Preços no radar dos bancos centrais. Analistas admitem estabilização
A inflação tornou-se uma dor de cabeça tanto na zona euro como nos Estados Unidos. A escalada dos preços tem levado os bancos centrais a mostrarem-se preocupados e a admitirem tomar medidas para a travar. Ainda nos últimos dias, o tema convergiu na atenção tanto do líder da Reserva Federal dos EUA (FED), ao assegurar que poderia subir mais as taxas de juro, como de Christine Lagarde, a dizer que o Banco Central Europeu (BCE) tomará "todas as medidas necessárias" para garantir uma inflação na casa dos 2% a médio prazo.
Do lado de quem acompanha os mercados, a posição é mais otimista. Henrique Tomé, analista da XTB, acredita que, "embora a inflação continue a aumentar, espera-se que ao longo deste ano se assista a uma estabilização dessa tendência. Se observarmos o que se passa nos EUA, segundo os últimos dados da Universidade de Michigan, o índice de confiança dos consumidores caiu a pique, à medida que os preços subiram e isso deverá provocar um abrandamento no consumo que, mais tarde, poderá pressionar os preços a corrigirem se a procura permanecer baixa".
O analista não descarta que isso possa também acontecer na zona euro, com os consumidores a serem pressionados pela perda de poder de compra, fruto da subida dos preços.
A estimativa rápida do Eurostat aponta para uma subida da inflação para 5%, em dezembro, nos países da moeda única, com os preços da energia a disparem mais de 25%. O principal mandato do BCE visa a inflação na casa dos 2%. No início da última semana, a presidente da autoridade monetária do euro admitiu que o banco central estava preocupado com o agravamento do índice de preços no consumidor e abriu a porta a eventuais medidas para mitigar esse efeito. Nesta sexta-feira, Christine Lagarde reforçou a mensagem: "O nosso compromisso com a estabilidade dos preços continua firme", disse, citada pela Reuters. "Vamos tomar todas as medidas necessárias para garantir que cumprimos com a nossa meta de inflação de 2% no médio prazo", acrescentou.
Do outro lado do Atlântico, em dezembro, a inflação disparou para 7%, o valor mais elevado em 40 anos. Jerome Powell, presidente da FED, garantiu que poderia subir os juros para travar a escalada dos preços. As bolsas norte-americanas e europeias reagiram em alta, mas a tendência inverteu-se no final da semana. "Esta semana, o aumento da inflação norte-americana para máximos de junho de 1980 endureceu o discurso e a postura do presidente da Reserva Federal. A FED procura agora reverter rapidamente a política monetária e são esperadas, atualmente, quatro subidas de juros em 2022", diz Paulo Rosas, economista-sénior do Banco Carregosa.
Os mercados financeiros seguem a par e passo a evolução das economias e, por isso, o mercado acionista não deixará passar a evolução da inflação. "A evolução dos mercados em 2022 estará balizada, muito provavelmente, entre o desempenho dos lucros das empresas e o andamento mais hawkish das políticas monetárias dos bancos centrais. A grande questão este ano é se os lucros em 2022 serão capazes de superar as políticas de aperto monetário dos bancos centrais", acrescenta Paulo Rosas.
Os preços do petróleo continuam acima dos 80 dólares por barril nos mercados internacionais. Com a chegada da pandemia, na primavera de 2020, a procura pelo "ouro negro" diminuiu e a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e os seus aliados (OPEP+) decidiram diminuir a produção de forma mitigar o excesso de oferta disponível. Contudo, em 2021, e até com o acelerar da vacinação, a procura voltou a aumentar, mas a OPEP+ ainda não repôs completamente os níveis de produção pré-pandémicos.
Henrique Tomé admite que se os preços das matérias-primas continuarem "inalterados durante as próximas semanas, podemos assistir a novos aumentos dos combustíveis, e se esta situação se prolongar, os consumidores também poderão assistir a um aumento dos preços de vários produtos".
Mas não é só o petróleo em alta. O preço do gás natural também está elevado, quando a Europa está em pleno inverno, o que propicia mais consumo para aquecimento.
Paulo Rosas defende que "na Europa, a inflação em 2022 dependerá em grande medida dos custos da energia. A natureza intermitente das energias renováveis, tais como eólica, solar e hídrica, não responde cabalmente às constantes necessidades energéticas da economia, impulsionando os custos da eletricidade e, consequentemente, a inflação de preços no consumidor europeu".
ana.laranjeiro@dinheirovivo.pt