Sodexo: "Não beneficiaria ninguém" limitar o cartão-refeição a alimentos
Atribuído como um benefício para apoiar a alimentação dos trabalhadores durante o horário de trabalho, o subsídio de refeição acaba, muitas vezes, no tapete de supermercado. O que não pode é ser usado para encher o depósito do carro ou comprar tabaco, como muitas vezes ainda acontece, esclarece Nélson Lopes, da Sodexo Portugal. As empresas estão a operar sem regulador e é preciso regras definidas e maior controlo do que pode ser feito.
"Não faz parte da intenção da Sodexo defender nem promover a separação dos produtos que podem ser comprados com cartão de refeição, por exemplo, num supermercado", afirmou o CEO da marca que nasceu em 2015, na sequência do fim do cartão Free, do Millennium BCP. "Mas se me perguntar se isso pode um dia vir a acontecer, sim, poderá. Em Espanha, o regulador decidiu que as empresas que quiserem podem trancar o consumo aos fins de semana. Não foram as empresas que disseram isso, foi o regulador que permitiu que isso acontecesse.
Um dia, o regulador português pode vir a achar que temos mesmo de filtrar os produtos a nível do detalhe", assumiu em entrevista ao Dinheiro Vivo, lembrando no entanto que quase oito anos depois do boom de empresas a pagar o subsídio de refeição em cartão ainda não existe qualquer entidade a regular este negócio que tem na Sodexo, Edenred e UP as principais marcas.
"Faz falta regulação e supervisão. O que eu quero dizer é que quem está a fazer a supervisão são as próprias empresas de titularização, e não devem ser. Nós fazemos cumprir as regras porque é nossa obrigação, mas não sou eu que tenho de definir as regras do jogo, deve ser uma autoridade independente e com capacidade para as fazer e depois fazê-las cumprir", destaca Nélson Lopes.
No entendimento da Sodexo, só quando houver uma entidade que agregue todo o setor dos benefícios extrassalariais é que será possível dizer, de forma geral, se os cartões podem ou não ser utilizados, por exemplo, nos postos de combustível ou, num futuro mais 'radical', para comprar bens não alimentares no supermercado. "Eu, sinceramente, acho que não é isso que verdadeiramente se pretende. E acho que não beneficiaria ninguém. O facto de alguém ir ao supermercado e num cabaz ter lá incluídos bens que não são alimentares não desvirtua exatamente as coisas. O que desvirtua é eu de repente usar o cartão de refeição e só meter combustível. Isso sim, não faz o menor sentido. Ou ir a um estabelecimento onde não há nenhum alimento. Agora ir a um supermercado, sabendo que a esmagadora maioria das pessoas que vão ao supermercado compram um cabaz que tem alimentos, e estar numa linha de caixa a separar coisas, seria uma entropia", acrescenta.
Sem regulador, resta a Portugal olhar para o que se faz lá fora. Mas, diz Nélson Lopes, as regras estão longe de ser as mesmas. "No Brasil, o operador separa os produtos na linha de caixa, e não é possível comprar álcool com cartão de refeição. Em Espanha não se usa ao fim de semana, e nos dias úteis há uma faixa horária, que se situa entre o meio-dia e as quatro da tarde, em que é possível utilizar o cartão de refeição, refere o responsável.
A aceitação de cartões de refeição está dependente de um acordo entre os estabelecimentos e as empresas que fazem a titularização destes cartões, por isso é que nem sempre todos os cartões são aceites nos mesmos estabelecimentos. Se um restaurante antes aceitava cartão e agora não aceita é porque deixou de ter acordo com uma ou várias marcas de cartão refeição, exemplifica a Associação Portuguesa das Empresas de Títulos Extrassalariais (EBFS).
A Sodexo garante que, desde a sua criação, em 2015, não aumentou preçários. A empresa tem acordo com cerca de 50 mil estabelecimentos, num universo total que se situa em torno dos 70 mil, e assegura que o número tem vindo a crescer.
A AHRESP - Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal está a fazer um levantamento junto dos associados para saber qual o impacto que os cartões de refeição têm no negócio.
Dados de 2018 mostram que existem em Portugal 1,2 milhões de beneficiários, ou seja, de trabalhadores a receber por cartão de refeição.