Portugueses esgotam hotéis para Natal e Passagem de Ano

Preços mais altos não travam a procura por diversão. Níveis de ocupação hoteleira superam os de 2019. Já não há vagas em unidades da Serra da Estrela, da Madeira, do Algarve e do Douro. Mercado nacional ganha força em quase todas as regiões do país.

Muitos são os portugueses que já contam os dias para levar o bacalhau à mesa de Natal e pedir, na semana seguinte, de passas na mão, os 12 desejos para o ano que se avizinha. Mas a tradição não encanta a todos - e a hotelaria, que a um mês da quadra festiva já tem unidades esgotadas por todo o país, agradece. Os preços mais altos não têm travado a procura, especialmente nas regiões da Serra da Estrela, Algarve e Madeira, que neste réveillon terão os seus hotéis lotados, sobretudo com clientes nacionais, avançam as entidades de turismo ao Dinheiro Vivo.

No ponto mais alto de Portugal, as projeções para o Natal e Ano Novo "são francamente positivas", confessa o presidente da Entidade Regional Turismo Centro Portugal (ERT Centro), Pedro Machado. A recuperação da região - que tem vindo a ser feita maioritariamente pelo mercado interno e que, em alguns casos, já ultrapassou os níveis de 2019 - faz antever uma forte capacidade de atração e bons números de reservas.

"Há muitas unidades que estão já a 100% e, as que não estão, para lá caminham", destaca. A expectativa de que a Serra da Estrela continue a "galvanizar muitos portugueses", à semelhança do que aconteceu no verão passado, está em linha com os dados apurados junto de alguns grupos hoteleiros. O Vila Galé, em Manteigas, e a Pousada Serra da Estrela (Pestana), na Covilhã, encontram-se lotados para a Passagem de Ano. No mesmo sentido segue o Aqua Village, em Oliveira do Hospital, com poucos quartos restantes, a preços acima dos 400 euros.

O responsável admite ter havido um aumento de preços, provocados pela subida dos custos operacionais, que estão, neste momento, entre 25% e 45% superiores ao período homólogo. Sendo esta a época alta da Serra da Estrela, as unidades estão a apostar fortemente nos pacotes para as celebrações. O programa de três noites no H2otel (Natura IMB Hotels), em Unhais da Serra, tinha um valor mínimo de 1050 euros por pessoa e, em outubro, já tinha esgotado. Ainda sem estimativa sobre o total de turistas aguardados para estas épocas, o presidente da ERT Centro garante que o mercado interno terá o maior peso, seguindo-se o espanhol, brasileiro e americano. Uma das novidades na região Centro tem sido o mercado asiático, nomeadamente sul-coreanos.

Pedro Machado diz que tem havido um investimento significativo na região, quer no alojamento, como na restauração, e que hoje está mais bem servida "por mais hotéis - de charme, familiares e boutiques - e restaurantes". O desafio da mão-de-obra, nomeadamente a mais qualificada, continua a ser uma constante e pode vir a caucionar a qualidade do serviço prestado aos turistas da região, alerta o responsável, apelando à tolerância dos turistas, uma vez que o setor está ainda em recuperação e a ganhar novamente a confiança dos mercados.

Região Sul em época baixa

Na região mais a sul do país, as perspetivas são também otimistas, já que o Algarve tem vindo a crescer na época baixa e também no período de Natal e Ano Novo, segundo o presidente da Região de Turismo do Algarve (RTA), João Fernandes. "As reservas estão com boas perspetivas, embora saibamos que a grande tendência é a marcação em cima da hora", refere. A estimativa de ocupação é 80%.

Hélder Martins, presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), admite que aquelas épocas "representam algum aumento da ocupação, mas sem um significado expressivo" face aos outros meses do ano. Porém, prevê que, no caso de "as condições climatéricas estarem agradáveis", este período registe uma operação equiparada ao tempo pré-pandemia.

