Peças de ouro e prata entradas na Contrastaria aumentaram 72% nos dois últimos anos

Há também cada vez mais profissionais habilitados para a atividade, com o comércio <em>online</em> a contribuir para estimular o setor. Balanço no aniversário de uma instituição que defende o consumidor desde o século 13
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Os brincos de prata e de ouro são as peças que a Contrastaria Portuguesa mais recebe para certificar, isto é, para apor um cunho, sempre discreto, sem o qual nenhuma peça de metal precioso pode chegar às mãos do consumidor. Não sabemos se para trás os gostos dos portugueses seriam iguais, mas o certo é que a certificadora faz isto desde o século 13, embora os serviços tenham passado para a Imprensa Nacional Casa da Moeda há 140 anos, um marco que se assinala na próxima quarta-feira, num momento em que os números da atividade são animadores.

A dinâmica vê-se à vista desarmada: à Contrastaria chegaram 2,6 milhões de peças de ouro e prata no 1.º semestre deste ano, um crescimento de 72% face à primeira metade de 2020, fase do arranque da pandemia.

A manter-se o ritmo, e tendo em conta a sazonalidade que, por causa do Natal, beneficia o 2.º semestre, Paula Pedro, diretora do organismo, acredita que a atividade da instituição possa aproximar-se dos valores de 2019, quando entraram 5,7 milhões de peças na totalidade do ano.

Uma leitura focada apenas nas peças de ouro, em médias diárias de entradas no 1.º semestre de 2022 (3642) para cunhar, em comparação com as médias diárias dos primeiros seis meses de 2020 (821), obtém-se uma subida de 344%, permitindo assim festejar com garbo os 140 anos do decreto assinado por D. Luís I para a mudança de tutela da Contrastaria, afinal, "o serviço mais antigo de defesa do consumidor", como diz Paula Pedro.

Estamos a falar de um total de nove milhões de peças, entre 2020 e 2022, qualquer coisa como duas toneladas de ouro e mais de 21 toneladas de prata. Além dos brincos, os colares surgem em segundo lugar, depois as pulseiras e, por fim, os anéis e as alianças. Sem falar das salvas, dos candelabros, das jarras... que também têm de passar pela certificadora.

​​​​​O número operadores no setor também não parou de subir. Em 2019 eram 850. No ano da chegada da covid, subiram para 955. No ano passado, ascenderam a 1131 e, agora, que o ano ainda vai a meio, já estão registados 956. De junho de 2020 a junho de 2022, entregaram obra na Contrastaria 1617 operadores, o que já aponta para uma quase duplicação face a 2019.

Olhando para trás, Paula Pedro atribui o boom de operadores registados em 2021 ao crescimento do comércio online, muito associado ao segundo grande confinamento pandémico, tendo em conta que, mesmo quem tem lojas físicas precisa de um título de atividade da Contrastaria para operar via internet.

A obrigação legal do contraste aplica-se, nomeadamente, a todas as peças de ouro com mais de 0,5 gramas e a todas as de prata com mais de dois gramas. "Sem isso, nem nas feiras podem ser vendidas."

"Foram dois anos para o setor se reinventar e recuperar a atividade", comenta a dirigente, ciente de ter impulsionado algumas medidas para revitalizar a ourivesaria e joalharia, um setor com 4300 empresas (nem todas precisam de estar tituladas, só as que colocam as peças no mercado), mais de 11 mil trabalhadores e que movimenta cerca de 1200 milhões de euros por ano, de acordo com dados de 2020, reportados pelo organismo.

A modernização das instalações, com a criação e um polo tecnológico que serve de incubadora, foi uma das novidades. A par disso, houve a preocupação de desmaterializar os processos, a ponto de já não ser preciso ao operador deslocar-se à Contrastaria.

"Desenvolvemos um site para que o agente possa seguir a sua obra; disponibilizámos um serviço de transporte seguro, que durante um ano foi gratuito, desde setembro de 2020, e reduzimos os tempos de espera: este ano, já conseguimos que mais de 50% das obras tenham sido entregue em menos de cinco horas", detalha Paula Pedro.

Do lado dos custos, também houve mudanças. "Por portaria de julho de 2020, houve uma redução das taxas cobradas, em função do peso das peças, que passou a ter um custo residual, na ordem dos 15 cêntimos por peça, em média, para dar ao operador alguma margem financeira e dentro do é que o serviço público, para dar ao cidadão a garantia da compra de um bem seguro."

Outra facilidade consistiu em permitir ao operador levantar a peça e poder pagar o serviço em 60 dias, algo até aí impossível. Só se podia levantar a peça mediante pagamento.

A Contrastaria passou também a oferecer serviços adicionais: além da marca do contraste (atesta o toque), também apõe a marca da responsabilidade (atesta o operador), por uma "valor simbólico", com "ganhos de eficiência para o cliente", defende a gestora.

Com três instalações no país - Lisboa, Porto e Gondomar -, onde emprega 80 pessoas, a certificadora nacional passou ainda a oferecer o serviço de desalfandegagem, ainda só disponível na Alfândega do Porto, onde levanta as peças, faz a marcação e entrega-as ao cliente. A oferta a norte justifica-se uma vez que só o polo do Porto e Gondomar concentram 86% de toda a operação da Contrastaria.

Mas, em assuntos de ouro, a tradição em Portugal está inalterada. Segundo Paula Pedro, mantém-se a preferência pelo ouro de 19,2 quilates, uma terminologia em desuso, agora substituída pela expressão: ouro com toque 800. "Significa que, numa liga metálica de mil, 800 partes dessa liga são de ouro puro." Na última semana, por exemplo, Paula Pedro revela que nas instalações de Gondomar, das 4105 peças de ouro entradas em média diária, 3269, ou seja, 80%, eram de ouro de 800, o tal ouro português.

"Todos os lotes que recebemos são ensaiados e é-lhes confirmado o chamado toque legal, que atesta o tipo de metal e a quantidade". E, diz a gestora, " o índice de rejeição dos lotes é muito pequeno, o que indica que os operadores estão a trabalhar com fornecedores seguros".

Na sua esmagadora maioria, os operadores titulados e que levam as peças para contrastar na Contrastaria Portuguesa são portugueses, mas o mercado de origem da produção das peças varia.

Das peças contrastadas em Portugal, quer em termos de peso do metal quer por número de peças, 50% foram produzidas em Portugal, 33% foram produzidas na União Europeia e comercializadas em Portugal, e as restantes 17% foram importadas de países do resto do mundo para serem comercializadas em Portugal, de acordo com dados da instituição.

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