Portugueses gastaram mais 800 milhões em super e hipermercados
O mercado de bens de grande consumo mantém-se em alta, com a inflação a fazer sentir-se no bolso dos portugueses. Só nos primeiros dez meses do ano, foram já gastos 9811 milhões de euros nos hiper e supermercados, quase 800 milhões a mais do que em igual período do ano passado. Não porque as famílias estejam a comprar mais, mas porque os produtos estão mais caros.
Os dados são do Scantrends da NielsenIQ e mostram que, desde o início de março, as despesas em compras para o lar não mais pararam de crescer, agravaram-se em 10,4 pontos percentuais, com especial destaque para o período a partir do final de maio. Ou seja, passaram de um aumento homólogo de 3,8% em maio, para os 14,2% de outubro.
Embora o maior crescimento percentual se esteja a verificar nas bebidas não alcoólicas (+14%), é nos gastos em mercearia e laticínios (+11% em ambas as categorias) que o aumento de preços mais pesa no bolso dos portugueses, já que se trata das classes de produtos com maior relevância na cesta de compras.
Os artigos de mercearia, que no ano passado respondiam por 39,1% da fatura de supermercado, estão já a pesar 39,8%. Os laticínios passaram de 16,8% para 17,2%. Significa isto que, só em mercearia, as famílias gastaram 3905 milhões de euros este ano contra os 3528 milhões do período homólogo. Para os laticínios foram 1687,5 milhões, mais 171,5 milhões do que no ano passado.
Sem surpresa, os dados da NielsenIQ mostram um crescimento de 2,4 pontos percentuais nas compras das marcas da distribuição e de primeiro preço, as chamadas marcas brancas, que valem já 39,5% da fatura total do supermercado. No segmento alimentar, essa tendência é ainda mais acentuada, com os produtos de marca branca a atingirem um peso total de 46,3%.
"São quase três pontos percentuais que já mudaram de mãos. Estamos a falar de qualquer coisa como 500 a 700 milhões de euros que passaram das marcas de fabricantes para as de distribuição desde o início do ano", destaca o diretor-geral da Centromarca, a associação portuguesa de empresas de produtos de marca.
Pedro Pimentel antecipa um arranque de ano de 2023 "muito difícil", com a perda de poder de compra dos portugueses a acentuar-se. "Os primeiros meses vão ser seguramente complicados, até porque, o esforço que as famílias estão a fazer agora [com a aproximação do Natal] tem sempre reflexos nos meses seguintes. Janeiro e fevereiro vão ser meses maus", antevê.
No entretanto, a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) mantém-se atenta a este segmento de mercado, tendo anunciado ontem que instaurou 10 processos-crime por especulação de preços em super e hipermercados. Segundo o comunicado, foram identificados cereais, conservas, fruta, água, entre outros bens alimentares, "com variações de preço a atingirem os 30% relativamente ao preço afixado".
A fiscalização de 270 operadores levou, ainda, à instauração de 24 processos de contraordenação, com destaque para a "prática de ações comerciais enganosas e desrespeito das regras de afixação de preços", entre outros.