Rede de carregadores para carros elétricos cresce 65% em 2021

Havia 2343 postos de carregamento de acesso aos condutores no final do ano passado, praticamente um terço dos quais permitem encher a bateria a pelo menos 50 kWh.
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A rede de carregadores para carros voltou a crescer de forma expressiva no ano passado. Depois de o número de postos ter duplicado entre 2019 e 2020, os últimos 12 meses revelam que a mobilidade elétrica está finalmente a consolidar-se em Portugal, depois de praticamente uma década de estagnação.

Em 2021, registou-se um aumento de 65,3% no número de postos de carregamento de acesso ao público. Passaram de 1417 para 2343 as localizações em Portugal (ilhas incluídas) onde qualquer proprietário de um carro elétrico ou híbrido plug-in (com tomada exterior) pode encher a bateria do seu veículo, segundo os dados pelo Dinheiro Vivo junto da entidade gestora da rede, a Mobi.E.

O ano passado também serviu para densificar a mobilidade elétrica em todo o território: apenas 14 municípios não contavam com carregadores; no final de 2020, eram 77 nesta situação.

Os concelhos sem carregadores no final de 2021 eram Alandroal, Alfândega da Fé, Almeida, Arcos de Valdevez, Calheta (Madeira), Caminha, Corvo, Ferreira do Alentejo, Mangualde, Oliveira de Frades, Penela, Ponta do Sol, Porto Moniz e Silves.

As estações de carregamento de acesso público são fundamentais para quem não tem espaço em casa ou no local de trabalho. Nos números de postos considerados estão excluídas as instalações de acesso privado, como os supercarregadores da Tesla e da Porsche, além da rede do Continente (Plug &Charge).

Em Portugal existem cerca de 42 mil automóveis totalmente elétricos; é necessário ainda contar com parte dos 108 mil veículos híbridos em circulação por terem uma tomada exterior de carregamento.

Dos 926 novos postos de carregamento que foram disponibilizados ao público, 621 foram de carga normal; 250 de carga rápida; e ainda 52 de carga ultra-rápida (acima dos 150 kWh).

De notar que cada infraestrutura de carregamento pode contar com mais do que uma tomada. O número de pontos de carga aumentou 57,7%, de 3076 para 4851 nos últimos dois meses.

Mas, tal como nas bombas de combustível dois carros não podem usar a mesma bomba em simultâneo, há várias estações de carregamento que não permitem que todos os automóveis ganhem bateria ao mesmo tempo.

O pagamento dos carregamentos obriga o utilizador a ter um contrato com um comercializador de eletricidade para a mobilidade (CEME), que dá um cartão para ser utilizado em todos os postos de carregamento de acesso público, sejam de carga normal ou rápida. Os pontos de carga são geridos por operadores de carregamento (OPC).

Atualmente, através do telemóvel, já há soluções para fazer um contrato momentos antes do carregamento com um comercializador e sem necessidade de um cartão físico para desbloquear a tomada.

Para o choque elétrico na instalação de postos houve dois passos decisivos nos últimos dois anos por parte da Mobi.E e que levaram os privados a perceber que o negócio poderia ser rentável.

Antes disso, em 1 de julho de 2020 começaram a ser cobrados os carregamentos nos postos de carga normal (até 22 kwh de potência) - a cobrança nas estações de carga rápida (50 kWh) iniciara-se em novembro de 2018, enquanto os postos de carregamento privados de acesso público eram pagos desde abril de 2019.

A multiplicação de OPC também reflete os efeitos da abertura deste mercado aos privados. Havia 73 operadores registados em Portugal no final de 2021, mais 10 do que no período homólogo anterior.

Galp, EDP, KLC e Power Dot são as quatro empresas que concentram cerca de dois terços dos postos de carregamento.

O grupo Galp gere 407 infraestruturas, incluindo 87 postos da Mobiletric, empresa comprada no final do ano passado. A EDP tem 367 postos; a KLC conta com 328, mais quatro do que a Power Dot.

O crescimento da rede não foi afetado pelo início da cobrança, em maio, das tarifas da Mobi.E aplicadas aos CEME e OPC.

O número de postos de carregamento deverá voltar a crescer de forma significativa neste ano: a rede de postos da Via Verde passará de 36 para 82 postos, completando o plano anunciado no final de 2020; serão também inaugurados os restantes nove hubs de carregamento da Mobi.E, cada um com 18 tomadas.

De assinalar também a "descida de 50% nas tarifas de acesso à rede em 2022", segundo Henrique Sánchez, líder da Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos.

Mas a entrada no novo ano esteve praticamente a ser "estragada". Desde sábado, a tarifa aplicada junto dos CEME e OPC subiu de 16,57 para 29,64 cêntimos. Evitar a criação de um défice tarifário foi a principal justificação apresentada pela entidade para justificar a subida.

Sem capacidade de acomodar a subida das tarifas por parte dos CEME e OPC, o condutor iria pagar mais 26,14 cêntimos por carregamento a partir de 1 de janeiro.

No entanto, o Fundo Ambiental vai neutralizar a subida junto dos consumidores, introduzindo um desconto de 26,14 cêntimos por carregamento.

Com a Mobi.E a prever três milhões de carregamentos neste ano, estima-se que a medida possa custar 784 200 euros, segundo contas do Dinheiro Vivo.

"A medida é uma vitória para os utilizadores de elétricos", segundo Henrique Sánchez.

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