Um quarto dos portugueses espera melhoria de rendimento apesar da pandemia

Estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos revelam um "otimista tímido" das famílias quanto ao futuro, mas que poderá desaparecer no inquérito do segundo semestre, dada a evolução recente da covid-19
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Mais de metade dos portugueses (55,8%) não espera qualquer variação no seu rendimento familiar em 2021 e há até 25,7% que espera uma melhoria da sua situação financeira. Os dados são do estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos e revelam "um otimismo tímido" quanto ao futuro. Miguel Portela, da Universidade do Minho, foi um dos coordenadores do trabalho na área da Economia, e admite que a perceção e as expectativas das famílias tenham mudado.

"O inquérito reporta-se aos meses de março e abril, altura em que a expectativa dominante era a de uma rápida recuperação da economia. No seguimento da evolução recente da pandemia é de esperar que a perceção e expectativas da população se alterem no segundo semestre", admite, em resposta escrita a questões colocadas pelo Dinheiro Vivo. Recorde-se que o trabalho de campo do trabalho "Impactos económicos, sociais e políticos da covid-19 em Portugal" decorreu de 16 de março a 20 de maio e que, em setembro, será realizada nova vaga de inquéritos. Os resultados finais serão conhecidos na primavera de 2022.

Mas nos resultados preliminares agora avançados, é curioso verificar que, apesar de uma visão positiva quanto ao futuro individual, a perceção global da atual situação económica em Portugal por parte dos interpelados "é genericamente negativa", indica o estudo, que aponta a existência de 63,5% de respostas que classificam o estado da economia como mau (44,6%) ou muito mau (18,9%). Mais otimistas são as perspetivas quanto ao emprego nos próximos seis meses, já que quase dois terços dos portugueses (64,9%) crê que será "pouco ou nada provável" que um dos membros da família continue, ou venha a ficar, desempregado.

A pergunta sobre as perspetivas de evolução da economia nacional em 2022 provocou uma "clara cisão" na amostra, já que 37,6% dos inquiridos acreditam numa evolução positiva no próximo ano, o que colide com os 30,6% que defendem o contrário. Há ainda um quarto dos participantes no estudo que aposta numa manutenção do estado atual dos parâmetros económicos do país e 6,4% que assumem não fazer ideia como irá a situação evoluir.

A equipa debruçou-se sobre os dados das contas nacionais do INE para avaliar os efeitos da pandemia na riqueza produzida. Sem surpresa, os dados mostram que, "apesar de ser já visível algum impacto adverso da pandemia no primeiro trimestre de 2020", foi no segundo trimestre que se observou uma "quebra claramente mais acentuada" nas diferentes rubricas. As exportações foram as mais afetadas, com um decréscimo de 39,2%, seguindo-se as exportações, com um recuo de 29,1%. Já o consumo privado caiu 14,9% e o investimento 10%. O consumo público recuou só 4%.

Já a análise aos valores comparativos do emprego e das horas trabalhadas mostram que a quebra das horas trabalhadas, que é de 23,8%, é sete vezes superior à quebra do emprego, um reflexo das medidas de proteção implementadas pelo Estado, designadamente o lay-off simplificado.

Em termos setoriais, os dados do valor acrescentado bruto mostram que os mais afetados foram o comércio (-25,3%), indústria (-23,2%) e transportes (-16,4%). Do lado oposto estão os setores financeiro e da construção (esta manteve a sua "trajetória ascendente", ainda que a um ritmo ligeiramente mais baixo).

Quanto ao efeito da pandemia no consumo, 64% das famílias indicam que cortaram nas despesas em restauração, 58% em cabeleireiros e beleza, 55% em viagens terrestres e 54% em cultura e vestuário. Em contrapartida, gastaram mais em eletricidade, gás e água (44% dos inquiridos), no comércio online (34%) e no retalho (34%).

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