Uma smart city no meio do deserto. Bem-vindos aos bastidores da Expo Dubai 2020
Há muito pó no ar e, desta vez, não é provocado pelos ventos do deserto, mas sim das obras que correm como furacões nas areias do Dubai. Estamos na estrada em direção ao sul deste país que integra os Emirados Árabes Unidos (EAU). Seis faixas para cada lado, 39 graus de temperatura (com sensação térmica de 43) e aí vamos a caminho de uma área de 4,37 km2 a serem preparados para a Expo Dubai 2020. Aqui já estão a ser erguidos os primeiros pavilhões do evento mundial, onde 192 países vão promover-se.
À chegada aos bastidores da Expo Dubai 2020, o pavilhão com maior impacto visual é o do próprio Dubai, em forma de falcão, símbolo da bandeira nacional. Ali ao lado está a sala de imprensa, que vai acolher os esperados 20 mil órgãos de media. A partir das janelas desta sala vê-se toda a área de construção e fica-se com a clara sensação de que o Dubai e os EAU querem exibir, sem complexos, todo o seu poder político e económico. E não se trata apenas de impressionar com investimento e edifícios que integram os três distritos - oportunidade, sustentabilidade e mobilidade - desta exposição. O Dubai pretende marcar tendências e surpreender o mundo enquanto destino sustentável, exigente na gestão das fontes de energia e atento às alterações climáticas. Por isso, desafiou a alemã Siemens a criar uma smart city de raiz para a Expo 2020.
Só daqui a um ano é que o fogo-de-artifício sobe aos céus para assinalar a abertura da exposição mundial dedicada ao tema Connecting Minds, Creating the Future". Até lá "estamos a construir uma cidade inteligente, com base em IoT (a internet das coisas), sustentável em termos de energia e de construção", explica ao Dinheiro Vivo o CEO da Siemens para todo o Médio Oriente, Dietmar Siersdorfer.
"Nesta região, Omã está a investir em eólicas, a Jordânia e o Iraque a apostar em várias renováveis, o Dubai está a construir um parque solar gigante e estamos a desenvolver um projeto de hidrogénio para alimentar a Expo 2020", revela Siersdorfer. No caso do hidrogénio, "vai conectar a produção de energia, a mobilidade e a indústria no país, sempre produzido de uma forma verde". Além disso, "é preciso combiná-lo com renováveis e é isso que a Siemens está a fazer para a Expo 2020".
O CEO da Siemens para todo o Médio Oriente falou ao Dinheiro Vivo em Masdar, num encontro em que foi o único jornal português presente entre cerca de duas dezenas de jornalistas do mundo inteiro, desde a China até Angola. Masdar, é uma smart city perto da Expo 2020, mas já do lado de Abu Dhabi. Trata-se de o local onde a Siemens tem os escritórios para a região e onde construiu todos os sistemas inteligentes de gestão da urbe, em jeito de balão de ensaio para a grande exposição mundial. Aqui, cada desenho de arquitetura, cada projeto de especialidade, tem em conta as temperaturas altas, as necessidades de sombra e de brisa, a ausência de água e a vivência humana. Tudo está conectado por IoT.
A conceção da cidade foi feita em 2006 e foram necessários três anos para tornar o projeto realidade. Masdar já é uma referência de gestão sustentável, por isso destaca-se nas construções que não emitam CO2. A cidade foi projetada para utilizar energia fotovoltaica gerada pelos painéis solares instalados nos telhados de edifícios: "Hoje é uma smart city e uma zona franca, perto do aeroporto e do Dubai, que atrai investidores de todo o mundo. Aqui contam-se já 600 empresas, para além do peso da componente residencial", conta o CEO da Siemens para todo o Médio Oriente.
Depois do balão de ensaio em Masdar, todas as atenções se concentram agora na exposição mundial. "Ter ganho este projeto como parceiro de IoT tem que ver com o facto de fazermos tudo integrado. Ou seja, há uma total conectividade", acrescenta Cedrik Neike. O desafio consiste em ligar todos os edifícios através de uma plataforma de análise baseada na cloud (nuvem), chamada MindSphere. "Foi concebida e desenhada para digitalizar e otimizar a Expo 2020. Vai recolher, analisar e monitorizar dados em tempo real, de mais de 130 edifícios da Expo, para permitir uma gestão mais eficiente - permitindo, entre vários fatores, a poupança energética.
A Expo Dubai 2020 é hoje a maior plataforma do mundo de smart cities. É um autêntico laboratório de inovação. "Vai ser desafiante, por exemplo, controlar as 3500 portas da exposição mundial, bem como as cinco mil câmaras capazes de identificar os visitantes. O hardware, software, produto e engenharia é da Siemens e o projeto está assente em 5G, (a quinta geração de internet móvel), uma tecnologia essencial para que tudo funcione, como se se tratasse de uma gigantesca sala de controlo", explica Afzal Mohammed, diretor da MindShere para a Expo 2020.
"Esta é uma oportunidade para projetar o futuro, mostrar o progresso e as mudanças", afirma a ministra de Estado do Dubai, Reem Al Hashimy, enquanto dá as boas-vindas aos países já inscritos para a grande exposição. Portugal será um deles. O país mergulhará numa experiência imersiva, na qual poderá aprender mais sobre como construir e gerir cidades inteligentes e por que razão se torna urgente lançar o concurso para instalar a tecnologia 5G em Portugal.
Uma mulher, tapada da cabeça aos pés, abre a conferência Expo Dubai 2020 - Global Media Briefing. Jornalistas internacionais, que enchem a sala, comentam como o mundo árabe está a mudar e olham a plateia e os muitos árabes homens, sentados e sem palco, igualmente trajados a rigor, como dita a cultura árabe. Aliás, para as mulheres a abaya (vestido tradicional) é motivo de orgulho, dizem.
No Dubai, um dos países mais ocidentalizados do Médio Oriente, Reem Al Hashimy, a mulher que é ministra de Estado, diz ao que vem: "Mostrar a nossa ambição ao mundo, projetar o futuro e colher frutos no futuro. Mostrar o progresso e as mudanças. Estar na linha da frente do conhecimento, ser um exemplo de estabilidade e esperança e uma voz no diálogo internacional."
A jornalista viajou a convite da Siemens