Portugal recebe primeiro showroom de produtos brasileiros para importação
Quem passar por um dos corredores do WOW, em Vila Nova de Gaia, verá o que parece ser uma loja colorida com produtos variados: chocolate, café, biquínis, vestidos, artesanato e doces que talvez sejam desconhecidos. É a Casa Brasiliana, o primeiro showroom de produtos brasileiros de origem em Portugal - todos sustentáveis.
Não é exatamente uma loja, mas sim um local que servirá como uma espécie de exposição para interessados em importar os mais diversos artigos do Brasil, especialmente os que muitos não sabem da existência. Segundo o idealizador Marco Lessa, o empreendimento partiu da necessidade de tornar mais competitivo e conhecido aquilo que é produzido em variadas regiões brasileiras.
"Esse projeto vem das dores dos pequenos produtores, que possui qualidade, sustentável, mas muitas vezes não consegue chegar ao mercado internacional, por motivos, seja o alto custo, burocracia ou mesmo a falta de uma oportunidade", explica ao DN. Lessa, empresário baiano que atua na área do cacau, desde 2009 participa de feiras do sector e rodadas de negócio, onde observou esta dificuldade "em muitos casos".
Desde então, pensou numa maneira de identificar uma solução. "Inicialmente imaginamos apenas num centro de distribuição, mas percebemos que precisávamos de um ambiente mais sofisticado, para realmente valorizar os produtos", ressalta. Em 2019 a ideia começou a tomar forma e agora está concluída numa primeira fase com a inauguração do espaço com os primeiros artigos já expostos.
Em meados de dezembro, um primeiro container vai sair do Brasil rumo à Portugal. A equipa já estudou maneiras de tornar o transporte mais barato, como, por exemplo, o uso de containers partilhados, com as despesas divididas.
O Porto, mais especificamente Vila Nova de Gaia, foi escolhido a partir da localização estratégica e condições de transportes, por ter porto e aeroporto, além de um custo mais baixo do que Lisboa. A sede servirá como uma base para o trabalho noutras partes da Europa.
A Casa Brasiliana terá diferentes formas de trabalho. A equipa participará em feiras pela Europa para apresentar a produção brasileira. Ao mesmo tempo, custeará missões empresariais até Vila Nova de Gaia para que conheçam o que a Casa Brasiliana oferece. A partir do momento que existir um comprador interessado, as duas partes serão postas em contacto para fechar negócios. "Nosso trabalho será intermediar, de uma forma profissional, fazer a ponte entre quem quer vender e quem quer comprar, para ver o Brasil nas prateleiras da Europa e do mundo", argumenta.
No Brasil, será realizada uma curadoria de Norte a Sul do país, em busca de mais produtos com capacidade de exportação. Na inauguração, já começaram conversações para que o showroom tenha móveis de alto padrão confecionados em Gramado, no Sul do Brasil.
O projeto também pretende actuar com apoio para internacionalização do que tiver potencial: "Se chegar até nós algo que não esteja pronto para exportar, nós também vamos ajudar a adequar, como melhorar a embalagem ou o que mais for preciso", relata Lessa.
O empreendedor ainda vê a exportação desse tipo de produto como uma oportunidade de mostrar como existe sustentabilidade no Brasil. "O cacau, por exemplo, emprega cerca de 700 mil pessoas no país e é a única cultura em que precisa conservar a floresta em pé para ter produção", conta.
A maior parte do que for exposto na Casa Brasiliana virá de pequenos produtores. "Isso é muito especial. Principalmente o agricultor familiar, bastante sofrido, é que menos usufrui daquilo que ele cria e tem responsabilidade. Queremos que ele seja motivado, não só financeiramente, mas com prestígio e reconhecimento".
Em segunda etapa, estuda-se a criação de um centro de distribuição em Portugal com alguns dos artigos para uma espécie de pronta-entrega para o restante da Europa. A escolha do que estará à venda vai partir de uma análise do comportamento consumidor. Marco já identificou que o cacau fino é um produto com potencial de venda em várias chocolaterias europeias.
Outras ideias também estão no horizonte, como a de criar parcerias para manufacturas, por exemplo. "Algo pode começar a ser feito lá no Brasil e ser finalizado aqui, junto com empresas portuguesas", salienta o empresário. A promoção do turismo de negócios ainda faz parte da estratégia, principalmente nos estados do Norte e Nordeste do Brasil.
amanda.lima@globalmediagroup.pt