto que terá (teremos) mais cuidado quando abre a torneira para beber, tomar banho, regar o jardim ou lavar loiça, por exemplo. Se cada município (direta ou indiretamente) tiver uma política tarifária sustentável - seguindo, por exemplo, as recomendações da ERSAR - decerto que haverá mais condições para garantirmos às gerações vindouras que são feitos os investimentos necessários na rede. Estes investimentos em manutenção e modernização são essenciais para manter a quantidade e a qualidade de água na torneira de que hoje beneficiamos.

Qual é aquele livro/desporto /viagem/atividade que tem vindo a adiar e que quer mesmo ler/fazer no novo ano?
Não sei se é por estarmos em pandemia há dois anos, mas não sinto que tenha adiado nada para o próximo ano. Farei em 2022 o melhor que souber e puder fazer. Espero ter tempo para ler os livros que me oferecerem no Natal. Tenho a sorte de ser usualmente surpreendida por presentes no Natal que são boas leituras que me duram o ano todo.

Se fosse um super-herói, qual seria?
Não gostaria de ser super-herói (ou super-heroína). Vejo nas fragilidades (e na nossa capacidade de as ultrapassar) a maior força do ser humano. Mas, se tivesse de escolher, escolheria alguma personagem com o poder (sobre-humano?) de conseguir viver feliz e serena com pouco. Aproveitando de forma sustentável e valorizando o que lhe é, literalmente, oferecido pelo planeta.

Um luxo para si, em 2022, é?
Continuar a beber água da torneira, de qualidade e em segurança. E, como já me disseram, e por que não?, "brindar com água" a um ano que possa ser de festa, de comunidade, de crescimento, de sustentabilidade e de saúde.

Alterações climáticas: que contributo irá dar, quer a título pessoal quer através da sua instituição, para colmatar esses efeitos?
As alterações climáticas obrigam a uma urgente consciência de mudança e de adaptação de hábitos tão simples como produzir menos resíduos, reciclar, reutilizar ou ter mais cuidado quando se abre a torneira. Procuro fazer isso em casa, junto dos meus filhos e dos meus amigos. Na certeza de que há sempre espaço para melhorar e há hábitos difíceis de alterar. Mas esta é uma área onde com pouco conseguimos fazer muito, pelo que vale sempre a pena começar. Na ERSAR, enquanto entidade reguladora, vamos comunicar mais e melhor para sensibilizar os consumidores para estes temas. Iremos manter a transparência e a equidade nos pareceres que damos e nas nossas decisões relativas aos diferentes tarifários de águas e tratamento de resíduos urbanos.

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