Portugal e a bússola da inovação na construção do futuro

Countdown to Web Summit 2022 com António Costa Silva, ministro da Economia e do Mar.
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Portugal tem desafios importantes para a próxima década e o principal é a transformação do perfil produtivo da sua economia, a renovação da estrutura produtiva para a tornar mais competitiva, a inovação tecnológica para criar produtos e serviços de alto valor acrescentado e que possam ter um efeito multiplicador na economia. Esta transformação é essencial para fazer face às características menos positivas da economia portuguesa que é uma economia pequena, com um mercado interno limitado, um tecido produtivo ainda pouco diversificado, a subcapitalização crónica das empresas, uma divida pública elevada e a necessidade imperiosa do país captar mais investimento e aumentar a produtividade.

Para realizar esta transformação é essencial continuar a apostar na qualificação dos recursos humanos e nas competências dos trabalhadores; promover a capitalização das empresas e a mudança do seu paradigma de financiamento com um reforço dos capitais próprios; apostar na inovação com a intensificação da revolução tecnológica - a robotização, a automatização, a impressão 3D, a adoção em massa das tecnologias digitais; a melhoria do ecossistema de inovação com interfaces mais eficientes entre o sistema produtivo e o sistema cientifico e tecnológico; a melhoria da literacia financeira e de gestão; o apoio à internacionalização das empresas com uma maior dinâmica e expansão nos mercados externos e uma estratégia nacional de substituição das importações.

O futuro da economia portuguesa tem de passar necessariamente pela criação de condições para o país gerar mais riqueza alavancando a competitividade dos setores tradicionais e consolidando os emergentes. Tem de passar pela criação de novos motores de desenvolvimento da economia e pelo reforço da capacidade de industrialização e autonomia estratégica. Tem de passar pelo aumento da produtividade, que tem estado estagnada. Tem de passar pelo aumento da eficiência na utilização dos recursos e da energia. Tem de passar pela maior incorporação de conteúdo nacional nos produtos exportados e pela subida nas cadeias de valor com maior inserção das empresas portuguesas nos mercados internacionais.

A transformação do perfil produtivo da economia portuguesa, a progressão nas cadeias de valor, a criação de novos produtos e serviços de alto valor acrescentado, não se faz sem o reforço da inovação e a aceleração da transformação tecnológica e digital das empresas portuguesas. E o que se passa a esse nível no país é notável.

Nos últimos dez anos Portugal é um dos países do mundo que mais tem subido no registo de patentes. Em 2021 esse registo cresceu 13%. O valor das empresas tecnológicas portuguesas que correspondia a 1% do PIB em 2015, alcançou 37 mil milhões de euros em 2021, o que corresponde a 18% do PIB. O investimento de capital de risco na inovação e desenvolvimento tecnológico que era de 20 milhões de euros em 2015 atingiu 1100 milhões de euros em 2021. Entre os 10 unicórnios que existem no sul da Europa sete nasceram em Portugal. Portugal está a caminho de se afirmar como uma "Startup Nation" e a escolha do país pela União Europeia para aqui sediar a Agência Europeia de Startups, a ESNA, é mais um passo nesse caminho internacional de afirmação.

Portugal conta hoje com um ecossistema de mais de 2200 startups, que é vibrante mas precisa de mais financiamento, mais ligação às redes de investimento internacionais, mais apoio em múltiplas dimensões, sobretudo na fertilização cruzada com o tecido produtivo.

A inovação não depende do tamanho de um país ou da sua geografia física. Depende do tamanho das ideias e da geografia mental. O segredo da inovação é perceber que não há especialistas daquilo que virá no futuro. Há especialistas naquilo que se faz hoje e que podem ter uma visão sobre a projeção do que se faz hoje no futuro e na transformação dos paradigmas existentes.

É por isso que no domínio da inovação é preciso ousar fazer e ousar pensar, ter tolerância com o fracasso, aceitar o risco e trabalhar com um quadro mental em que não entra a complacência, o conformismo e o cinzentismo. Nenhum pessimista é construtor de futuro. Nenhum conformista é construtor de futuro.

As jovens gerações de empreendedores portugueses entendem este quadro mental e estão do lado da inovação. Se o país e o governo conseguirem criar as condições institucionais e macroeconómicas adequadas, com as políticas e os incentivos certos, desde logo com uma nova lei para as startups que reforce a posição de Portugal no mapa da inovação e da atração do investimento e do capital de risco, vamos conseguir afirmar ainda mais o país como "Startup Nation" do século XXI. O futuro de Portugal no século XXI vai depender de conseguirmos ensinar os nossos jovens a criar empresas e de não terem medo de apostarem em ideias inovadoras. A história da espécie humana mostra que uma ideia pode mudar o mundo. E o século da sustentabilidade, do casamento da economia com a proteção do ambiente e da biodiversidade, o século da digitalização, da Inteligência Artificial e do tratamento de dados, o século da transformação energética e da mudança do paradigma das cidades, o século da mudança do modelo de produção e consumo, esse século está à espera das ideias que vão mudar o mundo.

NOVA RUBRICA

Countdown to WebSummit 2022 é uma nova rubrica no Diário de Notícias, que antevê algumas das tendências que vão marcar o próximo encontro mundial das startups no final de outubro, em Lisboa. Até à semana do evento, estarão em análise as oportunidades e os desafios dos investidores, os exemplos inspiradores e as novidades que vão marcar a agenda dos empreendedores nacionais e mundiais. O palco passa por aqui, com a reflexão de especialistas numa nova série de artigos de opinião. O artigo hoje publicado tem a assinatura de António Costa Silva, ministro da Economia e do Mar.

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