Subida dos juros aumenta interesse por taxas fixas no crédito à habitação

Banco de Portugal revela que já em 2020 o peso dos contratos com taxas variáveis diminuiu. Bancos já apresentam outras opções na hora de procurar crédito à habitação.
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A subida das taxas de juro e consequente aumento das mensalidades no seu crédito à habitação levaram António Domingues a procurar uma prestação estável e que não destabilizasse o seu orçamento.

Ao Dinheiro Vivo explicou que foi através de um familiar, que também mudou o seu crédito à habitação, que decidiu avançar com a mudança. Dos 136 euros mensais que pagava por um crédito à habitação a 40 anos, indexado à Euribor a 12 meses e com um spread de 1,2%, atualmente paga 155 euros, num crédito com a mesma duração, mas com uma taxa fixa de 1,75% nos primeiros 30 anos. Os últimos 10 serão de taxa variável.

Neste momento paga mais 19 euros, que acredita, em breve, vão compensar. "Hoje a Euribor a 12 meses encontra-se nos 1,067%. Tendo em conta que o meu spread anterior era de 1,2%, a somar aos 1,067% a taxa de juro total ficaria em 2,267%. Ou seja, em termos práticos estaria a pagar cerca 178 euros de prestação ao contrário do que pago hoje", justifica.

As taxas Euribor, (utilizadas nos créditos à habitação e que garantem mensalidades variáveis, consoante as taxas de juro), começaram a subir em fevereiro, depois de o Banco Central Europeu ter admitido que poderia aumentar as taxas de juro diretoras este ano, devido ao aumento da inflação na zona euro. A situação foi agravada na sequência da invasão da Ucrânia.

Foi a 6 de junho que a taxa Euribor a seis meses, a mais utilizada nos créditos à habitação, entrou em terreno positivo, depois de ter estado negativa desde 2015. A Euribor a três e a 12 meses já estavam no positivo. Ou seja, quem tem crédito à habitação, com taxas variáveis irá pagar mais pelas suas mensalidades.

Artur Cabral acompanha com regularidade a situação dos mercados em geral desde 2017, com particular atenção depois do início da pandemia. "Reconheci que a situação de juros negativos, com a instabilidade dos principais mercados bolsistas e previsão de subida da inflação no final de 2021 ditariam o término do ciclo de política monetária de juros baixos até então aplicada pelo BCE", explicou.

No final de janeiro decidiu fazer uma transferência de crédito para outra instituição bancária e no prazo de um mês e meio, passou de uma taxa variável para uma fixa de 1,45% aplicada nos primeiros 30 anos (o último ano será variável). Passou a pagar 499 euros, contra os 405 euros que despendia anteriormente, mas segundo as suas contas este aumento 94 euros, irá compensar.

"À data de hoje (sexta-feira) a Euribor a seis meses já se encontra a 0,237%. Se somar a este valor o spread que tinha contratado no meu crédito à habitação com taxa variável de 1,2% a taxa juro total é de 1,437%, aproximando-se cada vez mais da taxa fixa que contratei (1,45%). Se ultrapassar este valor, já estarei a poupar", demonstrou. "Acima de tudo, fico com uma prestação sempre igual, que para mim é uma mais-valia", garantiu.

De acordo com dados de 2020 do Banco de Portugal (os de 2021 serão disponibilizados no próximo mês) os créditos à habitação com taxa de juro variável representaram a maioria dos contratos celebrados (82,3%) e do montante de crédito concedido (82,9%) nesse ano. No entanto, estes valores revelam proporções inferiores às de 2019 (86,4% e 87,4%, respetivamente). Em contrapartida, já em 2020 aumentou a importância dos contratos com taxa mista (que têm um período inicial de taxa fixa seguido de um período de taxa variável).

Como explica o Banco de Portugal, "este tipo de taxa de juro passou a representar 12% dos contratos celebrados (10,3% em 2019) e 12,1% do montante de crédito concedido (9,8% em 2019)". Também os contratos com taxa fixa registaram um aumento com 5,7% do número de contratos celebrados e 5% do montante de crédito concedido (o que compara com 3,3% e 2,8% em 2019, respetivamente).

A maioria dos bancos tem ofertas de taxas mistas e fixas nos empréstimos para compra de casa. O Novo Banco refere que lançou em abril uma nova campanha de crédito à habitação onde consta a opção de taxa fixa, mas faz questão de frisar que não faz qualquer recomendação, sendo a escolha sempre do cliente. A Caixa Geral de Depósitos diz que, embora tenha "opções para taxas fixas com prazos determinados", a existir uma mudança tem de ser o cliente a demonstrar o seu interesse.

Já o Santander adianta que tem um produto de taxa mista. E considera que a resposta equilibrada face aos atuais desafios está no meio termo, com um período de taxa fixa e outro de taxa variável no mesmo empréstimo.

Segundo revela Cláudio Santos, responsável do Doutor Finanças, há cada vez mais interesse sobre as taxas fixas nos créditos habitação, tanto para quem já tem empréstimos, com para quem quer comprar casa. A decisão, frisa, deve sempre depender do tipo de contrato de crédito, do orçamento familiar e do perfil financeiro de cada família.

E recorda que no caso de existir uma mudança de taxa, que envolva transferência para outro banco, funciona como um novo contrato de crédito, com nova escritura.

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