TAP descarta alívio nos cortes salariais dos trabalhadores

Em véspera de reunião com os sindicatos, para debater os acordos de emergência, a CEO e o presidente do Conselho de Administração da TAP negam a reposição de salários.
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O entendimento entre a TAP e os trabalhadores parece não estar para breve. No centro da discórdia estão os cortes salariais impostos pelos Acordos Temporários de Emergência (ATE), assinados pelas duas partes no âmbito do programa de reestruturação aprovado pela Comissão Europeia. Com os aviões a levantar voo em força à boleia da retoma do turismo no verão, os sindicatos exigem à companhia a reposição dos salários.
Depois de um primeiro encontro na semana passada no Ministério das Infraestruturas e da Habitação, que tutela a transportadora, e de um segundo com a administração da empresa, amanhã haverá nova reunião entre a TAP e as estruturas sindicais para fechar soluções. Mas a companhia de bandeira deixou claro que o alívio dos cortes nas remunerações não está em cima da mesa, por agora.

Ouvidos ontem no Parlamento, na Comissão de Economia, Obras Públicas, Planeamento e Habitação, o presidente do Conselho de Administração e a CEO da transportadora deixaram alguns recados. "Não é porque estamos a voar a 90% de 2019 que estamos numa boa situação financeira. Isso não está relacionado com o rendimento líquido, não recuperámos ainda. Voar mais horas não significa recuperar", assegurou a presidente executiva da TAP, admitindo ser possível voltar à discussão sobre os salários, embora considere "demasiado cedo".

"Não podemos imaginar que seis meses depois de assinar os planos vai tudo estar bem", acrescentou. Ainda assim, sublinhou que a empresa está aberta ao diálogo e que "os trabalhadores serão parte da solução" na estratégia da empresa e que as negociações com os sindicatos são "uma forma de construir o futuro".

Já o presidente do conselho de administração disse ser necessário encontrar soluções que conciliem as expetativas dos trabalhadores e da empresa e, ao mesmo tempo, "manter os custos laborais previstos no plano de reestruturação". "Os custos implicados [nos acordos] são suportáveis para a TAP. Não podemos ter aumentos de custos que tornem o plano inviável. Para que os acordos possam ser alterados são necessárias soluções equilibradas", enfatizou Manuel Beja.

As declarações dos gestores da TAP não foram recebidas com surpresa por parte dos sindicatos que garantem que já nas primeiras reuniões com a empresa, na semana passada, não foram apresentadas alternativas às suas reivindicações. O Sindicato dos Técnicos de Manutenção de Aeronaves (Sitema) assegura que o encontro de amanhã será decisivo e que caso não existam respostas, os nove sindicatos vão voltar a um debate conjunto. "A greve até este momento não foi colocada em cima da mesa, mas não quer dizer que não venha a ser. Teremos de avaliar qual é a resposta da empresa e encontrar um caminho a fazer", esclarece ao DN/Dinheiro Vivo o presidente da direção, Paulo Manso.

O representante da estrutura sindical alerta que a forte concorrência no mercado está a deixar a TAP sem técnicos de manutenção e que, por isso mesmo, urge repor os salários. "As pessoas estão a utilizar as férias para ir ao estrangeiro trabalhar e compensar os cortes. Quando as férias terminarem não sei como vai ser. Cada um vai encontrar uma solução que passará, em muitos casos, por abandonar a TAP e ir trabalhar para outra empresa", alertou.

Empréstimo pago em dividendos
Foram quase cinco horas de muitas perguntas e poucas respostas. As duas audições realizadas ontem com os gestores da TAP foram parcas em esclarecimentos. Ficou por saber, por exemplo, qual será o futuro das instalações da transportadora, bem como que respostas serão dadas aos trabalhadores da empresa relativamente à reposição dos salários.

O plano de reestruturação, que tanto trabalhadores como deputados já solicitaram por diversas vezes, não pode ser partilhado na íntegra, diz a administração, por poderem impactar a competitividade da empresa e a negociação com os fornecedores. Também os contornos da devolução do empréstimo de 3,2 mil milhões de euros ao Estado ficaram pouco claros. Manuel Beja adiantou apenas que o pagamento seria realizado em três modalidades e que objetivo é que a TAP comece a pagar dividendos já a partir de 2025, "caso os resultados da empresa sejam positivos", embora admita que este pagamento seja inferior ao valor total do empréstimo.

Mas a TAP planeia compensar a injeção do Estado de mais duas formas. "Através dos impostos e da atividade económica e através do turismo que geramos", acrescentou Manuel Beja, relembrando que a transportadora aérea tem uma estreita ligação com o Turismo de Portugal. "Somos a principal forma de trazer turistas para o país", rematou.

jornalista do Dinheiro Vivo

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