Sandra Dias Alves: Uma empreendedora que aposta no potencial do cânhamo para melhorar a nossa vida

Especialista em Direct Selling e diretora regional da Kannaway.
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É uma verdadeira mulher dos sete ofícios que se senta comigo à mesa do Manjerica, a espreitar a Praça da Figueira. Pela frente temos tostas e ovos - em versão benedict, mexidos e acompanhados por torradas temperadas, tomate cereja, cogumelos, espinafres e ervas -, chá e café, numa versão rica do brunch que nos propomos e que nos levará pelos trilhos que a vida de Sandra Dias Alves lhe abriu à frente, apostando na sua temperança e vontade de fazer algo por si que pudesse ter reflexo também nos outros.

Filha de um economista de sentido prático, dele herdou a capacidade de planear o futuro de forma a não ter de sofrer para sobreviver. Razão pela qual, conforme há de explicar-me em detalhe, construiu já três alternativas de atividade cujos proveitos lhe asseguram a tranquilidade necessária para poder dedicar-se àquilo que verdadeiramente lhe dá prazer. Diz que ainda precisa de os duplicar para poder cumprir o objetivo de reformar-se aos 50 anos. "É como dizem as regras da economia - e faz ainda mais sentido hoje (entre a crise demográfica e a insustentabilidade da Segurança Social) -, devemos assegurar a nossa subsistência na velhice com múltiplas fontes de rendimento, diversificar os cestos onde temos os ovos para vivermos com qualidade e tranquilidade. O ideal é ter até sete fontes de rendimento diversificadas na vida; eu já tenho quatro", explica, a veia economista do pai a tomar-lhe as rédeas da consciência.

Sandra começou nos antioxidantes há 13 anos, antes ainda de se tornar mãe solteira do Afonso, hoje com 9 anos. Nessa atividade, viajou até aos 8 meses de gravidez e depois ainda com o bebé às costas pela Europa. Mas já então levava um background bem rico na bagagem e uma rede de pessoas com as quais foi aprendendo e enriquecendo. A mais persistente que leva na vida - e que continuará a condicioná-la sempre - é a que mais profundamente se relaciona com o seu Marketing de formação: "Ajudar pessoas comuns a vender, a construir uma marca no mercado. No fundo, a formar pessoas para se tornarem empreendedoras." Como é ela própria.

Descreve-se como especialmente tecnológica e justifica-o com a necessidade de automatizar processos para ter mais tempo livre para ser feliz. E explica a afirmação com a descrição do percurso que a levou a este dia. "Quando eu era miúda, todos os meus amigos iam três meses de férias mas os meus pais só me deixavam ir um mês. No resto do tempo, estava a fazer cursos intensivos de informática."

O pai, economista e diretor no Arsenal do Alfeite, e a mãe, chefe dos correios da Amadora, acreditavam no potencial de dar à filha essas mais-valias. E se em criança Sandra não adorava a ideia, rapidamente percebeu que era de facto uma vantagem diferenciadora. "Fez uma enorme diferença na minha vida", assume, acrescentando a rir que de todos os cursos só não fez um, o AutoCAD. "Paguei e nunca fiz, para castigar o meu pai por não me ter deixado ir para arquitetura." Depois explica que o pai a deixou seguir Artes, como gostava, até ao 12.º, mas alertou-a para a "vida precária e sem reconhecimento que teria se fosse arquiteta". E acabou por encaminhá-la para o Marketing, que a levou à banca.

No Millennium BCP teve o primeiro choque de realidade: "Pensei que a minha vida não podia ser só aquilo, das 9.00 às 17.00, sem emoção." E foi o curso que o banco me mandou fazer na área de consultoria financeira que a ajudou a dar o salto para os seguros. Rapidamente estava a abrir uma loja da Fidelidade, que mantém até hoje ainda que não tenha de lá ir sequer. Serve o propósito de mais uma fonte de rendimentos e enriqueceu-lhe o percurso e o network.

"Hoje o meu maior propósito é ser feliz mais tempo e é isso que me move nos projetos", assume, para explicar o papel da saúde, através do cânhamo, a que agora dedica mais tempo - mas já antes o caminho dos antioxidantes. "Eu gosto muito de ganhar dinheiro, mas preciso de fazê-lo com um propósito. Dizerem-me que mudei a vida de alguém é gratificante para lá de qualquer preço."

