Tony Blair: "O atual estado da política ocidental é deprimente"
Depois de uma palestra dedicada ao Brexit, Tony Blair voltou esta quarta-feira à Web Summit para falar de tecnologia. Desta vez, o antigo primeiro-ministro do Reino Unido subiu ao palco principal da Altice Arena, onde deixou recados, críticas e conselhos aos atuais líderes mundiais. Na pele de presidente do Institute for Global Change, Blair explicou que o seu "fascínio" hoje em dia é unir os decisores políticos aos "agentes da mudança" tecnológica, uma relação que ainda está longe do ideal.
Na visão do antigo primeiro-ministro britânico, é sobretudo neste capítulo que "o atual estado da política ocidental é deprimente", e "parece que há uma competição entre políticos para ver quem toma as medidas mais loucas. Neste momento acho que vamos à frente, estamos mesmo no topo e nem damos espaço à concorrência", sublinhou.
Para o antigo líder do Reino Unido, os atuais líderes políticos não estão suficientemente despertos para a importância que a tecnologia tem na sociedade. O tema "devia torna-se central" no debate político, considera, mas o problema é que os políticos só se preocupam com tecnologia na hora de regulá-la. Não querem saber da disrupção que a tecnologia significa para a saúde, a educação ou os transportes. "É como se a política e a tecnologia estivessem em salas diferentes", e é preciso derrubar as paredes.
Dando o exemplo do debate sobre corte de impostos nos EUA, segundo Blair era impossível perceber se essa discussão estava a ter lugar em 2017 ou nos anos 80, porque os argumentos "são os mesmos".
Questionado sobre a regulação das tecnológicas por parte de políticos "que não percebem do que estão a falar", Blair destacou que nesta altura, as tecnológicas já conquistaram tanto alcance e poder que é impossível regulá-las como se fossem serviços de há 50 anos. "Os políticos são pessoas muito simples: se não percebem uma coisa não vão gostar dela, e se não gostam dela vão querer regulá-la, e na maior parte das vezes mal".
Daí o desafio maior da atualidade ser, para o antigo primeiro-ministro, encontrar uma forma eficaz de casar os dois mundos. "Não se pode regular as tecnológicas simplesmente reagindo a histórias individuais. É preciso dar um passo atrás e tentar perceber como é que estas empresas estão a mudar o mundo e como é que isso afeta o interesse público".
O afastamento entre política e tecnologia, continuou Blair, é "perigoso e preocupante", e aqui entra a relação do mundo ocidental com a China. "Ainda não decidimos se nos separamos da China ou se tentamos uma competição concorrencial. O que eu acho é que se existe uma área onde a Europa e os EUA deviam trabalhar juntos é nesta cooperação tecnológica e na forma como se lida com a China, porque defendemos os mesmos valores da democracia liberal".
Apesar do discurso focado na tecnologia, Blair não desperdiçou a oportunidade de voltar a refletir sobre a "tragédia" do Brexit, que classifica como "uma distração face aos verdadeiros problemas" do país. Confirmou que vai votar no Partido Trabalhista nas eleições de 12 de dezembro, o que não significa, ressalvou, que concorde com o rumo que o partido está a tomar. "Porque honestamente não concordo".
No fim, deixou uma mensagem sobre tecnologia, otimismo e futuro. "O populismo explora o pessimismo. Quando as pessoas estão pessimistas procuram alguém para culpar. Quando estão otimistas, procuram oportunidades. Eu estou otimista porque acredito que a tecnologia vai trazer enormes benefícios, se tratada corretamente. A chave para derrotar o populismo está na tecnologia".