Rendas em Lisboa e Porto aumentam 10% em três meses
Preços atingem níveis inéditos nas duas principais cidades do país. Proprietários, impedidos de aumentar em mais de 2% as rendas celebradas até 2021, estão a compensar perdas nos novos contratos.
Arrendar casa em Lisboa e Porto ficou, no espaço de três meses, 10% mais caro. Os novos contratos de arrendamento registaram um aumento inédito no terceiro trimestre deste ano face aos valores praticados entre abril e junho.
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Segundo Ricardo Guimarães, diretor da Confidencial Imobiliário, "nunca antes em qualquer destas cidades se verificou um aumento trimestral de tal magnitude".
O Índice de Rendas Residenciais do SIR-Arrendamento revela que os novos arrendamentos concretizados em Lisboa entre julho e setembro deste ano atingiram uma média de 16,8 euros/m2 e no Porto os 12,6 euros/m2.
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"Em qualquer caso são níveis inéditos", diz a Confidencial Imobiliário em comunicado enviado à Imprensa.
Para Ricardo Guimarães, este aumento está diretamente ligado com a decisão do governo de limitar a atualização das rendas celebradas até 2021 a 2% no próximo ano, de forma a mitigar nos arrendatários os efeitos do aumento do custo de vida.
"O timing deste aumento na atual conjuntura e o facto de se verificar em simultâneo nos dois mercados, sugere uma tomada de posição dos proprietários em relação ao limite de atualização das rendas para o próximo ano", diz Ricardo Guimarães em comunicado.
Na sua opinião, "este aumento trimestral inédito de 10% poderá ser uma forma de cobrir a inflação por via dos novos contratos, antecipando as perdas que possam decorrer da impossibilidade de o fazer nos contratos vigentes devido ao tetos impostos à atualização das rendas".
Recorde-se que caso o governo não tivesse decido intervir, o aumento das rendas em 2023 seria de 5,43%, conforme a inflação média registada em agosto sem habitação, que determina o coeficiente de atualização dos contratos.
No Orçamento do Estado para 2023, o executivo de António Costa decidiu compensar os senhorios por esta medida com benefícios em sede de IRS e IRC, que deverão custar cerca de 45 milhões de euros.
As rendas dos novos contratos em Lisboa estão a subir desde meados de 2021, depois de dois anos em queda. As variações trimestrais eram da ordem dos 2,5%, mas agora galoparam para os 10%.
A Confidencial Imobiliária aponta que "esta trajetória tem tido um forte impacto na intensificação da variação homóloga das rendas, de tal forma que este indicador passou de terreno negativo (-6,0%) no 3º trimestre de 2021 para 23% no 3º trimestre deste ano" na capital.
No Porto, a recuperação das rendas de habitação iniciou-se no fim de 2021, após um ano de quebras. Desde então, as variações trimestrais foram sempre superiores a 3,5%, culminando no último trimestre com um aumento de 10%.
No final de 2021, as rendas no Porto registavam uma descida homóloga de 2%. A tendência inverteu, apresentando um aumento homólogo de 24% no terceiro trimestre deste ano.
Sónia Santos Pereira é jornalista do Dinheiro Vivo