Tesla e Porsche põem prego a fundo nas vendas de carros de luxo
Há cada vez mais carros de luxo a serem vendidos em Portugal. No ano passado, foram comercializados 1452 automóveis neste restrito segmento de mercado, um aumento de 49,7% em relação a 2018. Foram praticamente quatro carros de luxo por dia a saírem dos concessionários, muito por culpa da entrada da Tesla e da Porsche nestas contas, segundo os dados da ACAP - Associação do Comércio Automóvel de Portugal fornecidos ao DN/Dinheiro Vivo. E já não são só os portugueses a adquirirem estes veículos.
A norte-americana Tesla, que já vale em Bolsa mais de 100 mil milhões de dólares, consegue mesmo ter o modelo de luxo mais vendido: o Model X vendeu 193 unidades. Neste segmento, é o único carro totalmente elétrico à venda em Portugal e que também tem conquistado os clientes com as portas que fazem lembrar as asas de uma gaivota. Com apenas o Model X, a marca de Elon Musk ficou com uma quota de mercado de 13,29%.
As marcas alemãs, apesar de tudo, continuam a dominar as escolhas dos portugueses neste mercado só acessível a algumas bolsas. Mercedes, BMW e Porsche foram as três marcas mais vendidas: juntas, representam quase três quartos deste segmento, com uma quota de 72,6%.
Os carros de luxo em Portugal representam somente 0,65% de todo o mercado de ligeiros de passageiros em Portugal. É um segmento muito restrito e que, a nível mundial, "está intimamente ligado ao crescimento económico e à criação de riqueza", refere Helena Amaral Neto, professora do ISEG. "O setor automóvel de luxo mundial cresceu 5% em 2018, com vendas globais de 495 mil milhões de euros, e espera-se um crescimento de 6% nos próximos 5 anos", acrescenta a especialista neste mercado.
A Mercedes foi a primeira escolha em Portugal, tendo vendido 382 unidades. O superdesportivo AMG GT foi o carro favorito da marca de Estugarda, com 142 unidades, cada uma a custar pelo menos 114 950 euros. A BMW ficou na segunda posição, com 381 unidades. Na marca de Munique, a preferência foi para o executivo desportivo Série 6, que rendeu 108 matrículas e com preços a começar nos 65 mil euros mas que podem atingir a barreira dos 100 mil euros, conforme a motorização pretendida.
A terceira posição foi da Porsche, que cresceu para 292 matrículas porque a partir de 2019 voltaram a ser contabilizados os dados de vendas de todas as concessões, ao contrário do que acontecia em anos anteriores. Nesta marca, o coupé Panamera foi o modelo mais comprado, com 174 unidades. O preço base deste veículo é de 119 500 euros.
Apesar de o modelo de luxo mais vendido ter sido puramente elétrico, o gasóleo é ainda o combustível dominante neste mercado de supercarros. Houve 483 matrículas de carros a diesel, representando um terço das aquisições. Logo a seguir, vieram os automóveis a gasolina, com 436 unidades.
Apesar do domínio dos modelos só a combustível, os carros de luxo híbridos ou exclusivamente elétricos já representam cerca de 37% das vendas: os híbridos plug-in a gasolina ficaram com 245 unidades; os elétricos tiveram 183 registos; os carros a gasolina com apoio elétrico tiveram 83 registos; os automóveis a gasóleo com ajuda elétrica tiveram 12 vendas.
E já não são só os portugueses que compram estes carros. A abertura do país nos últimos anos também tem proporcionado cada vez mais perfis de compradores. "Há uma fatia crescente de estrangeiros residentes - muitos atraídos pelos regimes fiscais golden visa e de residentes não habituais -, com elevado poder de compra, que são clientes das marcas automóveis de luxo e que têm contribuído para este grande aumento nas vendas", justifica a consultora da Luxulting, Helena Amaral Neto.
No caso da Porsche, os principais compradores "são homens e têm como profissão empresários, diretores de empresas ou empresários liberais". Vivem sobretudo nos centros urbanos de Lisboa e do Porto e têm uma idade média de 53 anos.
Comprar um carro deste nível também abrange as mais variadas razões, das mais emocionais às mais financeiras. "É sem dúvida um mundo aspiracional, em que a compra de um carro neste patamar não se resume às características extraordinárias do produto, mas é sobretudo a entrada num clube restrito envolto no ADN da marca", assinala Helena Amaral Neto.
Do lado racional, a especialista recorda que "há carros de luxo que também são investimentos... e com boas rentabilidades. Há exemplos de edições limitadas da Ferrari que valem mais passados uns anos (e alguns quilómetros). É o melhor dos dois mundos: usufruir do prazer de entrar na 'família' Ferrari, guiar um carro extraordinário e fazer um bom negócio".
Nos próximos anos, espera-se que as vendas destes veículos continuem a acelerar devido, "em grande parte, ao boom turístico e imobiliário, que torna o país atrativo como destino de turismo, de investimento e também para viver".