Pelo Algarve, os preços também aumentaram, mas é preciso "atender à realidade de que os custos de produção da hotelaria, restauração e dos serviços em geral implicam um aumento do preço de venda durante todo o ano e em todos os destinos turísticos", explica João Fernandes. De acordo com o presidente da AHETA, as unidades hoteleiras já estão a comercializar os seus pacotes, especialmente para o final do ano, que têm tido "muito boa recetividade". Embora 75% da procura da região durante o ano seja externa, nas quadras festivas é expectável que os hotéis se encham de portugueses, tal como em anos anteriores. Contudo, são também aguardados turistas estrangeiros, oriundos dos Estados Unidos, Bélgica, Luxemburgo, Suíça e Irlanda.

Natal e réveillon a Norte

Os hotéis da região do Porto e Norte registam já um número de reservas "interessante", na ordem dos 70%, para a Passagem de Ano, e de 50% para o Natal, adianta o presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal (TPNP), Luís Pedro Martins, ressalvando que "estamos ainda a um mês das celebrações" e que é previsível que estes valores subam, superando níveis de 2019, tal como ocorreu ao longo do ano em determinados destinos. Do total de reservas efetuadas, 60% provêm do estrangeiro, com destaque para o mercado espanhol, francês, norte-americano e brasileiro.

É esperado que o Douro, que tem tido uma "fantástica" operação, com taxas de ocupação de 100% em diversas alturas, acompanhe a evolução também no próximo mês. Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador do grupo Vila Galé, avança que a unidade daquela região já está esgotada e que igual sucede na cidade Braga, onde também o Meliá, do grupo Hotihotéis, se encontra lotado, segundo o administrador Manuel Proença. Minho, Trás-os-Montes e Porto serão também pontos de grande atração, acredita o presidente.

Este período vai, considera Luís Pedro Martins, contribuir para "chegar ao final do ano e passar a meta do acumulado de seis milhões de hóspedes e 11 milhões de dormidas". As unidades da região estão, como o resto do país, a voltar em força com os pacotes de revéillon, uma vez que já não estão sujeitas aos constrangimentos da pandemia: "É um regresso às festas, há programas mais exuberantes na hotelaria, que se viu privada de fazê-lo durante dois anos", conclui.

Réveillon na Madeira

O Ano Novo da Madeira é um chamariz para os turistas, que anseiam por ver os fervorosos espetáculos de fogo-de-artifício. Este ano não será diferente. Ao momento, os hotéis da região já registam uma taxa de ocupação na casa dos 70% para os períodos de Natal e Passagem de Ano, antevendo a Secretaria Regional de Turismo e Cultura um aumento deste valor com o aproximar das datas. O Meliá do Funchal vai já, inclusive, com reservas na ordem dos 90%, sendo provável que esgote até 31 de dezembro.

"Tudo leva a crer que, no global, dezembro siga a tendência de crescimento do resto do ano, com a particularidade de as Festas de Natal e do Fim do Ano constituírem um marco importante na procura pelo destino Madeira desde sempre, entre os eventos que se realizam ao longo de todo ano", aponta a entidade. Para o mês que se avizinha, estão previstos 1227 voos para o aeroporto Cristiano Ronaldo - um aumento de 48% face ao período homólogo de 2019. Ao todo, estarão disponíveis 227 mil lugares.

Portugueses, ingleses, alemães, franceses e polacos serão os principais turistas a procurar a Madeira naquelas alturas, havendo expectativa de que o mercado espanhol, irlandês, italiano e norte-americano possam ter um melhor desempenho, atendendo aos voos diretos programados. A entidade regional prevê ainda que os turistas portugueses respondam no Natal e Fim do Ano de 2022 com mais força do que no ano anterior. Por via marítima, são esperados 20 mil passageiros na quadra de Natal, através de dez navios de cruzeiro, e 11 mil na Passagem de Ano, nos sete navios previstos, revela o secretário Regional da Economia, Rui Barreto.

Com R.S.

Jornalistas do Dinheiro Vivo

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