Preço do malte e falta de garrafas põem em risco produção de cerveja na Europa
Aumento do preço do malte de cevada junta-se à falta de dióxido de carbono e à escassez de garrafas, pondo em risco o setor
Decorria o Mundial de futebol 2018 na Rússia quando a produção europeia de cerveja foi ameaçada por uma escassez de dióxido de carbono. A chegada deste verão ficou marcada pelo encerramento da atividade de cinco produtores de gás por motivos de manutenção, que tinham a sua sede no Norte da Europa. Agora é a produção do malte de cevada que está em risco, dada a onda de calor que se está a viver atualmente, o que pode colocar em causa a produção desta bebida artesanal.
O preço deste ingrediente utilizado para fermentar a cerveja e atribuir a cor e o sabor que conhecemos disparou 66% em inícios de maio, tendo chegado aos 230 euros por tonelada num valor máximo de cinco anos.
O malte de cevada é produzido em regiões como a Escandinávia, os países Bálticos, a Alemanha e a França. Segundo o consultor Scott Casey, da RMI Analytics, a produção decresceu 50% em algumas zonas, devido à secagem total das plantações.
Subscreva as newsletters Diário de Notícias e receba as informações em primeira mão.
A grande fatia da exportação do malte de cevada ao nível mundial é detida pela União Europeia, que envia o ingrediente para os fabricantes de cerveja de África, do sudeste asiático e dos Estados Unidos. O calor extremo e a seca não têm dado tréguas, sobretudo à Rússia, aos EUA e à Austrália. Estimativas da RMI calculam que só este ano serão fornecidas menos 490 mil toneladas do malte de cevada, uma situação que se junta à anunciada escassez do dióxido de carbono, gás também utilizado para purificar a água e atordoar animais antes de serem abatidos, e que resulta da produção do amoníaco, presente nos fertilizantes.
É na primavera que se regista o pico da produção de fertilizante, coincidindo com a época alta das plantações agrícolas, que costumam ter uma quebra durante o verão. Porém, de acordo com a empresa de estatísticas Bernstein, a baixa de preços já levou a que este ano o tempo de pousio seja prolongado.
Não tem sido um verão fácil para os fabricantes de cerveja, especialmente os alemães, que também se deparam com uma falta de garrafas. E as plantas que fazem a reciclagem das embalagens desta bebida artesanal também mostram algumas dificuldades em acompanhar o ritmo.
"Temos pedido aos consumidores para devolverem as embalagens vazias, para que o problema da escassez seja resolvido", disse Walter König, da Associação de Cervejeiros Bávara, que estima uma circulação de três a quatro milhões de garrafas devolvidas.
"Temos pedido aos consumidores para devolverem as embalagens vazias, para que o problema da escassez seja resolvido"
Seja como for, nem tudo está perdido, até porque não há incidências para o desaparecimento do lúpulo. Tem caído chuva suficiente nas principais regiões produtoras deste ingrediente fundamental, pelo que, afinal, as expectativas poderão ser boas.
Portugueses preferem consumir cerveja fora de casa
O mercado português da cerveja regista 1.094 milhões de euros em vendas totais nos canais de retalho, o que, segundo a empresa Nielsen Media Research, corresponde a um crescimento de quatro por cento. Quanto aos restaurantes, cafés, bares e hotéis, regista-se uma subida de quatro por cento, mas desta vez num valor de 809 milhões de euros.
Em Portugal, a cerveja chega a 77 por cento das casas, sendo que em 2017 os consumidores despenderam uma média de 5,1 euros por visita e adquiriram nove vezes esta bebida, sendo uma vez a cada 40 dias.
"As condições climatéricas são um dos fatores que mais influenciam o consumo de cerveja. A cerveja é um negócio sazonal, e prova disso é o fato de mais de 40 por cento do volume de cerveja ser consumido nos meses de junho a setembro. As razões do aumento de consumo prendem-se certamente por fatores como melhores condições climatéricas, o período de férias para muitos portugueses, a realização de inúmeras festas populares e o aumento da presença de turistas, assim como o regresso dos emigrantes", afirmou o client manager da Nielsen Tiago Aranha.
As tendências do mercado nacional são outra matéria que costuma ser estudada pela Nielsen, registando principalmente um aumento do valor em relação ao seu crescimento, orientado pelo fator preço. Quem consome esta bebida opta por fazê-lo principalmente fora de casa, principalmente aquando da realização de atividades de entretenimento. Os consumidores também procuram degustar novos produtos, inclinando-se fundamentalmente para novas experiências de consumo.