Pandemia deu confiança aos investidores. Há mais 9 projetos de retail parks
Os retail parks - espaços comerciais abertos, com lojas de grandes dimensões de acesso direto do exterior e parque de estacionamento - estão em franco crescimento no país, movimento alavancado na resiliência que o conceito demonstrou no período mais agudo da pandemia da covid-19. Segundo dados da consultora imobiliária CBRE, há neste momento quatro projetos em construção e outros cinco em comercialização, que deverão iniciar as obras em breve. Nos próximos anos, a oferta deste formato comercial será reforçada com mais nove espaços, num total de 108 mil metros quadrados de área acumulada. Atualmente, contam-se 36 retail parks em operação no país, com uma área total de 430 mil metros quadrados.
Ainda este ano, deverão ser inaugurados o Estoril Retail Park e o Vila Retail Park, em Ponte de Lima, e com conclusão prevista para 2022 estão o Alagoa Retail Park, em Carcavelos, e o Sudoeste Retail Park, no Algarve. Por razões de confidencialidade, a CBRE não disponibiliza o valor dos investimentos nos ativos em desenvolvimento e em comercialização, mas é certo que o orçamento num projeto desta natureza está muito indexado à sua dimensão e localização. A título de exemplo, refira-se que o Sudoeste Retail Park, em Silves, com uma área total de construção de 14.523 metros quadrados, representa um investimento de 25 milhões de euros a concluir até ao verão do próximo ano. O empreendimento terá seis espaços comerciais independentes em torno de uma praça central, e a previsão aponta para a criação de 500 postos de trabalho. Já o Vila Retail Park, em Ponte de Lima, que deverá ficar pronto até ao final deste exercício, terá um custo da ordem dos sete milhões de euros. São nove mil metros quadrados de área, para onde estão previstas 20 lojas.
Atualmente, dos 36 retail parks em operação no país, 13 estão concentrados na região Norte, 12 no Centro, a Área Metropolitana de Lisboa contabiliza sete, enquanto o Algarve e o Alentejo têm duas unidades cada. Os belgas da Mitiska são os investidores que detém um maior número destes empreendimentos em Portugal, um total de seis, sendo que é um produto que tanto atrai promotores internacionais, como nacionais e regionais.
Confiança no formato
Tanto os consumidores portugueses como os investidores dão mostras de confiar no futuro deste formato comercial. Os planos para o crescimento deste conceito no país mantêm-se em alta, ao contrário do que sucede nos tradicionais centros comerciais, onde os investimentos esperados limitam-se a expansões e melhorias. A crise pandémica também trouxe ao de cima os atributos dos retail parks num contexto de rigorosas restrições de acesso a espaços comerciais. Como sublinha Luís Arrais, Retail Property Management Director Iberia da CBRE, "o segmento dos retail parks foi a tipologia de ativos mais resiliente aos efeitos negativos da pandemia" e isso deveu-se a vários fatores: "lojas grandes, com maior capacidade para receber clientes dentro das medidas impostas pelo Governo de cinco pessoas por 100 metros quadrados, porta aberta para o exterior, e um mix de lojas de conveniência, como as do ramo alimentar, mobiliário, DIY (do it yourself, ou faça você mesmo, em português) desporto ou eletrónica".
João Esteves, Associate do departamento de retalho da Cushman & Wakefield, também não tem dúvidas que "os retail parks provaram ser uma proposta de valor resiliente e demonstraram um melhor desempenho quando comparado aos demais formatos de comércio". Como sublinha, "os consumidores procuram lugares seguros e de extrema conveniência que ofereçam a possibilidade de chegar de carro a uma zona de estacionamento exterior com acesso direto à loja e com a confiança de que podem fazer compras em grandes espaços, o que tem favorecido fortemente o formato".
Para demonstrar a resiliência deste conceito, Luís Arrais recorda que, em 2020, a quebra de visitantes nos retail parks rondou os 12% face a 2019, já o mercado português de centros comerciais recuou 34,9%, segundo os dados do Índice Footfall. E relativamente às vendas comparáveis, registaram uma retração de apenas 10,5% face aos valores de 2019. O responsável adianta ainda que, no primeiro semestre deste ano, apesar do período de confinamento, "o número de visitantes dos retail parks recuou só 9%, enquanto o mercado nacional registou uma quebra de aproximadamente 14%" quando comparado com o homólogo. No que toca às vendas, "apresentaram uma trajetória de recuperação mais acentuada do que outras tipologias de ativos de retalho, atingindo um crescimento acumulado de 11,5%" nos primeiros seis meses de 2021 em termos comparáveis, com os shoppings a apresentarem um aumento de 2,7%.
Como também sublinha João Esteves, os setores de atividade que integram os retail parks "foram os que maiores crescimentos de vendas registaram durante a pandemia", de que são exemplo retalhistas do alimentar, desporto, decoração, lar e bricolage, "todos considerados de bens essenciais não tendo por isso sido obrigados a encerrar portas durante o período de confinamento".