Preço do petróleo caiu 31%. Gasolina está 3% mais cara

O petróleo voltou a afundar e já levou o risco da dívida da Arábia Saudita a atingir o nível da dívida portuguesa. A queda do crude não se sente, contudo, nos combustíveis

O petróleo caiu ontem para novos mínimos em 12 anos e já mexe com as contas públicas dos principais países produtores, como a Arábia Saudita. Mas no bolso dos consumidores o impacto ainda não se faz sentir significativamente - o gasóleo está ligeiramente mais barato, mas os preços da gasolina estão a subir neste arranque de ano. Em causa estarão questões concorrenciais e o peso dos impostos sobre o preço dos combustíveis.

O dia de ontem voltou a ser dramático. O brent tocou nos 30,43 dólares, o valor mais baixo desde abril de 2004, recuperando depois ao longo do dia. Mas acabou por voltar a afundar e fechou na casa dos 30 dólares. Já o West Texas Intermediate, negociado em Nova Iorque, baixou da fasquia dos 30 dólares pela primeira vez desde dezembro de 2003. Durante a tarde, o Royal Bank of Scotland veio agravar o cenário: 16 dólares é a previsão mais pessimista do banco. Independentemente dos alertas que têm sido deixados, os fatores que contribuem para as quebras do preço da matéria-prima não deverão mudar nos próximos tempos. O Irão já anunciou o aumento da produção e das exportações. Os iranianos estimam que a produção irá subir dos atuais 2,9 milhões de barris por dia, o nível mais alto desde 2012, para 3,8 a 3,9 milhões. Ao mesmo tempo, antecipam os analistas, as reservas de crude norte-americano também deverão ter aumentado em dois milhões de barris na última semana.

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) deu finalmente um sinal de que reconhece a gravidade da situação e marcou uma reunião extraordinária para março (ver fotolegenda). Mas as expectativas de que seja tomada alguma decisão relevante são muito baixas. Estas reuniões, explica João Queiroz, diretor de negociação da GoBulling, "não têm providenciado qualquer resultado e não se perspetiva nada de concreto", tanto mais que a tensão entre a Arábia Saudita e o Irão, dois dos membros do cartel, está ao rubro. O analista acrescenta que o nível dos 20/25 dólares por barril poderá "ser um nível de atuação" relativamente a um corte na produção. Se não houver qualquer ajuste, os resultados podem ser catastróficos. "Alguns operadores poderão ser forçados a sair do mercado devido à falta de rentabilidade. Vários operadores, sobretudo no segmento de petróleo de xisto, estão endividados e, à cotação atual, torna-se difícil cumprir o serviço da dívida", diz Steven Santos, gestor do BiG. Teme-se nova onda de despedimentos.

O impacto já é sentido na própria Arábia Saudita. Na semana passada, o governo anunciou que pode abrir o capital da petrolífera estatal Aramco, maior produtora do mundo, para tentar reequilibrar as contas públicas. Com a queda do petróleo, que representa 75% das receitas do país, o défice da Arábia Saudita subiu para 15% do PIB. Mais: o risco associado à dívida pública da Arábia Saudita mais do que duplicou nos últimos 12 meses, atingindo os 190 pontos-base, noticiou ontem a Bloomberg. O valor, nota a agência financeira, é quase idêntico ao risco associado à dívida portuguesa - com a diferença de que o rating da dívida de Portugal está no chamado "lixo", sete níveis abaixo do de Riade. A verdade é que a OPEP não mostra qualquer intenção de cortar na produção e, desde o início deste ano, o petróleo já desvalorizou 18%. Comparando apenas janeiro, a queda é bem mais acentuada. Em janeiro de 2015, o brent negociou a uma média de 49,59 dólares. Neste mês, até ontem, a média é de 33,89 dólares, uma quebra de 31,6%. Contudo, o impacto não se sente no preço dos combustíveis. O gasóleo passou de uma média de 1,13 euros, em Portugal continental, em janeiro do ano passado, para 1,08 euros até dia 11 deste mês (o último dia para o qual a Direção-Geral da Energia tem dados disponíveis), uma descida de 4,4%; já a gasolina passou de 1,3095 euros em janeiro do ano passado para 1,364 euros, um aumento de 3,8%.

"O preço dos combustíveis é fixado semanalmente em Portugal, o que explica que os combustíveis caiam mais lentamente do que o petróleo. [Além disso], cerca de 60% do preço dos combustíveis em Portugal é constituído por impostos", diz Steven Santos. Ao mesmo tempo, "há problemas de concorrência no setor que impedem que a petrolíferas entrem em competição pelo preço", acrescenta João Queiroz.

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