Setor dos casamentos preocupado com falta de regras específicas
Na próxima fase do desconfinamento, agendada para 19 de abril, vai ser permitida a realização de casamentos. A data está, assim, marcada, mas o setor continua a ter muitas dúvidas e desenvolveu um manual de boas práticas que apresentou à Direção-Geral da Saúde (DGS). O setor mostra-se ainda disponível para participar num grupo de trabalho para elaborar regras para estes eventos. O objetivo é evitar o temido passo atrás: novas restrições que travem os casamentos. Até ao momento, ainda não tiveram uma resposta da DGS e temem os efeitos económicos da ausência de regras específicas.
A 11 de março, conta ao Dinheiro Vivo António Brito, da Exponoivos, houve uma reunião com a DGS em que foi apresentado "um manual de boas práticas relativamente à indústria do casamento". "A nossa sugestão foi criarmos uma comissão de trabalho, nós [setor dos casamentos] com a DGS, para definir as regras necessárias para a retoma da atividade. No dia 11 de março enviámos o manual, já enviamos três e-mails para a DGS a dizer que continuamos disponíveis para nos reunirmos e, até agora, não tivemos resposta nenhuma", acrescenta. A esperança é que nos próximos dias haja possibilidade de avançar com encontros que permitam a definição das regras.
Precisamente a 11 de março, o primeiro-ministro indicou ao país como se ia dar a retoma gradual das atividades económicas. Se a evolução da pandemia permitir, a 19 de abril casamentos e batizados podem ser realizados com um máximo de 25% da lotação dos espaços. A taxa de ocupação pode subir para 50% em maio, indicou ainda na altura o chefe de governo.
Mas a grande questão para o setor é precisamente essa: apenas a lotação dos espaços está definida. E, dizem, um casamento tem muitas especificidades e por isso veem com bons olhos a testagem de todos os participantes. "Daqui a duas semanas os casamentos podem começar a ser realizados e não há normas para que assim seja. A nossa grande preocupação é como é que os casamentos vão começar a ser realizados e em que condições. Queremos precisamente evitar que aconteça o que aconteceu no ano passado: as regras eram poucas e cada um fazia o melhor que sabia. Mas seria importante que houvesse orientações superiores para que os setores pudessem fazer a sua reabertura" de uma forma segura, explicou António Brito.
Há mais de 130 anos, de acordo com o que noticiou o Público recentemente, que Portugal não tinha tão poucos casamentos como em 2020. Com mais de quatro dezenas de subsetores, o mundo dos casamentos foi fustigado no ano passado. Os prejuízos terão sido de milhões de euros. Um estudo recente da BestEvents, empresa responsável pela organização de feiras nacionais e internacionais dedicadas ao casamento, e pela revista I Love Brides, revelava que 34,2% das empresas inquiridas tiveram perdas na ordem dos 90% e 19,8% perto de 80%, enquanto 18% não tiveram qualquer faturação (entre 90% e 100%).
Notando que preparar um casamento não pode ser comparado com uma refeição num restaurante, porque a preparação de um evento destes exige tempo, António Brito não esconde que vários casais têm apresentado muitas dúvidas sobre o que podem, ou não, fazer e que o setor não pode dar respostas firmes. Questionado sobre se esta ausência de regras mais específicas pode agravar a já frágil situação económica e financeira das empresas, o líder da Exponoivos teme que sim. "O que pretendemos é que, quando se retomar a atividade, ela continue aberta. Não queremos voltar atrás [a confinar] e, daí, estarmos disponíveis para cumprir uma regra que é a testagem obrigatória dos convidados e saber as regras para garantir a segurança. Para que o setor possa reabrir, fazer os seus planos a médio e longo prazo e saber que pode trabalhar nos próximos meses e anos", salienta o responsável. "O setor foi fustigado do ponto de vista económico e social. Muitos tinham a sua vida organizada para se casarem em 2020, adiaram para 2021 e agora o que já está a acontecer é passarem para 2022 ou 2023", o que gera uma bola de neve.
Apesar de haver noivos que em 2020 continuaram a pagar algumas prestações, as empresas continuam a enfrentar problemas de liquidez porque o serviço não é prestado na íntegra nem chegam novos. A constante mudança de datas gera constrangimentos de agenda e os noivos que pretenderiam casar em 2023 por exemplo, terão menos datas disponíveis e as empresas menos opções para rentabilizar o negócio.