Standard & Poor's quer mais provas antes de subir o rating
Economista chefe da agência de notação elogia recuperação da economia portuguesa, mas avisa que é preciso ter mais certezas.
São os metros finais de uma maratona que dura há mais de cinco anos. A saída do Procedimento por Défices Excessivos foi uma injeção de confiança, mas veio relembrar que para as principais agências de rating, a dívida portuguesa ainda vale tanto como lixo. Até quando? Os ministros das Finanças e Economia já se manifestaram confiantes sobre uma revisão em alta ainda este ano. O economista chefe da Standard & Poor's não dá tantas certezas.
Jean-Michel Six, em declarações ao DN/Dinheiro Vivo, recomenda cautela antes de encomendar os foguetes. "A recuperação da economia portuguesa é impressionante, mas ainda é preciso perceber se é sustentável", destacou o economista, que esteve em Portugal para os encontros Horasis, uma cimeira que até ontem juntou 400 empresários, académicos e líderes políticos em Cascais.
Destaca o empurrão que as exportações estão a dar à economia, e que no primeiro trimestre se traduziu num crescimento de 2,8%, mas acautela que, primeiro, é preciso "avaliar a sustentabilidade desse crescimento no médio prazo, e o impacto que terá no endividamento do país, em particular na dívida pública, que ainda é demasiado elevada".
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Admitindo que os últimos dados do crescimento e do emprego apontam para uma "reviravolta", Jean-Michel Six acredita que o salto português não é alheio ao "clima de recuperação geral que se vive no resto da Europa". E aponta Espanha como "um bom exemplo". "A economia espanhola começou a recuar em 2013, e atingiu níveis muito baixos, mas agora temos provas de que a recuperação é consistente. Temos a mesma esperança para a economia portuguesa", sublinhou o economista da agência que mantém a dívida de Portugal ao nível de lixo desde janeiro de 2012. Uma notação que não permite a Portugal conseguir taxas de juro mais baixas no mercado e que custa milhões ao financiamento do país.
Nos últimos dias têm-se multiplicado os apelos às agências de rating para que olhem para Portugal com outros olhos. Mário Centeno, o ministro das Finanças, já afirmou estar confiante numa subida do rating entre o verão e o início do próximo ano. Manuel Caldeira Cabral, o ministro da Economia, acrescentou que a revisão em alta não seria "um favor" e sim uma "análise justa". Já o primeiro-ministro não definiu uma data para a saída do lixo mas apontou no calendário que estará "para breve". Ontem, no encerramento da Cimeira Ibérica, António Costa sublinhou que "manter a avaliação do rating hoje como se nada tivesse acontecido desde 2011 faz pouco sentido". A mesma "esperança" também já foi manifestada por Marcelo Rebelo de Sousa - o Presidente da República acredita na melhoria do rating lá para setembro.
Um verdadeiro movimento pela subida do rating que ganhou força internacional ontem após as declarações de Pierre Moscovici no Parlamento Europeu. O comissário para os Assuntos Económicos afirmou que, face ao desempenho macroeconómico do país, "não será ilógico" que as agências de notação "se deem conta de que os riscos não podem ser olhados hoje com os óculos de ontem", e que há "boas razões para confiar em Portugal", ao contrário dos últimos anos.
E nem o fim do programa de estímulos do Banco Central Europeu, anunciado para o final do ano, faz temer pelo futuro mais próximo. Nem há razões para isso, destaca Jean-Michel Six, questionado sobre os riscos que corre a economia portuguesa quando Frankfurt "fechar a torneira" do dinheiro barato. "O fim do programa de compra de ativos é um risco para todas as dívidas soberanas, mas nós acreditamos que esse fim ainda está muito distante."