Preço do óleo sobe 36% e do frango 25% desde início da guerra
Índice abrandou para 8,9% em agosto, menos 0,2 pontos face ao mês anterior, muito por força do desaceleramento dos custos com energia, nomeadamente combustíveis, e com o vestuário e a saúde. Em sentido inverso, os produtos alimentares registaram uma subida de 15,4%, o maior aumento homólogo desde outubro de 1990.
Desde o início da guerra na Ucrânia (24 de fevereiro de 2022) que comprar óleo alimentar, carne ou fruta fresca tem pesado cada vez mais na carteira dos portugueses. Segundo os dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE) divulgados ontem, o preço dos óleos alimentares disparou 36,2% em agosto, face a fevereiro. É a categoria de produtos alimentares que registou a maior subida. Seguem-se as carnes de aves, que agora estão 25,1% mais caras, e a carne de porco, cujo preço aumentou 23,4%.
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A fruta fresca ou frigorificada subiu 14,4% e as frutas, em geral, registaram uma subida de 13,7%. O preço dos produtos de padaria, bolachas e biscoitos avançaram 12,5% e o leite, queijo e ovos encareceram 10,3%. O pão, com uma subida de 8,8%, e o peixe, com um aumento de 8,7%, são os produtos com menor variação de preços entre fevereiro e agosto.
De acordo com o INE, "os produtos alimentares contribuíram em cerca de 40% para a variação total do IPC (Índice de Preços no Consumidor)". "Neste grupo foram recolhidos mais de 60 milhares de preços relativos a mais de 250 produtos", esclarece o gabinete de estatísticas.
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Em termos homólogos, em agosto o índice referente aos produtos alimentares não transformados registou a variação mais elevada desde outubro de 1990, fixando-se em 15,4% (ver infografia). Em julho a subida foi de 13,2%.
Apesar da escalada de preços dos alimentos, a economia portuguesa viu a inflação abrandar em agosto, muito por força do desaceleramento dos custos com a energia, nomeadamente combustíveis, e com vestuário, calçado e saúde. Assim, e de acordo com o relatório do INE, a inflação, afinal, recuou ainda mais, para 8,9%, em termos homólogos, menos 0,2 pontos face ao mês anterior. É a primeira queda em 12 meses. A estimativa rápida do instituto tinha previsto inicialmente uma variação de 9%.
O índice dos produtos energéticos, que se situou em 24%, representou uma queda de 7,2 pontos percentuais face à variação homóloga de julho, revela. Comparativamente com fevereiro, este recuo é explicado pela diminuição dos preços verificada nos combustíveis, explica o INE. O calçado e o vestuário também contribuíram para este travão no aumento dos preços, ao registarem um recuo de 1,57% nos preços em agosto, comparativamente com o mesmo mês de 2021.
Gastos com saúde apresentaram, de igual modo, uma variação negativa de 3,49%. Segundo a mesma fonte, " a classe da saúde é a única a apresentar um contributo negativo relevante, em consequência do alargamento dos critérios de isenção das taxas moderadoras ocorrido em junho".

A impedir um maior arrefecimento dos preços esteve não só a alimentação como também o turismo, o que é natural no habitual mês de férias de verão. Segundo o gabinete de estatísticas, os preços do setor "Restaurantes e hotéis" subiram 16,3 % em termos homólogos, quando em julho a variação tinha sido de 14,8%.
Os preços da habitação, água, eletricidade, gás e outros combustíveis também pesaram na taxa de inflação, embora tenham abrandado a subida para 14,9%, quando em julho tinha sido de 16,6%. Nos transportes, a descida dos preços da gasolina e do gasóleo reduziram o crescimento das tarifas para 10,4% (tinham registado 12,8% em julho).
Na taxa de inflação de referência que é usada pela União Europeia na comparação entre os diversos Estados-membros, o índice harmonizado de preços foi de 9,3%, menos 0,1 pontos face a julho. Em relação à média da Zona Euro, Portugal ficou 0,2 pontos percentuais acima, quando, em julho, o índice português sido superior em 0,5 pontos. Estima-se ainda uma variação média do índice nos últimos 12 meses de 5,4%.
Quanto ao mercado de arrendamento, o INE revela que em agosto as rendas das casas por metro quadrado subiram 2,8%, em termos homólogos. Segundo o instituto, "todas as regiões apresentaram variações homólogas positivas das rendas de habitação, tendo Lisboa e os Açores registado os aumentos mais intensos (3,1%)".
A variação média anual da inflação apurada em agosto serve para determinar os aumentos das rendas para o próximo ano. Ora, de acordo com esta regra, os senhorios poderiam impor uma subida de 5,4% aos seus inquilinos. Contudo, no pacote de medidas do governo dirigido às famílias para mitigar a subida da inflação foi proposto estabelecer um limite até 2% de aumento das rendas (ver ao lado). A medida vai ser debatida e, eventualmente, votada no Parlamento no próximo dia 16.
Salomé Pinto é jornalista do Dinheiro Vivo