Preço de carros usados dispara com atrasos na entrega de novos
Dinheiro não chega para um carro novo. Quem quiser renovar a frota também tem de juntar mais uma dose de paciência. Por causa da falta de semicondutores, as fábricas têm sofrido várias paragens e está cada vez mais difícil comprar um veículo por estrear: os prazos de entrega duplicaram e há menos equipamento disponível.
Os carros usados são um refúgio mas estão cada vez mais caros e os vendedores recorrem mais vezes ao estrangeiro para responder à procura dos consumidores.
Comecemos pelos automóveis acabados de sair da fábrica. Na Renault, os clientes agora têm de esperar mais "dois ou três meses" do que os habituais 60 dias, refere ao Dinheiro Vivo fonte oficial. Conforme o tipo de equipamento, as entregas podem demorar meio ano.
A aliança que junta Peugeot, Citroën, Opel e Fiat (Stellantis) assume que está a lidar com "tempos de entrega mais longos para alguns modelos", embora sem detalhar o período temporal. No caso da Fiat, eram necessários dois meses entre a compra do carro e a entrega.
Também tem de esperar mais tempo se comprar um Volkswagen, Audi, Skoda ou Seat. Em vez de quatro a seis semanas, a importadora portuguesa do grupo VW (SIVA) assume que o prazo de entrega "é muito superior ao habitual".
Quando se esperava uma acelerada recuperação neste ano, a falta de semicondutores travou as expetativas do mercado. No último mês, as vendas de novas unidades em Portugal caíram 20,5%, para 13 041 matrículas, segundo a associação do setor (ACAP); na Europa, desde 1995 que não se compravam tão poucas unidades com zero quilómetros em setembro, refere a associação europeia ACEA.
Nos últimos anos, as marcas automóveis (e de outras indústrias) deixaram a produção de semicondutores nas máquinas de fornecedores externos asiáticos. Quando a Europa saiu mais depressa da pandemia do que esperava e a procura recuperou, o lado oriental não estava no mesmo ritmo.
"Em países como Malásia e Taiwan ainda há confinamentos. Sendo dois dos principais fornecedores de peças, isso afeta toda a cadeia logística", explica o líder da Hyundai Portugal, Sérgio Ribeiro.
A marca sul-coreana alega que não tem tido tantos problemas com as entregas porque tem unidades próprias de produção de componentes. Mesmo assim: "Temos menos de metade do stock disponível do que normalmente em Portugal, com tendência para ser mais reduzido".
A diminuição dos equipamentos opcionais é outra das estratégias para evitar mais atrasos aos consumidores.
"Já ajustámos as tabelas para retirar elementos que necessitem de muitos semicondutores e, assim, os carros chegam mais depressa", adianta fonte oficial da Mercedes. No caso da Renault, o mais recente modelo - o SUV Arkana - foi posto à venda sem carregador por indução e deixou de estar disponível o monitor de 10 polegadas.
Quem não pode esperar tanto tempo está a procurar carros seminovos, com menos de um ano. Neste mercado também há menos oferta do que habitualmente. "Muitos dos usados vinham das empresas de rent-a-car (aluguer de carros), que renovaram muito menos a frota neste ano", explica o secretário-geral da ACAP, Helder Pedro.
Nos concessionários, a Associação Nacional do Ramo Automóvel (ARAN) estima que o preço dos veículos em segunda mão esteja a subir mais de 10%. "Há dificuldade em arranjar stock e as grandes empresas têm de ir buscar carros ao estrangeiro", adianta o líder da associação, Rodrigo Ferreira da Silva.
Dados da ACAP indicam que a importação de usados aumentou 1,8% no último mês em comparação com o mesmo período de 2019.
Mesmo assim, há quem se esforce por não repercutir nos consumidores o aumento do custo dos usados.
"As nossas margens estão cada vez mais reduzidas para manter os preços competitivos", avisa Nuno Silva. O líder da Associação Portuguesa do Comércio Automóvel alerta que as pequenas empresas "têm mais dificuldades em comprar carros".
Se não quiser esperar tanto tempo para comprar um carro novo terá de esperar pelo próximo ano, antecipam os representantes de marcas e associações.