Susanne Hägglund: "A Volvo em Portugal é já um exemplo" na aceitação dos elétricos
Ao recordar os tempos de infância na Suécia, Susanne Hägglund (lê-se "Higglund" por inerência do sinal gráfico sobre o "a") evoca com nostalgia os bonecos de neve que os invernos de então, mais confiáveis e duradouros, permitiam construir para deleite das crianças. Assistindo à marcha acelerada das alterações climáticas nos últimos anos, a nova Diretora Geral da Volvo Car Portugal teme que as novas gerações não possam criar as mesmas recordações devido aos efeitos do aquecimento global. Como tal, a sua visão coincide com a da Volvo na perseguição de uma mobilidade mais responsável e sustentada, atenta às necessidades dos clientes e disposta a tentar novas soluções, mais arrojadas, para o futuro.
Já o foco nas pessoas mantém-se inalterado, com a sucessora de Edson Ishikawa (que assumiu o cargo de Diretor de Produto e Oferta para a região EMEA) a advogar que este é o momento de "vender às pessoas aquilo em que acreditamos e não só automóveis". Aponta não só a necessidade da eletrificação para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, mas também ações concretas noutras áreas, desde a produção à reciclagem, para fazer com que a mobilidade não tenha impactos nefastos sobre o ambiente, recordando ainda o papel da Volvo na área da segurança, sendo essa aliás uma das suas imagens fortes a nível global.
O ano de 2021 revelou-se um "nó" difícil de desapertar por parte dos construtores automóveis, não só pela ameaça pungente da Covid-19, mas também pela falta crise de semicondutores que se adensou a partir do segundo semestre do ano passado. Com encomendas mas sem produto, a Volvo, como tantas outras marcas, teve um ano complicado, mas ainda assim de crescimento, traduzindo-se numa subida global de 5,6% no ano de 2021, com um total de 698.693 automóveis vendidos pelo mundo. Impulsionada pela tendência de eletrificação, o objetivo da Volvo em Portugal para 2022 é obter um crescimento de 9% face ao ano anterior, com Hägglund a considerar que o processo de transição energética ajudará a atingir o objetivo proposto.
"Acreditamos que o nosso objetivo para 2022 é realista e que poderemos lá chegar. Este crescimento de 9% assenta numa transição para a eletrificação, na qual a importância dos modelos 100% elétricos irá aumentar -- pensamos que poderá representar 20% das nossas vendas totais este ano. Atualmente, estes modelos 100% elétricos têm prazos de entrega mais estáveis e poderemos responder à elevada procura que hoje em dia evidenciam", responde, alinhando esta estratégia também com a atual crise no fornecimento dos semicondutores a nível mundial.
Esse crescimento deverá sustentar-se em novos produtos, como o C40 Recharge, cujas entregas deverão arrancar no final do primeiro trimestre, ou um outro SUV ligeiramente mais compacto do que o XC40, mas mais aerodinâmico, de acordo com a responsável sueca, que considera até que "a Volvo em Portugal é já um exemplo" no que diz respeito à aceitação dos elétricos entre os mercados da Volvo.
"As nossas vendas de veículos eletrificados -- gama Recharge -- representam já cerca de 70% do mix total e com tendência crescente. A nossa taxa de penetração é mesmo das mais elevadas para a marca em toda a região EMEA por isso acredito que iremos atingir os objetivos estabelecidos". No entanto, também deixa claro que que os incentivos à compra dos elétricos poderiam ter um papel importante na aceleração desta tendência da mobilidade eletrificada e consequente renovação do parque automóvel.
"Acredito que existe uma procura natural do mercado que irá crescer nos próximos anos independentemente dos incentivos, mas a sua existência iria sem dúvida ser benéfica para todos. Quando comparamos a realidade do mercado nacional com a de outros países europeus verificamos que, de facto, os incentivos para a renovação do parque português com vista à transição para uma mobilidade elétrica poderiam ir um pouco mais além", explica, valorizando assim "todos os incentivos que se puderem constituir, melhorem a procura e acelerem a aquisição de motorizações mais eficientes".
Sendo a eletrificação cada vez mais incontornável, Susanne Hägglund confessa alguma surpresa pela forma positiva como o mercado português tem vindo a aderir a esta tendência, contrariando até a ideia de que apenas os países com maior riqueza se podem dar ao "luxo" de adotar a uma tecnologia tão recente como a dos veículos elétricos.
"De facto, este tema surpreendeu-me pela positiva. Os consumidores portugueses são muito interessados por automóveis elétricos apesar da, mas não só, existência dessa dificuldade que aponta, mas também dos constrangimentos que a infraestrutura de carregamento apresenta", explica, suportando ainda a sua visão positiva com dados de estudos recentes de que "84% dos condutores nacionais acreditam que a sua próxima compra automóvel terá alguma componente de eletrificação, um número bastante acima da média europeia", afirma.
Porém, não desvaloriza algumas das dificuldades no que diz respeito à eletrificação num país como Portugal. "O mercado automóvel em Portugal tem vindo a refletir a tendência mundial da transição para a mobilidade elétrica. No entanto, apesar da forte consciencialização ambiental do cliente português e da sua vontade em transitar para as propostas eletrificadas, a infraestrutura de carregamento atual do país ainda provoca muita ansiedade de autonomia, o que limita uma mudança mais acelerada para este tipo de motorizações".
Hägglund ressalva que a Volvo tem uma gama de novos automóveis já capazes de "combater a ansiedade de autonomia" com valores entre os 400 e os 450 quilómetros de alcance com um único carregamento. Ainda assim, entende que face ao aumento dos custos dos carregamentos e à necessidade de uma rede de carregamento mais competente, "as marcas poderiam falar a "uma só voz" para, em conjunto com outros parceiros, ajudarem a resolver esses problemas". Hägglund dá mesmo o mote: "Contem com a Volvo para iniciar esse diálogo".
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