Aos 43 anos, assume que está sempre em processos criativos e se é workaholic é porque adora o que faz. Faz projetos por paixão e o que a move é a construção de equipas - não tivesse pertencido a coros, catequese, associações de estudantes ou sido federada em vólei... "Gosto de unir pessoas", resume. E isso levou-a também a ser RP e a liderar a equipa de relações públicas da discoteca Queens, em Lisboa - já então a trabalhar na banca. "Foi aí que percebi que o que se ensinava na faculdade tinha quase zero do que era preciso na realidade de uma profissão."

Antes de seguir pela nova vida no cânhamo, Sandra conta-me que se organiza de forma igualmente profissional: o que não está na sua agenda, não acontece. Ou seja, mesmo trabalhando a ritmo frenético, ao fim de semana todas as suas energias são para o filho, para os amigos, para programas divertidos - nem que seja com o gato Félix, o papagaio e o suricata que tem em casa e que fazem parte da sua família.

Prestes a embarcar para a República Checa para uma conferência sobre canábis, garante que a pandemia ajudou e muito à sua realização mais recente: "O que fiz no último ano, demoraria três para cumprir se não fosse online." E ainda que Sandra esteja perfeitamente em sintonia com os efeitos de potenciais melhorias do seu negócio na qualidade de vida das pessoas, reconhece que há ainda muito preconceito quando o assunto é a canábis. Mas está pronta para explicar as diferenças.

"Foram descobertos nos últimos anos mais de 100 fito canabinoides e desses 14 a 16 são essenciais para a saúde." Explica a ligação não apenas a uma velhice de maior qualidade mas também para prevenir a degeneração que hoje resulta em doenças de todo o tipo, incluindo as dos mais velhos, afetarem pessoas de todas as idades e diz que este sistema que trabalha, que passa muito pela neurotransmissão, foi descoberto em 1988, mas só agora começa a ver-se na sua plenitude.

"O canabidiol foi legalizado aqui em novembro de 2020. Eu estive nos antioxidantes até 2017 e nessa altura saí porque a minha mãe adoeceu." Mas foi um ex-presidente dessa empresa americana que viria a chamá-la para o CBD um ano mais tarde: "Quando me juntei à Medical Marijuana Inc. para dinamizar os produtos na Europa ainda nem isto estava legalizado", conta. Explica as diferenças na família da canábis: "Há as plantas de onde se retira o THC - com características psicoativas de dependência, usado em medicina com os efeitos dos opiáceos - e depois há os fito canabinoides, cujas moléculas não têm essa característica e até trazem muitos benefícios à saúde. O cânhamo industrial já está na alimentação de animais e de pessoas, é mesmo visto como o novo novel food, com propriedades únicas e benefícios incríveis."

É no cânhamo industrial que Sandra aposta tudo - na tal lógica da interação, da melhoria de qualidade de vida que pode proporcionar a outros e de em simultâneo ganhar dinheiro. Quando lhe pergunto onde se vê daqui a cinco anos - um exercício que me diz fazer com regularidade -, nem hesita: o meu sonho é implementar outros setores dentro do cânhamo; o alimentar é por onde estou a começar, mas há muito mais caminho. Isto vai abrir e explodir com o potencial da transformação, porque serve todo o tipo de fins, é matéria-prima para mais de 50 mil artigos, de roupa a substituto do plástico, construção, etc."

E vai mais longe quando traça objetivos para esse projeto: "Será o meu último antes da reforma. Daqui a dez anos quero estar reformada." E o cânhamo industrial somará aos rendimentos residuais que tem construído, como mais uma das fontes de rendimento que empreendeu e que agora resume. Além da Kannaway e da seguradora, tem dois apartamentos arrendados. "E em 2019, quando estava tudo a ver Netflix, eu fiz um curso de análise técnica e comecei a investir em bitcoin e nos mercados financeiros, de forma a duplicar o que ganhava."

Assim, simples. Como a vida, quando se entende que não há caminhos que não tragam aprendizagem nem janelas panorâmicas que não se abram cada vez que a porta deixa de ser uma hipótese.

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